Cotidiano

Desemprego entre jovens no Amapá bate recorde no último ano





 

População de 14 a 24 anos representa quase que todo esse contingente de pessoas atualmente sem um emprego.

 

“Tenho percebido que o desemprego aumentou bastante e tem toda uma exigência para conseguir um emprego”. A declaração é da amapaense Bárbara Liara Melo Tomaz, de 20 anos. Depois de ficar sem ocupação e ir atrás de um novo trabalho, só viu as portas abrirem após apresentar um diploma de curso técnico do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI). A educação e a qualificação são base para a competitividade e falta dos dois, aliada a poucas oportunidades, pode influenciar na alta taxa de desemprego no Amapá. O estado é o primeiro no ranking de desemprego no país. No segundo trimestre deste ano, registrou 21,3% de desocupados, sendo que a população de 14 a 24 anos representa quase que todo esse contingente de pessoas atualmente sem um emprego.

Em janeiro, o Amapá já tinha sido lembrado pelo mesmo motivo. Foi o terceiro estado com mais jovens desempregados no país no terceiro trimestre de 2017. Na época, o levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou que de cinco jovens entre 18 a 24 anos, dois estavam desocupados, no auge da força de trabalho. Os números, que só crescem, trazem preocupação para o estado e um impacto social sentido, entre outros aspectos, no da violência. O Amapá está entre as sete UFs com maiores taxas de homicídios por 100 mil habitantes, segundo revelou o Atlas da Violência 2018, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

No terceiro trimestre de 2017. O Amapá tinha 39,4% da população entre 18 e 24 anos sem emprego. A taxa de jovens que não contribuem para a produtividade do estado, neste segundo trimestre de 2018, subiu para 47,5%.

“Quando comecei no SENAI estava desempregada e foi por lá que consegui meu emprego que estou até hoje. Muitos colegas tiveram dificuldade, eu também tive, mas consegui terminar. Hoje estou qualificada e empregada”, afirma Bárbara. A jovem não reflete, porém, a realidade do estado. Para ela, que é formada em panificação e confeitaria pelo SENAI, é preciso que haja empenho dos alunos, mas também compreensão por parte dos empresários.

“Alguns colegas não conseguiram [emprego] porque empresas queriam estagiários em tempo integral. Às vezes perdemos oportunidade por conta do empresário não aceitar essa grade. Disponibiliza [SENAI] os cursos, mas precisamos da contrapartida do empresário de nos acolher como aprendiz de lá”, pondera ela.

Segundo a diretora de operações do SENAI do Amapá, Alyne Vieira, outro fator que favorece o crescimento do desemprego é a característica de funcionalismo público do estado. O comércio não gira e a indústria ainda não está aquecida.

Para piorar, segundo Alyne Vieira, até a oferta de concursos públicos tem diminuído. “O comércio não gira, a indústria ainda tem pouco gás, não tem cenário industrial muito forte, então, a população carece muito. Daí a importância dos cursos técnicos, trazendo esse tema do empreendedorismo, porque a gente capacita, mas nada impede de começar a ter seu negócio, e se desenvolver como prestador de serviço, autônomo, para que vá girando se não estiver necessariamente posicionado dentro da empresa. Pode prestar serviço à empresa. As indústrias estão terceirizando”, comenta a diretora.

Juventude produtiva

O empoderamento dos jovens é uma das propostas da Confederação Nacional das Indústrias (CNI), por meio do estudo Educação: a base para a competitividade. Melhorar a matriz educacional, qualificando mais os jovens, e a ponte para a independência intelectual e produtiva deles. Segundo o diretor-geral do SENAI, Rafael Lucchesi, é preciso melhorar o diálogo do país com a educação para os jovens.

“A visão nossa, da Confederação Nacional da Indústria, vai muito nessa direção de estabelecer uma agenda que seja importante para a realidade brasileira, para os problemas que nós temos hoje de juventude no país. Nós temos um elevado grau de desemprego na população aberta, que está acima de 12%, mas entre os jovens, ele se aproxima de 30%. Então nós temos um grande contingente de jovens que é vítima exatamente dessa baixa capacidade de diálogo entre o nosso modelo educacional e as opções e projetos de vida dos jovens que passam pela escola”, afirma Lucchesi.

A 11ª meta do Plano Nacional de Educação (PNE) é, justamente, triplicar as matrículas da Educação Profissional técnica de nível médio, assegurando a qualidade da oferta e pelo menos 50% (cinquenta por cento) da expansão no segmento público. A ideia também é defendida pelo setor produtivo e foi encaminhada aos candidatos à presidência da república para ser posta em prática nos próximos quatro anos.

Para o Jairo Eduardo Borges Andrade, professor e pesquisador do Departamento de Psicologia Social e do Trabalho da Universidade de Brasília (UnB), é preciso trabalhar não só para ensinar uma profissão, mas também para tornar o indivíduo capaz de aprender coisas novas. “Não é só tornar o indivíduo capaz de fazer as coisas que precisam ser feitas, agora, no mercado de trabalho, porque rapidamente o sujeito vai ficar defasado. Tem que investir é no aprendizado que permita o indivíduo aprender novas coisas e saber aonde é que ele tem que buscar aprender coisas. Você tem dados sistemáticos que mostram que pessoas que têm mais qualificação profissional têm mais probabilidade de conseguir um trabalho e também de conseguir trabalhos melhores”, frisa o professor.

Por Camila Costa