Política

CPI ouve empresário bolsonarista suspeito de financiar fake news





A partir das 10h, presta depoimento hoje à CPI da Covid o empresário Otávio Oscar Fakhoury, apoiador do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) desde as eleições de 2018 e suspeito de financiar a disseminação na internet de fake news e informações retiradas de contexto.

Autor do requerimento, o vice-presidente da comissão, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), afirma que Fakhoury foi identificado como um patrocinador de notícias falsas e cita como exemplo três fontes de veiculação de conteúdo na internet, em especial nas redes sociais: Instituto Força Brasil, Terça Livre e Brasil Paralelo.

"Esses canais estimularam o uso de tratamento precoce sem eficácia comprovada, aglomeração e diversas outras fake news sobre a pandemia", diz o autor do requerimento.

Os três sites e/ou blogs são considerados veículos de direita e são alinhados ao pensamento de Bolsonaro. Durante a pandemia da covid-19, houve produção e compartilhamento de conteúdos pertinentes ao ideário do chefe do Executivo federal, como o estímulo ao uso de medicamentos sem eficácia no tratamento da doença, como a hidroxicloroquina.

O Instituto Força Brasil —do qual Fakhoury é apontado como vice-presidente por senadores— também é investigado na comissão por ter supostamente ajudado a intermediar a negociação de lote duvidoso de vacinas Oxford/AstraZeneca entre o Ministério da Saúde e representantes da Davati Medical Supply.

O policial militar e lobista da Davati, Luiz Paulo Dominghetti, afirmou que o então diretor da logística da pasta, Roberto Dias, pediu propina de US$ 1 por dose comprada pelo governo.

Além disso, o Instituto Força Brasil chegou a projetar a criação de um aplicativo para oferecer o chamado "tratamento precoce" para a covid-19. A ideia não foi adiante. Por enquanto, nenhum tratamento farmacológico se mostrou eficaz para prevenir a doença.

A CPI da Covid já ouviu em depoimento o presidente do Instituto Força Brasil, tenente-coronel da reserva Hélcio Bruno de Almeida. Ele negou ter presenciado oferta ou cobrança de propina e negou quaisquer irregularidades.

Fakhoury está sob suspeição na CPI ainda como possível membro do chamado gabinete paralelo, estrutura de assessoramento informal ao presidente Bolsonaro à revelia de orientações do Ministério da Saúde. Em agosto deste ano, senadores do colegiado aprovaram a quebra dos sigilos bancário, fiscal, telefônico e telemático do empresário.

O depoente de hoje também é presidente do PTB de São Paulo. O partido é comandado pelo ex-deputado federal Roberto Jefferson, aliado de Bolsonaro e preso por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).

A CPI já recebeu documentos da Receita Federal, do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) e de instituições bancárias que contêm informações sobre as movimentações de Fakhoury.

Ele consta no rol de investigados do inquérito das fake news no STF, sob condução de Moraes.

Terça Livre

O Terça Livre, um dos sites conservadores que podem ter recebido dinheiro de Fakhoury, segundo aponta a apuração da CPI, pertence ao blogueiro Allan dos Santos. Ele é investigado em dois inquéritos no STF por disseminação de fake news e ameaça e incitação ao crime contra autoridades.

Em setembro, a ministra Rosa Weber determinou a manutenção da quebra dos sigilos telefônico, telemático, bancário e fiscal de Santos —considerado uma espécie de líder informal das redes bolsonaristas e muito ligado aos filhos do presidente.

Na CPI, Santos também é citado como membro do chamado gabinete paralelo.

A proximidade entre o fundador do Terça Livre e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente da República, foi demonstrada em documentos obtidos pelo colegiado, aos quais a TV Globo teve acesso. Em reportagem da emissora, foram exibidos trechos de diálogos entre o blogueiro e o parlamentar.

Nas conversas, Santos pede ajuda a Eduardo para obter financiamento junto ao empresário Luciano Hang, dono da rede varejista Havan, que prestou depoimento ontem (29) à CPI.

O deputado do PSL encaminha então o número do telefone de Hang, mas indaga: "Quer que eu fale algo a ele para te introduzir?". Allan dos Santos responde. "É melhor". Horas depois, o filho do presidente envia nova mensagem ao blogueiro, já com a resposta do dono da Havan.

Ele disse que você pode entrar em contato com ele. Falei que você é o nosso cara da imprensa para um projeto que desenvolvemos aqui nessa semana de aulas do Olavo."Eduardo Bolsonaro, se referindo a Olavo de Carvalho, professor, astrólogo e guru de Jair Bolsonaro

No dia seguinte, o blogueiro bolsonarista volta a entrar em contato com Eduardo. "Sobre o Hang, quando ele voltar da Europa, falarei com ele." O filho do presidente então responde: "Beleza. Falei no macro com o Hang".

Quatro meses depois, Allan dos Santos escreve nova mensagem a Eduardo, desta vez, comemorando o fechamento de patrocínio para o seu programa. "Luciano Hang está dentro. Patrocínio para o programa."

Fonte: UOL