Saúde

Risco de covid-19 grave é até 6 vezes maior em pacientes com Alzheimer





Pesquisadores brasileiros identificaram que o Alzheimer é um fator de risco para quem contrai a covid-19, independentemente da idade. O estudo foi publicado na revista Alzheimer’s & Dementia, periódico da associação que pesquisa a doença e que tem sede em Chicago (EUA). Foram usados dados do sistema de saúde britânico, reunindo informações de 12.863 pessoas maiores de 65 anos.

O trabalho mostrou que quando um paciente era internado e já tinha Alzheimer, o risco de desenvolver um quadro mais grave por conta do vírus da covid-19, o Sars-CoV-2, foi três vezes maior na comparação com quem não tinha a doença. No caso de pacientes com mais de 80 anos, o risco é seis vezes maior. A doença não aumentou o risco de internações ao ser comparado com outras comorbidades.

“Os pacientes internados infectados por covid-19, se tiverem um quadro de Alzheimer, é um fator significativamente agravante de internação”, aponta Sérgio Verjovski, doutor em biofísica e liderança científica do Laboratório de Parasitologia do Instituto Butantan. O estudo também envolveu pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Os dados dos participantes foram divididos em três grupos: 66 a 74 anos (6.182 pessoas), 75 a 79 anos (4.867 pessoas) e acima de 80 anos (1.814 pessoas). Dessa amostragem inicial, 1.167 pessoas estavam com covid-19. Verjovski explica que o banco inglês foi usado por ter o histórico de mais de 10 anos dos pacientes, além disso possui o sequenciamento genômico da maior parte dos indivíduos.

Atenção rápida

O pesquisador destaca que essa descoberta revela a importância de uma atenção rápida a esses pacientes, considerando as chances de agravamento. “Tudo isso aponta para o fato de que esses pacientes necessitam de uma intervenção mais imediata. Pacientes com 65 a 70 anos tinham risco aumentado em quase quatro vezes de terem complicações e irem a óbito”, exemplificou.

Algumas hipóteses podem explicar essa relação e Verjovski destaca que estudos ainda estão sendo feitos. Contudo, um dos mecanismos possíveis é que quando o SARS-CoV-2 infecta o organismo, o corpo responde com um processo inflamatório para combater o vírus.

“Sabe-se que Alzheimer envolve inflamação de vasos do cérebro e é uma possibilidade que essa inflamação diminua a barreira hematoencefálica, que é uma barreira que permite que o cérebro receba nutrientes, receba a circulação, mas não deixa passar fatores de infecção. No caso da inflamação, que leva à degeneração pelo Alzheimer, pode estar diminuindo essa barreira hematoencefálica e aumentando a chance da infecção pelo vírus”, explica.

Fatores genéticos

Verjovski disse que o grupo busca agora relações entre os fatores genéticos de propensão da doença de Alzheimer e o agravamento da covid-19. “A gente agora está tentando associar os dados clínicos com os dados de variantes genéticas envolvidas com Alzheimer para ver se aponta, entre os genes causadores Alzheimer, algum que aumenta também nitidamente a gravidade da covid e que pode apontar para um mecanismo genético.”

Originalmente, o laboratório liderado por Verjovski pesquisa genes de câncer. Com a pandemia, no entanto, o trabalho foi reorientado. “Temos um financiamento para pesquisa que nos permitiu usar esses bancos. Temos pessoal capacitado em fazer as análises, equipamentos e, embora o nosso trabalho não seja voltado para Alzheimer, nem pra covid-19, a gente se associou ao Sérgio Ferreira [doutor em biofísica e professor da UFRJ] e usou nosso knowhow de análise de genética em larga escala”.

- Mais de 95% de internados por Covid são não-vacinados, diz infectologista do SBIm

Pessoas com imunização incompleta contra a Covid-19 são maioria entre os novos hospitalizados com a doença, diz Renato Kfouri, infectologista e diretor da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), com base em resultados de estudos nacionais e internacionais.

“Estados Unidos, Israel e mesmo o Brasil já publicaram dados que corroboram esse cenário. Entre os hospitalizados com forma grave da doença, mais de 95% são não-vacinados. Só está parando no hospital quem não tem esquema vacinal completo.”

De acordo com Kfouri, as pessoas imunizadas que se infectam e desenvolvem forma grave são, em geral, grupos de imunossuprimidos ou idosos. “A importância da dose de reforço vem daí”, diz.

O infectologista comenta outro resultado de efetividade que diz respeito à capacidade do indivíduo transmitir a Covid-19. “O risco do indivíduo vacinado transmitir doença é muito menor. Esse é um dado importante destes novos estudos também.”

Terceira dose

O diretor da SBIm explicou que, após seis meses da aplicação da segunda dose, há um prejuízo na proteção independente se a pessoa tomou AstraZeneca, Pfizer, Coronavac ou Janssen. “Esse é um efeito de classe para todas as vacinas”.

Kfouri reforçou a necessidade da proteção dos idosos e analisou que o fator idade ainda é o que impõe mais risco. “Indivíduos idosos, acima de 70 e 80 anos, mesmo vacinados, continuam com o risco maior de hospitalização e morte do que adultos não vacinados”, disse.

Fonte: Agência Brasil - CNN Brasil