Política

Bolsonaro diz que vacina não será obrigatória e que covid 'veio para ficar'





O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse hoje que o vírus da covid-19 veio para ficar e que não irá obrigar 'ninguém a se vacinar', mesmo diante de alertas de especialistas sobre o risco de uma terceira onda de infecções.

A declaração feita em entrevista a uma rádio do estado de Alagoas ocorre cinco dias após o chefe do Executivo federal afirmar que a pandemia 'está chegando ao fim'.

Ontem, Bolsonaro adiantou que o Ministério da Saúde está na iminência de aprovar que o uso de máscaras passe a ser opcional no país. Durante a entrevista de hoje à Rádio Farol, de Alagoas, o presidente voltou a sinalizar a mesma intenção.

Não obrigaremos ninguém a tomar vacina, esperamos que até dezembro toda a população acima dos 18 anos seja vacinada e que entremos na plena fase de normalidade no nosso BrasilJair Bolsonaro

A pandemia já foi minimizada outras vezes pelo presidente. Em abril de 2020, Bolsonaro já havia dito que estava "começando a ir embora a questão do vírus", repetindo em outubro do mesmo ano que a pandemia estava "acabando". Em dezembro, segundo ele, o Brasil vivia o "finalzinho" da crise sanitária.

Especialistas em saúde afirmam que mesmo com o avanço da vacinação, o cenário ideal para evitar uma nova onda da pandemia inclui o uso de máscaras e o distanciamento social.

A fala de Bolsonaro coincide também com o registro de três dias de queda no indicador de óbitos na semana: foram 766 óbitos em média nos últimos sete dias. O dado por si só, no entanto, não implica em um cenário de queda na curvas de infecções. Até ontem, o Brasil contabilizava 574.944 óbitos em decorrência da covid-19.

O ex-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) Gonzalo Vecina Neto disse ao UOL News que uma terceira onda da pandemia poderá ocorrer no Brasil devido à variante delta.

"Nós estamos olhando o Hemisfério Norte, estamos vendo o que está acontecendo com a variante delta lá. Não querer enxergar isso é olhar apenas para um conjunto de parâmetros, particularmente políticos", avaliou.

Avanço das imunizações

Ontem o país chegou a 26% da população completamente vacinada contra o vírus, o que representa 55 milhões de pessoas.

O levantamento é do consórcio de veículos de imprensa do qual o UOL faz parte, com base nas informações fornecidas pelas secretarias estaduais de saúde.

Até o ontem, 58% da população do país recebeu a primeira dose e aguarda a segunda. Isso equivale a 122,8 milhões de pessoas.

O estado onde a vacinação está mais avançada é São Paulo, onde 71% da população tomou a primeira dose. Já Mato Grosso do Sul lidera entre os estados com mais pessoas completamente imunizadas contra a covid-19: 40,7%.

“Massa de manobra”, diz Bolsonaro sobre manifestantes indígenas em Brasília

O presidente Jair Bolsonaro disse nesta 3ª feira (24.ago.2021) que os integrantes do acampamento indígena “Luta Pela Vida”, instalado em Brasília desde o início da semana, são “massa de manobra”. Deu a declaração a apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada.

O movimento busca barrar a aprovação de projetos do que consideram a “agenda anti-indígena” do Congresso e do Governo Federal. Também acompanharão um julgamento do STF (Supremo Tribunal Federal) sobre a demarcação de terras indígenas.

“Esse pessoal é — a questão do índio vou falar, tenho uma entrevista agora — eles são massa de manobra, são usados. O pessoal do MST, também, a maioria é usada. Pessoas que vivem aí de esmola e mentiras da esquerda”, disse Bolsonaro.

O presidente completou: “Dizem que vem tratar aqui de um tal de marco temporal, vou explicar daqui a pouco. [Apoiador diz que querem intimidar] Vai intimidar não. [Apoiador diz que não tem nem 1.000 índios] Não, tem bastante. Pela organização, está sendo bancado por uma ONG, talvez por um órgão qualquer. O objetivo é tumultuar”.

Lideranças indígenas ouvidas pelo Poder360 disseram que este é um ano“crucial” para a causa. Eles consideram que 2022, por ser ano eleitoral, será mais difícil para o governo aprovar medidas contra o segmento.“Esse é o ano em que devemos concentrar esforços, porque ele [Bolsonaro] vai tentar passar tudo. Por isso trouxemos o acampamento para o mês de agosto, para fortalecer a luta política”, disse Toya Manchineri, articulador político da Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira).

O ACAMPAMENTO

Em barracas de camping, debaixo de lonas suspensas por armações de bambu, ou em tendas, cerca de 5.000 indígenas acampam na Praça da Cidadania, próxima ao Teatro Nacional, em Brasília.

Organizado pela Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) e entidades regionais, o acampamento reúne integrantes de 117 povos indígenas brasileiros.

O local em que estão acampados fica às margens do Eixo Monumental, no começo da Esplanada dos Ministérios. Trata-se de uma movimentação que coloca mais pressão no clima político do país, em meio a uma escalada de tensão entre o presidente Jair Bolsonaro e ministros do Supremo.

No local há uma tenda central, com um palco onde lideranças e personalidade políticas discursam.  Ali também são realizadas plenárias sobre a conjuntura política, e apresentações culturais, com a exibição de danças e cantos tradicionais.

Segundo a Apib, há 117 povos indígenas representados no acampamento Sérgio Lima/Poder360 – 23.ago.2021

Como medida de proteção à covid-19, a orientação é para que todas as delegações façam o teste para a doença, disponível em uma outra tenda. Há uma equipe de saúde, formada por profissionais indígenas em parceria com instituições como a Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva), a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), e a UnB (Universidade de Brasília). Nos momentos de atividades, nas tendas, há aglomeração de pessoas.

A alimentação está sendo providenciada por uma empresa contratada, com a ajuda de voluntários. São servidas pelo menos 3 refeições ao dia. Grupos menores também preparam por conta própria o alimento, em cozinhas do acampamento. Também foi montada uma estrutura para banhos e instalados banheiros químicos.

Marco temporal

O principal foco da mobilização indígena em Brasília será o julgamento do RE 1017365. A Apib considera o caso “mais importante do século” sobre a vida dos povos indígenas. O processo é o 2º item na pauta do STF. Foi retirado do plenário virtual a pedido do ministro Alexandre de Moraes. Quase foi julgado em junho, mas acabou adiado para o 2º semestre.

Os ministros discutirão a tese de um “marco temporal” –no qual os indígenas só poderiam reivindicar as terras que já ocupavam na data da promulgação da Constituição, em 5 de outubro de 1988. O STF avalia também se o reconhecimento só é válido depois do término do processo de demarcação pela Funai. O julgamento tem repercussão geral.

O caso concreto em análise refere-se a uma ação de reintegração de posse movida pelo Governo de Santa Catarina contra o povo Xokleng, da Terra Indígena Ibirama-Laklãnõ. No local também vivem povos Guarani e Kaingang.

Colaboradora da Apib, Ana Patte é indígena do povo Xokleng. Ao Poder360, disse que há conflitos e invasões no território alvo do processo. “Muitos descendentes de imigrantes alemães e italianos alegam que estão lá com as famílias há mais de 100, 150 anos. Mas a gente estava lá há muito mais tempo antes disso”. 

De acordo com Patte, agricultores que vivem ao redor da área usam agrotóxicos em lavouras de fumo, o que polui os rios que atravessam a terra ocupada pelos indígenas. “A gente não tem mais peixes como tinha antes”,afirmou.

Fonte: UOL - Poder360