Política

Suposto lobista que fala à CPI hoje pediu favores políticos à ex-mulher de Bolsonaro





Ele também ajudou filho do presidente a abrir empresa

Mensagens de WhatsApp revelam que Marconny Albernaz de Faria tinha amplo acesso à família do presidente Jair Bolsonaro. Além de ter ajudado o filho mais novo do presidente, Jair Renan, a abrir a empresa Bolsonaro Jr Eventos e Mídia, o advogado pediu a Cristina Bolsonaro, ex-mulher do presidente, que pedisse junto ao Palácio do Planalto para nomear um dos nomes da lista tríplice para a defensoria pública geral federal.

Marconny é apontado pela CPI da Pandemia como lobista da Precisa Medicamentos, empresa acusada de irregularidades na negociação de doses da vacina Covaxin.
As conversas mostram que a relação entre o lobista e Jair Renan era cultivada por WhatsApp desde 2019 com diálogos sobre mulheres e convites para a festa. A relação de negócios, no entanto, contou com a intermediação da advogada do presidente, Karina Kufa, amiga de Jair Renan e de Marconny e ganhou força no ano seguinte.

É ela quem avisa o lobista, no dia 24 de junho de 2020, que a mãe do Renan ligou “pedindo ajuda” para o filho. O lobista reage empolgado e, no dia 17 de julho, envia a seguinte mensagem a Kufa. “A mãe do Renan chegou aqui em casa de surpresa para o almoço. Kd vc???”

A espontaneidade de Cristina Bolsonaro rendeu frutos na amizade. A mãe de Jair Renan construiu uma relação com Marconny que incluiu idas a casamento e pedidos de favor dentro do governo.

Em 18 de julho, Marconny convidou mãe e filho para um almoço num restaurante de carnes na 113 sul, área central de Brasília. Cristina confirma o encontro com a seguinte mensagem. “Ótimo vou falar com o Renan. Ele ainda está dormindo. Mas combinado”. O almoço acontece no dia 20 de julho.

Dias depois, a relação passa a ter pedidos de favor com interferência nas escolhas do Presidente Jair Bolsonaro. Marconny pediu à Cristina que falasse com o então ministro da Secretaria Geral da Presidência, Jorge Oliveira, para que ajude um dos candidatos da lista tríplice para o cargo de defensor público geral federal. Ele sugere que ela escreva um e-mail a Jorge. Mas Cristina diz que prefere enviar “um zap com a mensagem. É mais pessoal”, afirmou.

A mensagem sugerida por Marconny e reencaminhada ao ministro diz: “Min. Jorge, venho manifestar meu apoio ao Dr. Leonardo Cardoso de Magalhães para assumir o cargo de defensor público geral federal da Defensoria Pública da União. É um candidato alinhado com os nossos valores, técnico e apoiador do presidente Bolsonaro”. Segundo Cristina, o ministro respondeu: “Já anotado. Conversei com ele ontem”. Não fica claro se ele é Bolsonaro ou o defensor. Apesar da atuação da ex-mulher, Bolsonaro nomeia outro nome da lista tríplice que, segundo Cristina, foi um pedido do prefeito Marcelo Crivella.

Ajuda na empresa do 04

As conversas e a amizade continuam. No dia 14 de setembro, Cristina envia uma mensagem dizendo que “precisa de uma ajuda sobre o Renan” e pede para que o lobista ligue assim que puder.

Três dias depois, o lobista e Jair Renan passam a conversar sobre a abertura da empresa que se tornaria alvo de investigação. Marconny afirma: “Bora resolver as questões dos seus contratos!! Se preocupe com isso. Como te falei, eu e o William estamos a sua disposição para te ajudar.”

Na sequência, Jair Renan responde: “Show irmão. Eu vou organizar com Allan a gente se encontrar e organizar tudo”. Ele diz ainda que precisa abrir “um processo para registrar a marca no INPI marcas e patentes e abrir o MEI como microempreendedor.” Marconny sugere que marquem uma reunião para ele dizer tudo que está precisando. Aos modos do pai, Renan responde: “talkei”.

O lobista, então, manda uma mensagem para o advogado William de Araújo Falcomer dos Santos, responsável por representa-lo na CPI da Pandemia: “Posso marcar uma reunião com o Renan Bolsonaro na segunda às 16h?”. O advogado confirma.

No dia 21 de setembro, Marconny conversa com William Falcomer dizendo que o “Renan acabou de ligar pedindo pra reunião ser amanhã às 14h”. O encontro aconteceu no escritório de William.

Em 11 de outubro, o lobista encaminha para William o link de uma reportagem sobre a inauguração da empresa de Jair Renan. William respondeu: “Fui lá ontem. Tava legal. Ficou bonito.” Marconny não compareceu porque, segundo as mensagens, estava “muito mal” e chegou a suspeitar que o estado de saúde debilitado era Covid. O caso foi revelado pela Folha e confirmado pela CNN.

A empresa de Renan Bolsonaro é investigada pela Polícia Federal por suposto tráfico de influência. O empreendimento fica em um camarote no Estádio Nacional Mané Garrincha e foi inaugurado em novembro do ano passado. A empresa atua na área de eventos, feiras e produção de eventos esportivos. Mas o telefone cadastrado na Receita Federal é o mesmo do escritório de advocacia de William Falcomer, dono do escritório onde houve a reunião entre Renan Bolsonaro e o lobista Marconny.

Os diálogos citados na reportagem foram adquiridos por meio de quebra de sigilo de Marconny determinada pelo Ministério Público Federal do Pará. O material foi compartilhado com a CPI depois que o lobista, investigado por suposta influência em indicação para órgão público, foi citado na comissão parlamentar de inquérito. Marconny será ouvido pela CPI nesta quinta-feira.

A CNN tentou contato com os citados, mas não obteve retorno.

 

Fonte: CNN Brasil