Política

Ciro Gomes: Impeachment de Bolsonaro 'é uma aposta na qual Brasil só ganha'





Abertamente crítico ao governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT) apoia o impeachment do presidente, mesmo sem ter certeza se a retirada dele do governo aconteceria de fato.

"Uma coisa é o presidente da Câmara processar o impedimento, despachar que é praticável e, daí, tem um longo processo. O presidente da Câmara apenas inaugura o processo, o primeiro ato é constituir comissão mista, isso é muito importante e (Rodrigo) Maia não entendeu", disse Ciro ao UOL Entrevista.

Para o ex-ministro, a abertura do processo "é uma aposta na qual o Brasil só ganha". Isso porque a intenção de impedir poderia fazer o presidente "moderar, passar a tentar a se acertar, o Brasil ganha com isso e nas eleições faz sua mão saneadora", no caso do impeachment não ser concluído.

"Se não moderar, tem esse mecanismo que evita curto-circuito e acabou, por aí o país também se reconcilia. É indesculpável não avaliar isso", defendeu.

Ano passado, Rodrigo Maia estava à frente da Câmara dos Deputados e não aceitou os pedidos de impeachment contra Bolsonaro. Atualmente, o cargo é responsabilidade de Arthur Lira (PP-AL), que também não parece favorável ao processo de impedimento.

Sobre as manifestações de 7 de setembro, Ciro avaliou como uma tentativa de Bolsonaro parecer poderoso. "Como todo covarde e frouxo, essa demonstração de força é demonstração de fraqueza e isolamento", falou. Ele ainda apontou que políticos que apoiam o presidente, como o líder do Centão Ciro Nogueira e Arthur Lira, estavam ausentes.

"Os políticos antes de mais nada têm instinto de sobrevivência", apontou. Para o ex-governador, as falas de Bolsonaro são "aposta macabra e suicida, resta saber se é sincera ou mais um blefe. Os covardes costumam blefar".

Eleições de 2022

Após os atos de ontem, Ciro contou ter ligado para diversos colegas da política, como João Doria (PSDB), Eduardo Leite (PSDB), Marcelo Freixo (PSB). Guilherme Boulos (PSOL) e Luiz Henrique Mandetta (DEM). "Todos os democratas do Brasil precisam se reunir para proteger a democracia", reforçou.

O ex-ministro falou não ter alianças certas para as eleições de 2022, mas que está se esforçando para manter os laços. "Lula tem sua força, Bolsonaro tem o resto de sua força, tem gente rivalizando e, desses aí, estou melhor posto a dois anos das eleições", afirmou.

Para Ciro, o maior erro dos candidatos brasileiros é "fazer um juízo mesquinho do nosso povo". Na análise do político, a população está "comendo o pão que o diabo amassou" e disse que nunca viu "o espectro da fome tão pesado quanto agora".

"O Bolsonaro do jeito que está no Nordeste vai sair devendo ponto no Ibope. As pessoas são frágeis, pobres e humildes, mas têm dignidade. O apelo por mudança é maior aqui do que em qualquer lugar do Brasil", completou.

Fux fará discurso rebatendo ataques de Bolsonaro considerados inaceitáveis

Pronunciamento será feito no início da sessão desta quarta-feira no Supremo Tribunal Federal

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luiz Fux, vai responder aos ataques feitos pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) a ministros e ao tribunal e que foram considerados “inaceitáveis” pelos integrantes da Corte. O pronunciamento será feito no início da sessão desta quarta-feira (8).

Os ministros se reuniram por videoconferência por cerca de uma hora na noite desta terça-feira, depois de o presidente ter discursado em Brasília (DF) e em São Paulo (SP).

Após a conversa, ficou decidido que, em seu pronunciamento em nome do tribunal, Fux responderia a trechos dos discursos de Bolsonaro que foram considerados inaceitáveis pelos integrantes do STF.

Entre eles, os novos ataques aos ministros e à Corte, o aviso feito pelo presidente de que ele vai descumprir determinações judiciais e a cobrança para que Fux “enquadrasse” Alexandre de Moraes, relator de inquéritos que miram o presidente e seus aliados.

A avaliação interna é a de que as respostas seguem nas vias judiciais, ou seja, nos autos dos processos, e de que Bolsonaro já é investigado em quatro inquéritos no STF. Para alguns ministros, o presidente produz mais provas contra ele quando faz discursos como os desta terça-feira, ao atacar o STF e colocar em risco a democracia.

Bolsonaro é alvo do inquérito que apura se ele interferiu na Polícia Federal, da investigação que apura se prevaricou com relação às supostas irregularidades na compra da Covaxin, do procedimento que investiga a disseminação de notícias falsas sobre urnas e processo eleitoral e do inquérito que investiga o presidente pelo vazamento de dados de uma apuração sigilosa da PF.

O pronunciamento desta quarta-feira será mais um da série de respostas e discursos de repúdio à fala de Bolsonaro feitos pelo presidente do STF após o aumento da tensão entre o Executivo e o Judiciário.

No dia 12 de julho, Fux solicitou uma reunião com Bolsonaro no STF e pediu para que o presidente parasse com os ataques aos ministros do tribunal que integravam o TSE.

Na reabertura dos trabalhos do Judiciário, no dia 2 de agosto, Fux disse que a independência entre os Poderes da República não implica impunidade.

Três dias depois, no dia 5 de agosto, cancelou uma reunião dos Poderes e disse que o presidente tinha reiterado ofensas e ataques de inverdades a ministros do tribunal.

No mais recente aviso, na última sessão antes do feriado, no dia 1º de setembro, Fux disse que liberdade de expressão não comporta violência e ameaça e que o STF estaria vigilante aos atos realizados em todo o país no dia 7 de setembro.

Maia diz que Bolsonaro ‘estourou a corda’ com discursos no 7 de Setembro

Jair Bolsonaro fez discursos em Brasília e São Paulo durante os atos do 7 de Setembro; para Maia, alinhamento dos partidos pode ser limitador

O ex-presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, afirmou em entrevista à CNN nesta quarta-feira (8) que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) “estourou a corda” ao adotar ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF) durante seus discursos nos atos de 7 de Setembro.

“Ontem, o presidente Bolsonaro, sem dúvida nenhuma, não esticou a corda, ele estourou a corda. O que eu acompanhei desde ontem é um encaminhamento claro para um isolamento do presidente. Todos começaram a entender que não dá mais”, disse o atual secretário de projetos e ações estratégicas do governo de São Paulo.

Bolsonaro falou aos apoiadores presentes na Praça dos Três Poderes, em Brasília, e também na Avenida Paulista, em São Paulo, nesta terça-feira (7).

Em sua primeira fala, em Brasília, Bolsonaro afirmou que quem não respeita a Constituição deve “ser enquadrado” ou “pedir para sair”. Ele não citou nominalmente nenhum ministro do Supremo.

No entanto, durante a tarde, na Avenida Paulista, o presidente afirmou que não cumprirá mais decisões do ministro Alexandre de Moraes.

Na avaliação de Maia, as ameaças ao Supremo feitas por Bolsonaro são “covardes”. “Esse tipo de ameaça que o presidente Bolsonaro faz não é de um homem de coragem, é de um covarde. Eu tenho me convencido de que ele é muito mais covarde do que corajoso. Esse tipo de covardia precisa de reação forte.”

Ainda segundo Maia, ao não acatar decisões do Supremo, o presidente incorre em crime de responsabilidade, o que é passível de impeachment.

“Decisão não acatada é crime de responsabilidade (…) Se ele não cumprir decisões, o presidente da Câmara deverá deferir um pedido de impeachment.”

Maia avalia que o presidente não mudará sua postura após as reações de partidos políticos, mas que a articulação dos partidos pode ser considerada “um limitador”.

“Essas práticas não vão mudar, ele não vai mudar. O lado positivo das manifestações de ontem é a convergência maior entre a executiva e as bancadas dos partidos”, disse.

O ex-presidente da Câmara ainda afirmou que o atual presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL) deve fazer uma “crítica contundente” às falas de Bolsonaro. “Os presidentes do Legislativo precisam deixar clara suas posições para a sociedade (…) Não há outra alternativa que não seja uma crítica contundente”, disse.

MBL e Vem pra Rua tentam atrair centro e centro-esquerda para ato anti-Bolsonaro

Passados os atos pró-Bolsonaro desse Sete de Setembro, dois grupos outrora aliados do presidente se articulam para ir às ruas pedir o impeachment de Jair Bolsonaro e defender uma terceira via para a disputa presidencial de 2022. O Movimento Brasil Livre (MBL) e o Vem pra Rua convocaram protestos para o próximo domingo (12) na Avenida Paulista, em São Paulo. A ideia dos dois movimentos é atrair partidos de centro e centro-esquerda para os atos, em uma tentativa de superar as manifestações dessa terça-feira (7).

O MBL e o Vem pra Rua convidaram, entre outros, a senadora Simone Tebet(MDB-MS), o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta,  o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e o ex-candidato à Presidência pelo Novo João Amoedo. Todos eles são cotados para concorrer à sucessão de Bolsonaro na tentativa de se romper a polarização entre o atual presidente e o ex-presidente Lula (PT).

A avaliação de líderes desses movimentos é de que os discursos feitos por Bolsonaro na Paulista e em Brasília, no Dia da Independência, reforçarão os atos do dia 12 devido à reação de partidos como o PSDB, o MDB, o PV, o Solidariedade e o Cidadania, que passaram a defender de maneira mais aberta o impeachment do presidente, devido às ameaças feitas por ele ao Supremo Tribunal Federal. As falas do presidente repercutiram negativamente no mercado. O dólar abriu em alta e a Bolsa de Valores, em baixa, nesta quarta.

A articulação do MBL para o 12 de setembro começou há duas semanas em algumas cidades do Sudeste. Mas o principal objetivo é lotar a Paulista para dar uma resposta ao presidente. “Este é o grande objetivo da manifestação, especialmente depois dos atos de ontem. Na nossa leitura, a gente vê que o governo federal ficou enfraquecido por conta dos atos e partidos da base como PSDBPSDMDB e Solidariedade já sinalizam a favor do impeachment, o que demonstra a criação de um ambiente político para a pauta, o que é extremamente importante. Também é importante que a manifestação popular crie corpo”, defende o vereador paulistano Rubinho Nunes (PSL), uma das principais lideranças do Movimento Brasil Livre.

Outro líder do grupo, o deputado Kim Kataguiri (DEM-SP) acredita que os atos do Dia da Independência deixaram Bolsonaro "mais perto da cadeia":

Os organizadores da manifestação do próximo dia 12 acreditam que terão a companhia de nomes ligados à esquerda, como o deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP), e o músico e militante Tico Santa Cruz. A expectativa é formar uma frente ampla. “Temos a expectativa de que o Tico Santa Cruz esteja conosco. Também estamos conversando com outras figuras do Parlamento”, afirmou Rubinho.

Fonte: UOL - CNN Brasil