Cultura

Papa: Quer se destacar? Sirva! Torna-nos livres e mais semelhantes a Jesus





"Eu entendo a vida como uma competição para abrir espaço para mim mesmo às custas dos outros ou acho que se sobressair significa servir? E, concretamente: dedico tempo a algum "pequeno", a uma pessoa que não tem meios para retribuir? Eu cuido de alguém que não pode me retribuir ou apenas de meus parentes e amigos?": perguntas a nos fazermos, sugeriu Francisco.

Jackson Erpen – Cidade do Vaticano

Quer se destacar? Sirva! Nossa fidelidade ao Senhor depende de nossa disponibilidade em servir. O serviço não nos diminui, mas nos faz crescer. E ao servirmos os esquecidos, que não podem nos retribuir, “também nós recebemos o terno abraço de Deus”.

O “serviço”, um tema caro ao Papa esteve no centro de sua alocução que precedeu a oração mariana do Angelus neste 25º Domingo do Tempo Comum: “Se quisermos seguir Jesus, devemos percorrer o caminho que ele mesmo traçou, o caminho do serviço.”

Dirigindo-se aos peregrinos e turistas reunidos na Praça São Pedro para o tradicional encontro dominical, Francisco começou explicando a discussão entre os discípulos narrada por Marcos sobre quem entre eles era o maior. E citou a frase que Jesus disse a eles, uma frase “que vale também para nós hoje” - “Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos” -, acrescentando que quem ser o primeiro, deve ir para a fila, pegar o último lugar "e servir a todos".

Quer se destacar? Sirva! 

E justamente esta frase pronunciada pelo Mestre marca uma inversão nos critérios daquilo que realmente importa:

O valor de uma pessoa não depende mais do papel que ela desempenha, do sucesso que tem, do trabalho que faz, do dinheiro no banco; não, não, não, não depende disso; a grandeza e o sucesso, aos olhos de Deus, têm um padrão, uma medida diferente: são medidos no serviço. Não no que se tem, mas no que se dá. Quer se sobressair? Sirva. Este é o caminho.

Quanto mais servimos, mais sentimos a presença de Deus

Hoje em dia a palavra "serviço" – disse o Papa – “parece um pouco desbotada, desgastada pelo uso. Mas no Evangelho tem um significado preciso e concreto. Servir não é uma expressão de cortesia: é fazer como Jesus que, resumindo em poucas palavras a sua vida, disse que veio «não para ser servido, mas para servir». Portanto, se quisermos seguir Jesus, devemos percorrer o caminho que ele mesmo traçou, o caminho do serviço:

Nossa fidelidade ao Senhor depende de nossa disponibilidade em servir. E isso, bem o sabemos, custa, geralmente isso custa, “tem gosto de cruz”. Mas, à medida que aumenta o cuidado e a disponibilidade para com os outros, tornamo-nos mais livres interiormente, mais semelhantes a Jesus. Quanto mais servimos, mais sentimos a presença de Deus, sobretudo quando servimos aqueles que não têm nada para nos restituir, os pobres, abraçando suas dificuldades e necessidades, com a terna compaixão: e ali descobrimos ser, por sua vez, amados e abraçados por Deus.

Em primeiro lugar, servir a quem não pode nos retribuir 

Para ilustrar a importância da doação gratuita, Jesus coloca uma criança entre os discípulos, pois "os gestos de Jesus são mais fortes que as palavras que usa", observou o Papa. “A criança, no Evangelho – explicou –  não simboliza tanto a inocência mas a pequenez. Porque os pequenos, como as crianças, dependem dos outros, dos grandes, têm necessidade de receber. Jesus abraça aquela criança e diz que quem acolhe um pequenino, uma criança, o acolhe”:

Eis antes de tudo a quem servir: aqueles que têm necessidade de receber e não tem como retribuir. Acolhendo quem está à margem, abandonado, acolhemos Jesus, porque Ele está ali. E em um pequeno, em um pobre a quem servimos, também nós recebemos o terno abraço de Deus.

O serviço não nos diminui, nos faz crescer

Interpelados pelo Evangelho, o Papa sugere que nos interroguemos:

Eu, que sigo Jesus, me interesso por quem é mais abandonado? Ou, como os discípulos naquele dia, estou em busca de gratificações pessoais? Eu entendo a vida como uma competição para abrir espaço para mim mesmo às custas dos outros ou acho que se sobressair significa servir? E, concretamente: dedico tempo a algum "pequeno", a uma pessoa que não tem meios para retribuir? Eu cuido de alguém que não pode me retribuir ou apenas de meus parentes e amigos? São perguntas que podemos nos fazer.

Que a Virgem Maria, humilde serva do Senhor, nos ajude a compreender que o serviço não nos diminui, mas nos faz crescer. E que há mais alegria em dar do que em receber.

Papa: as lágrimas de Maria fazem-nos pensar nas de Jesus por Jerusalém

Depois de rezar o Angelus, o Papa Francisco dirigiu seu pensamento às vítimas de inundações no México, às pessoas detidas injustamente em países estrangeiros e aos peregrinos reunidos no Santuário de La Salette, na França, no 175º aniversário das aparições.

Antes de saudar os presentes, muitos dos quais identificados pela bandeira do país de proveniência – poloneses, eslovacos, hondurenhos – o Papa expressou sua proximidade às vítimas das inundações no Estado mexicano de Hidalgo, “especialmente aos doentes que morreram no hospital de Tula e seus familiares”.

O Santo Padre também assegurou sua oração pelas “pessoas detidas injustamente em países estrangeiros”:

Infelizmente, existem vários casos, com causas diferentes e às vezes complexas. Faço votos que, no zeloso cumprimento da justiça, essas pessoas possam regressar à sua pátria o mais rapidamente possível.

Por fim, as palavras dirigidas aos fiéis reunidos no Santuário de La Salette, na França, no 175º aniversário da aparição de Nossa Senhora, “que se manifestou em lágrimas a dois jovens”:

As lágrimas de Maria fazem-nos pensar nas lágrimas de Jesus por Jerusalém e na sua angústia no Getsêmani. São um reflexo da dor de Cristo pelos nossos pecados e um apelo sempre oportuno para nos abandonarmos à misericórdia de Deus.

O Papa: sinodalidade não é um slogan, significa essencialmente "caminhar juntos"

Falando na manhã deste sábado na Sala Paulo VI à Diocese de Roma, o Papa Francisco deu um forte encorajamento para seguir a voz do Espírito Santo que não conhece fronteiras, para ouvir a cada um que pertence ao único povo de Deus e também aqueles que vivem à margem da comunidade. Sinodalidade não é um slogan, significa essencialmente "caminhar juntos"

Adriana Masotti - Cidade do Vaticano

O Papa Francisco entrou na Sala Paulo VI pouco depois das 11h00. Os participantes do simpósio da Igreja de Roma, que assim dá início à fase diocesana do caminho sinodal, aguardavam o Papa enquanto rezavam, cantavam, ouviam a Palavra de Deus e os testemunhos de duas paróquias que juntas criaram uma rede de amizade e solidariedade em seu território. A acolher Francisco, o Vigário de Roma, cardeal Angelo De Donatis, que com poucas mas afetuosas palavra felicitou o Papa por encontrá-lo em boa saúde e para expressar a alegria de poder tê-lo novamente entre eles.

Sinodalidade é caminhar juntos 

“Ter ouvidos, escutar, é o primeiro compromisso. Trata-se de ouvir a voz de Deus, perceber a sua presença”. Em seu pronunciamento, o Papa Francisco indica aquele que é o primeiro compromisso de um processo sinodal pensado “como dinamismo de escuta recíproca, conduzido em todos os níveis da Igreja, envolvendo todo o povo de Deus", na escuta do Espírito Santo.

E explica o que significa colocar-se em escuta, o que significa sinodalidade, isto é," caminhar juntos”. Fala do protagonismo do Espírito, das suas novidades e surpresas, da “sua liberdade que não conhece fronteiras”, e também do conceito de "povo de Deus ", e do sensum fidei que lhe pertence, da Tradição e da necessidade de a Igreja estar em constante movimento.

Em primeiro lugar, o Papa Francisco quer dirimir qualquer dúvida possível sobre aquele "caminhar juntos” que a palavra 'sínodo’ significa. E afirma:

O tema da sinodalidade não é o capítulo de um tratado de eclesiologia, muito menos uma moda, um slogan ou o novo termo a ser usado ou instrumentalizado em nossos encontros. Não! A sinodalidade expressa a natureza da Igreja, a sua forma, o seu estilo, a sua missão. E por isso falamos de Igreja sinodal, evitando, no entanto, considerar que seja um título entre outros, um modo de pensá-la que prevê alternativas. Não digo isto com base em uma opinião teológica, nem mesmo como pensamento pessoal, mas seguindo o que podemos considerar o primeiro e mais importante "manual" de eclesiologia, que é o livro dos Atos dos Apóstolos.

O exemplo dos apóstolos Pedro e Paulo

Este livro, continua o Papa, é a história de um caminho onde “todos são protagonistas”, em que os ministérios estavam a serviço e “a autoridade nascia da escuta da voz de Deus e das pessoas”. Uma história que "expressa uma contínua inquietação interior". O Papa toma então em consideração as figuras de Pedro e Paulo, duas personalidades muito diferentes. Sobre eles, diz:

Pedro e Paulo não são apenas duas pessoas com seu caráter próprio, são visões inseridas em horizontes maiores do que eles próprios, capazes de se repensar em relação ao que acontece, testemunhas de um impulso que os coloca em crise, que os impele a ousar, perguntar, interrogar-se, errar e aprender com os erros, sobretudo o de ter esperança não obstante as dificuldades. São discípulos do Espírito Santo, que os faz descobrir a geografia da salvação divina, abrindo portas e janelas, derrubando muros, rompendo correntes, libertando fronteiras. Então pode ser necessário partir, mudar de direção, superar convicções que bloqueiam e nos impedem de andar juntos.

Dois episódios aos quais o Papa Francisco se refere para falar da ação do Espírito Santo na Igreja primitiva: o primeiro é o encontro de Pedro com Cornélio, um oficial romano simpatizante do judaísmo, mas que "ainda não era suficiente para ser totalmente judeu ou cristão: nenhuma 'aduana' religiosa o teria permitido passar”. Mas Deus havia escutado suas orações. O Papa então acrescenta:

O encontro entre Pedro e Cornélio resolveu um problema, favoreceu a decisão de se sentirem livres para pregar diretamente aos pagãos, na convicção - nas palavras de Pedro - “que Deus não faz distinção de  pessoas”. Em nome de Deus não se pode discriminar. E vejam, não podemos entender a "catolicidade" sem nos referir a este campo grande e hospitaleiro, que nunca marca os limites. Ser Igreja é um caminho para entrar nesta amplitude de Deus.

Não ter medo do debate

O Papa observa que também hoje pode haver debates entre pensamentos diversos e até confrontos, mas que isso não deve causar medo e cita o segundo episódio referente a Paulo e Barnabé, enviados a Jerusalém para resolver a questão mesmo que para os pagãos, que não observavam a Lei, poderia existir salvação.

Não foi fácil: as posições pareciam inconciliáveis, eram longamente discutidas. Tratava-se de reconhecer a liberdade de ação de Deus e de que não havia obstáculos que pudessem os impedir de chegar ao coração das pessoas, qualquer que fosse a condição de proveniência, moral ou religiosa. A desbloquear a situação foi a adesão à evidência de que 'Deus, que conhece os corações', Ele mesmo apoiava a causa em favor da possibilidade de que os pagãos pudessem ser admitidos à salvação, 'concedendo-lhes também o Espírito Santo, como nós'.

O amor incondicional de Deus

O Papa se concentra nas palavras "O Espírito Santo e nós" para dizer que a Igreja é, como diz a Lumen gentium, "o sinal e o instrumento da união íntima com Deus e da unidade de todo o gênero humano", mesmo que sempre exista a tentação de seguir sozinho.

Nesta frase, que recolhe o testemunho do Concílio de Jerusalém, existe o desmentido de quem insiste em tomar o lugar de Deus, pretendendo modelar a Igreja a partir de suas próprias convicções culturais e históricas, forçando-a a fronteiras armadas, a aduanas incriminadoras, à espiritualidades que blasfemam a gratuidade da ação envolvente de Deus. Quando a Igreja é testemunha, em palavras e fatos, do amor incondicional de Deus, da sua amplitude hospitaleira, exprime verdadeiramente a sua própria catolicidade. E é impelida, interna e externamente, a atravessar os espaços e os tempos.

Sempre haverá discussões, alerta Francisco, mas as soluções devem ser buscadas "dando a palavra a Deus". A Tradição, afirma, "é uma massa fermentada, uma realidade em fermentação onde podemos reconhecer o crescimento".

A horizontalidade da Igreja

O Papa Francisco volta então ao processo sinodal e sublinha a importância da fase diocesana “porque realiza a escuta da totalidade dos batizados, sujeito do infalível sensus fidei infalível in credendo”. E revela que “são muitas as resistências à superar a imagem de uma Igreja rigidamente distinta entre dirigentes e subordinados”, enquanto “caminhar juntos descobre a horizontalidade e não a verticalidade como linha”. O sensus fidei, sublinha ele, confere a todos “a dignidade da função profética de Jesus Cristo, para poder discernir quais são os caminhos do Evangelho no presente”. E ele explica que existem duas dimensões que contribuem para esse talento: uma pessoal e outra comunitária. Não há sensum fidei, diz ele, se não há o sentir com a Igreja:

O exercício do sensus fidei não pode ser reduzido à comunicação e comparação de opiniões que possamos ter sobre este ou aquele assunto, àquele único aspecto da doutrina, ou àquela regra de disciplina. E a ideia de distinguir maiorias e minorias não poderia prevalecer. Quantas vezes o “desperdício” se tornou “pedra angular”, o 'longe' se tornou 'próximo'. Os marginalizados, os pobres, os desesperados foram eleitos como sacramento de Cristo.

O dom de ser parte do povo de Deus

É preciso sentir-se parte de "um único grande povo destinatário das promessas divinas", prossegue o Papa, que especifica que mesmo sobre o conceito de "povo de Deus" "podem ​​haver hermenêuticas rígidas e antagônicas" ligadas a um conceito de eleição, corrigido pelos profetas.

Não se trata de um privilégio, mas de um dom que alguém recebe por todos, que recebemos para os outros, de uma responsabilidade. A responsabilidade de testemunhar com obras e não apenas com palavras as maravilhas de Deus que, se conhecidas, ajudam as pessoas a descobrir a sua existência e a acolher a sua salvação. A vontade salvífica universal de Deus é oferecida à história, a toda a humanidade por meio da encarnação do Filho, para que todos, por meio da mediação da Igreja, possam se tornar seus filhos e irmãos e irmãs entre si.

Existe uma “reconciliação universal entre Deus e a humanidade”, afirma o Papa, e a Igreja “deve sentir-se em relação com esta eleição universal e, por isso, cumprir a sua missão”. Este é o espírito da Fratelli tutti, diz ainda e adverte: “pode haver um 'faro sem cidadania', mas não menos eficaz”, porque o Espírito Santo não conhece limites.

Se a paróquia é a casa de todos no bairro, não um clube exclusivo, recomendo: deixem abertas as portas e janelas, não se limitem a levar em consideração apenas quem frequenta ou pensa como vocês. Permitam que todos entrem ... Permitam a vocês próprios saírem ao encontro e se deixar questionar, que as perguntas deles sejam as suas, permitam caminhar juntos: o Espírito os conduzirá. Não tenham medo de entrar em diálogo e se deixem envolver pelo diálogo: é o diálogo da salvação.

Não deixem ninguém para trás 

Por fim, o Papa Francisco dirige palavras de encorajamento à Igreja de Roma, convidando-a a preparar-se para as surpresas e assegurando-lhe que o Espírito “fará ouvir sempre a sua voz” e também corrigir os eventuais erros: “Escutai-o, ouvindo-vos. Não deixem ninguém fora ou para trás". E conclui: fará bem à Diocese de Roma e a toda a Igreja redescobrir “ser um povo que quer caminhar junto, entre nós e com a humanidade”.

Fonte: Vatican News