Política

Motoboy diz à CPI que frequentava Ministério da Saúde, mas nega relação com ex-diretor





Ivanildo Gonçalves da Silva afirma que chegou a entregar pen drive no quarto andar, onde atuava então diretor de logística

Em depoimento à CPI da Covid, o motoboy da VTC Log e da Voetur Ivanildo Gonçalves da Silva confirmou que esteve nas dependências do Ministério da Saúde, mas afirmou que se tratava da sua atividade de entregar boletos de pagamentos.

Disse também não conhecer ninguém no ministério, mas que determinava vez precisou entregar um "pen drive" no andar em que atuava o ex-diretor da Saúde Roberto Ferreira Dias.

O motoboy também disse que não se lembrava quem eram os beneficiários dos boletas que precisava pagar nas agências bancárias ou das pessoas ou empresas para quem realizava depósitos. Ele também negou que tenha entregado "em mãos" recursos da empresa para outras pessoas.

O motoboy foi incluído de última hora na pauta da CPI, um dia após não ter comparecido por estar amparado por um habeas corpus que lhe dá o direito a permanecer calado ou mesmo de não prestar depoimento.

Ivanildo Gonçalves da Silva compareceu à comissão espontaneamente e com a anuência da diretoria da VTC Log, empresa investigada pela comissão.

O presidente Omar Aziz (PSD-AM) afirmou na abertura da sessão que a mesa diretora da comissão recebeu um telefonema da CEO da empresa, Andréia Lima, que se colocou à disposição para prestar depoimento e também informou que o motoboy também poderia comparecer.

A iniciativa gerou desconfiança entre os senadores de que o motoboy teria acertado com seus ex-chefes as informações que divulgaria.

O motoboy entrou no radar da CPI após relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) enviado à comissão mostrar que ele realizou diversos saques para a VTC Log, em um total de R$ 4,7 milhões.

A CPI suspeita que os recursos sejam usados para pagar propina para agentes públicos.

Ivanildo Gonçalves da Silva disse que costumava frequentar o prédio do Ministério da Saúde, quando tinha a função de entregar boletos. Afirmou não conhecer ninguém no ministério, mas se recordou de determinava ocasião em que entregou um "pen drive no quarto andar".

O vice-presidente Randolfe Rodrigues (Rede-AP) então apontou que no quarto andar funciona o departamento de logística, onde atuava o ex-diretor Roberto Ferreira Dias.

"Quando eu realizava o serviço de entregar faturas, eu andava constantemente no Ministério da Saúde. Eu não conhecia ninguém. Eu ia em salas entregar faturas, de setores em setores", disse

Questionado especificamente sobre Dias, respondeu que não o conhecia e que não lembrava de ter pagado boletos em seu nome.

O motoboy afirmou que chegou a sacar R$ 430 mil para a VTC Log na boca do caixa, de uma única vez. Ivanildo Gonçalves da Silva foi questionado se pagava fornecedores ou entregava recursos para alguém, mas negou que fosse sua atribuição.

"Eu não cheguei a entregar dinheiro nas mãos para ninguém. Eu pagava os boletos, às vezes fazia depósitos. Não tenho conhecimento de alguém específico para poder fazer esse pagamento", afirmou. Ele citou como exemplo "boleto de combustível" e faturas de cartões de sócios da empresa.

Ivanildo Gonçalves também disse que não se lembrava de quem eram os boletos pagos ou os nomes para quem fazia depósitos.

Durante a sessão, o advogado do depoente foi repreendido diversas vezes por Aziz, por acusação de orientar o motoboy e retirar o microfone para que ele não respondesse espontaneamente.

"O senhor não toque mais no microfone. Deixa ele responder", disse o presidente da comissão.

Logo no início da sessão, o relator Renan Calheiros (MDB-AL), perguntou se o depoente poderia ceder o telefone para consultas durante a sessão. Inicialmente, Ivanildo Gonçalves da Silva havia concordado. No entanto, mudou de opinião após manifestação do advogado de defesa.

A ligação entre a VTC Log e Dias foi reforçada recentemente pela CPI, que desconfia de pagamentos de propinas. Em sessão na terça-feira (31), os senadores da comissão veicularam vídeos do motoboy presente em uma agência bancária no exato momento em que boletos em nome de Roberto Ferreira Dias eram pagos.

Roberto Ferreira Dias era diretor de logística do Ministério da Saúde.

Ele acabou exonerado no mesmo dia em que a Folha publicou reportagem, com a denúncia do policial militar Luiz Paulo Dominghetti que afirmou ter recebido pedido de propina de US$ 1 por dose de vacina, para avançar a negociação de 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca.

A comissão tem em mãos documentos que mostra que a Voetur - subsidiária da VTC Log - emitiu nove boletos em nome de Dias, em um total de R$ 47 mil.

Os vídeos e imagens do sistema de segurança interno dos bancos mostram pelo menos quatro datas em que o motoboy esteve em agência bancária, quando sete desses nove boletos foram pagos.

Para os senadores, as transferências podem ser uma tentativa de camuflar supostas propinas pagas a Dias pela VTC Log, que tinha contratos com o ministério, por meio de sua subsidiária Voetur.

"Eu queria comunicar a esta Comissão Parlamentar de Inquérito e comunicar ao Brasil que nós acabamos de receber indícios veementes de que era o próprio Ivanildo, o motoboy [da VTC Log], que pagava os boletos de dívidas junto à Voetur do Roberto Ferreira Dias", afirmou o relator, Renan Calheiros (MDB-AL).​

Em nota, a empresa Voetur afirmou que nunca efetuou pagamentos ou transferências em nome de Dias.

A VTC Log ainda acrescentou que Dias é um cliente da Voetur, e não um credor do grupo, não tendo, assim, nada a receber. Porém a empresa admitiu que Dias está inadimplente com a agência de viagens, sem dar detalhes.

Ivanildo Gonçalves da Silva deveria ter comparecido para depoimento na terça-feira, mas obteve um habeas corpus do Supremo Tribunal Federal que lhe garantiu o direito de não prestar depoimento na comissão ou então permanecer em silêncio.

No mesmo dia, a cúpula da comissão informou que iria recorrer da decisão e aprovou novo requerimento de convocação.

Inicialmente, a sessão desta quarta-feira (1º) seria destinada para ouvir o advogado Marcos Tolentino, amigo do líder do governo Bolsonaro na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR).

Tolentino também é apontado como sócio oculto do FIB Bank, empresa que deu a garantia para a compra da vacina indiana Covaxin pelo Ministério da Saúde.

O contrato acabou cancelado, após o surgimento de uma série de irregularidades.

O vice-presidente da CPI, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), informou em suas redes sociais que Tolentino foi internado por causa de sequelas da Covid-19 e por isso não compareceria.

Omar Aziz (PSD-AM) desconfiou da justificativa e disse que vai pedir oficialmente ao Sírio Libanês o quadro do paciente e se realmente há necessidade de internação.

O presidente da comissão afirmou ter tido informações de que Tolentino se encontrava bem até a noite anterior à data programada de seu depoimento.

"Possível que seja tudo verdade, mas também é possível que a gente desconfie desse tipo de comportamento", disse. "Pode fugir hoje, mas amanhã estará aqui", completou.

Renan Calheiros também informou durante a sessão que vai acrescentar nove novos nomes para a lista de investigados formais pela comissão, entre eles o ministro do Trabalho e Previdência, Onyx Lorenzoni.

Também constam na lista o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), apontado como um dos líderes do chamado gabinete paralelo; o empresário Luciano Hang; e a diretora da Precisa Medicamentos Emanuela Medrades.

Nova lista de investigados na CPI tem Osmar Terra, Luciano Hang e mais 27 nomes

Ministro do Trabalho, Onyx Lorenzoni, e deputado Osmar Terra estão entre os nomes

CPI da Pandemia tem mais 29 investigadosCPI da Pandemia tem mais 29 investigados  Reprodução 

O relator da CPI da PandemiaRenan Calheiros (MDB-AL), divulgou nesta quarta-feira (1º) nova relação de pessoas tratadas como investigadas pela comissão.

A lista de 29 nomes incluiu nomes próximos ao presidente Jair Bolsonaro, como o ministro do Trabalho, Onyx Lorenzoni (DEM-RS), o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) e o presidente da Havan, Luciano Hang.

Também entraram na relação a servidora do ministério da Saúde e fiscal do contrato da Covaxin, Regina Celia; o ex-coordenador do Plano Nacional de Operacionalização das Vacinas, coronel Marcelo Bento Pires; a diretora técnica da Precisa Medicamentos Emanuella Medrades; o presidente da ONG Instituto Força Brasil, coronel Helcio Bruno de Almeida, e os representantes da Davati Medical Supply Luiz Dominghetti e Cristiano Carvalho.

Ao final dos trabalhos da comissão, o relator pode propor o indiciamento dessas pessoas por considerar que há elementos suficientes. Segundo Renan Calheiros, ele pretende apresentar o relatório final da CPI até 24 de setembro.

Fonte: Folha - CNN Brasil