Política

Grupos bolsonaristas se dividem entre euforia e frustração com manifestações





Membros de grupos bolsonaristas no Telegram tiveram reações variadas às manifestações pró-governo deste Sete de Setembro. 

Enquanto alguns exaltaram os atos e se disseram esperançosos com atitudes que poderiam ser tomadas por Jair Bolsonaro nos próximos dias, outros expressaram frustração com os discursos do mandatário e avaliaram que ele perdeu a chance de adotar medidas mais drásticas. 

A BBC News Brasil monitorou as reações às manifestações em três grupos bolsonaristas. 

Muitos integrantes postaram fotos e vídeos dos protestos em várias cidades e elogiaram a quantidade de pessoas presentes. 

Entre os mais entusiasmados, sobraram críticas a órgãos de imprensa que cobriam os eventos e insinuações de que falhas na transmissão dos discursos do presidente teriam sido causadas propositalmente. 

"Não espero nada da mídia! Informação séria é aqui. Real!!", disse um militante em um canal com 36 mil membros que se define como o "maior grupo de apoio a Bolsonaro do Brasil". 

Outro integrante do grupo classificou as manifestações desta terça como "gigantescas, fantásticas e históricas". 

Homens seguram bandeira onde está escrito 'intervenção militar'

EPA

Militantes de direita pedem golpe militar na av. Paulista

"Meu deus, eu nunca vi algo tão gigante", disse outro. 

Uma ativista bolsonarista em Jundiaí (SP) também exaltou o "bom público" presente no ato na cidade, mas reclamou da ausência de jovens. 

"Sem intercorrências, filas, crianças, idosos. Mas infelizmente adolescentes e jovens nenhum! Precisamos repensar como atingir esta população de 16 a 40 anos, lembrando que eles serão o futuro e destino da nação! E hoje não conseguem nem ver de forma concreta o que está acontecendo", alertou. 

 

'Não adiantou nada' 

Vários membros, porém, tiveram uma avaliação mais negativa dos atos e se queixaram dos discursos do presidente, dizendo que esperavam ações mais contundentes. 

Para eles, Bolsonaro deveria ter mobilizado as Forças Armadas para uma "intervenção" ou anunciado medidas mais duras em seu embate contra o Supremo Tribunal Federal (STF). 

"Qual ação ele vai tomar? Mais uma vez fomos às ruas para NADA", disse um apoiador. 

"Achei o pronunciamento muito fraco. O povo quer mais. Chega de 4 linhas da Constituição. Presidente devia ter intimado o impeachment de no mínimo três ministros do STF ", escreveu outro. 

"Parabéns ao povo por seu empenho, mas não adiantou de nada, cadê a intervenção? Só deu oportunidade de ferrarem ainda mais o presidente ", disse um integrante. 

Diante das críticas ao presidente, alguns membros pediram paciência aos colegas. 

"Calma, amigo, Deus está no comando, não se resolve as coisas do dia para noite, tem que ter estratégia", ponderou um apoiador. 

"Os discursos e o povo todo na rua é um passo nessa guerra", afirmou outro. 

"O pessoal quer botar o carro na frente dos bois. Bolsonaro é o cara mais inteligente dentro da política", disse uma integrante. 

Ato pró-Bolsonaro na Paulista

Reuters

Protesto na avenida Paulista reuniu 125 mil pessoas, segundo a secretaria da Segurança Pública de São Paulo

 

'Tudo pode acontecer'  

Vários membros dos grupos se disseram esperançosos quanto ao anúncio de que Bolsonaro convocaria o Conselho da República nesta quarta-feira (8/9). 

O órgão tem entre suas atribuições tratar da "estabilidade das instituições democráticas de direito". 

"Bolsonaro já agiu, pessoal. Vai acionar o conselho da república dia 8. Tudo pode acontecer. Oremos", escreveu um apoiador. 

"Amanhã o chicote estrala", disse outro. 

A convocação do Conselho, no entanto, não aconteceu.

Boa parte das mensagens publicadas ao longo do dia, porém, não tratava das manifestações em si, mas sim denunciava a presença de "esquerdistas infiltrados" nos grupos. 

"Pessoal, deixem os infiltrados falando sozinhos, não vamos dar ibope pra eles, é isto que eles querem....vamos em frente", pediu uma apoiadora. 

"A real é que este grupo está abandonado", queixou-se outro membro. "O dia inteiro ficamos denunciando esquerdistas infiltrados e NENHUM administrador se manifestou."

De voto impresso a afastamento no STF: manifestantes pró-Bolsonaro contam por que foram às ruas

Pessoas com os rostos pintados, usando perucas, segurando bandeiras e cartazes enquanto gritam palavras de ordem. Segundo estimativa da Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, 125 mil pessoas participaram de uma manifestação a favor do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na avenida Paulista na terça-feira, feriado da Independência do Brasil.

A reportagem da BBC News Brasil entrevistou manifestantes que foram à avenida Paulista, em São Paulo, para entender quais eram as pautas que os motivaram a sair às ruas para protestar.

Homem fardado fala

Vestindo farda semelhante à do Exército, Tino Ribeiro conta que é membro de um grupo de airsoft e defende o retorno do voto impresso

Além de defender a reeleição do presidente Jair Bolsonaro, a maior parte dos entrevistados pela reportagem disse que gostaria de uma destituição do Supremo Tribunal Federal (STF). Alguns defendiam apenas o impeachment do ministro do STF Alexandre de Moraes e outros sugeriram substituir a Suprema Corte por um tribunal militar.

Também houve quem defendesse a volta do voto impresso e uma minoria queria uma Ditadura Militar.

A BBC News Brasil reuniu abaixo algumas das principais reivindicações dos manifestantes.

 

Voto impresso e STF

 

Rita Pinto dá entrevista de máscara contra covid-19

Rita Pinto passou 12 horas dentro de um ônibus para chegar à manifestação na capital paulista

Um grupo ligado ao agronegócio saiu de Vacaria, no Rio Grande do Sul, em caravana até a avenida Paulista. Rita Pinto é uma das pessoas que disseram ter passado 12 horas dentro de um ônibus no trajeto até a capital paulista. Ela e os amigos defendem as mesmas pautas.

"Queremos a volta do voto impresso e o impeachment do SFT. Deixe o nosso presidente trabalhar. Queremos liberdade para o nosso país para que ele não vire uma Venezuela ou Cuba. A pauta de hoje é o voto impresso com contagem pública. O voto impresso auditável e o impeachment dos 11 do STF. E a liberdade de imprensa", afirmou à reportagem.

Homem com máscara verde-amarela contra covid

Umberto Sussela Filho: 'O Brasil vive uma ditadura do judiciário'

Umberto Sussela Filho quer uma reforma da Suprema Corte porque diz que o STF está tomando decisões além das previstas constitucionalmente.

"Ninguém quer extinguir o Supremo de um país, mas o nosso está fugindo de suas atribuições legais. O Supremo tem apenas que julgar os casos denunciados pela Procuradoria da União ou Ministério Público Federal. O nosso acusa, julga e condena, então ele não está obedecendo a Constituição Federal. O Brasil vive uma ditadura do Judiciário e isso não queremos nem para nós e nem para as futuras gerações", disse.

 

Contra Lula e a esquerda

 

Rodolfo, que preferiu omitir o sobrenome, disse que é contra o ministro Alexandre de Moraes, especificamente.

"Eu gostaria que ele tivesse vergonha na cara e parasse de fazer o que ele está fazendo. Não é um juiz qualificado, a gente sabe. Não passou em concurso. Sai do cargo. Gilmar Mendes soltando bandido. Todos eles estão trabalhando de certa forma para libertar toda essa gente. Está claro e notório que eles estão tentando fazer Lula candidato em 2022", afirmou.

Maiara Moura: 'A minha escolha é Bolsonaro porque eu sou a favor da família'

A namorada dele, Maiara Moura, disse que também foi ao protesto para demonstrar sua insatisfação com governos de esquerda e um possível retorno de Lula.

"Numa disputa entre Lula e Bolsonaro, porque não tem terceira via, a minha escolha é Bolsonaro porque eu sou a favor da família, igreja, essas coisas. É meio óbvio Bolsonaro porque as pautas do PT já não combinam comigo, então não tem como eu votar no outro lado", afirmou.

 

Inflação e crise econômica

 

Luis Carlos de Oliveira fantasiado como Tio Sam, com cores do Brasil e dos EUA

Luis Carlos de Oliveira é apelidado de 'Tio Sam de Mauá'

Vestido como o personagem folclórico da cultura americana, Luis Carlos de Oliveira, o Tio Sam de Mauá, foi à Paulista apoiar Bolsonaro, mas também fez críticas ao governo, especialmente em relação à economia.

"Bolsonaro é o cara certo. Agora, o Paulo Guedes está ferrando o Brasil inteiro porque não é ele que está passando fome", afirmou.

Suelem Tavares deixou os cinco filhos em Itaquera, na zona leste de São Paulo, para vender bandeiras do Brasil no protesto na avenida Paulista. Ela defende que Bolsonaro termine o mandato, mas diz que a família dela foi gravemente afetada pela inflação.

"Na verdade, o que pega para mim são os preços abusivos. Isso o governo também tem que chegar junto, mas para mim o que está pesando é isso. E corrupção também. A gente tem que dar força para quem está lá (no governo). E quem está lá agora é o Bolsonaro, então a gente tem que dar força para ele. Reivindicar nossos direitos, mas ajudar ele", afirmou.

Ao ser questionada qual seria a atitude dela nas próximas eleições caso o preço de alguns alimentos, como a carne, não diminua, ela respondeu: "a gente muda o governo. Porque não dá para ter político de estimação, né?".

 

Liberdade e Supremo Tribunal Militar

 

Vestido com uma farda semelhante à do Exército, Tino Ribeiro conta que é membro de um grupo de airsoft e defende o retorno do voto impresso.

"Quero o voto auditável e o impeachment dos ministros do STF. Nós vamos tirar eles de lá, se Deus quiser, porque nós precisamos expressar nosso direito de falar nas redes sociais. E o que vemos hoje é uma pessoa ser condenada por falar de Deus", afirmou.

Rogério, que disse ser um policial militar da reserva, disse que o maior desejo dele é acabar com o STF nos moldes que existe hoje e implantar em seu lugar uma corte militar. 

Rogério dá entrevista, com camisa estampando nome de Bolsonaro

Rogério conta ser um policial militar da reserva

"Então o que a gente vê como possibilidade inicial é o Supremo Tribunal Militar assumindo o STF, tirando os 11 ministros, como população, para que a gente possa reestabelecer a ordem e as coisas certas", disse.

Eduard Mandi gostaria de mudanças no Congresso e no STF, que, na visão dele, impedem que Bolsonaro governe de maneira plena. E defende que o atual presidente é o único preocupado com o país de maneira legítima.

"Tem gente que acha Bolsonaro ruim, mas pelo menos a gente tem um cara que está preocupado com a gente. Ele pode não ser o cara, mas para mim hoje é o único que eu tenho coragem de seguir porque eu só vejo o Senado trabalhando em vontade própria e a Câmara dos Deputados a mesma coisa. É uma vergonha isso".

 

Fonte: BBC News Brasil