Política

'É lamentável que STF tenha sido infiltrado por pessoa sem ética', diz Lewandowski sobre estagiária





Tatiana Garcia Bressan, que estava no gabinete do magistrado, era tratada como informante por blogueiro bolsonarista investigado pela Corte

ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski foi surpreendido pela informação de que o blogueiro bolsonarista Allan dos Santos tratava uma estagiária do gabinete do magistrado como informante.

Como revelado pela Folha, Tatiana Garcia Bressan, 45, trocava mensagens com o bolsonarista e ouviu dele o pedido de que fosse "nossa informante lá". "Será uma honra. Estou lá kkk", respondeu ela, que passou a repassar a ele informações que julgava relevantes.

"É lamentável que a Suprema Corte tenha sido infiltrada por uma pessoa sem compromisso com ética pública e a democracia", afirmou Lewandowski depois de ser questionado pela coluna.

O material com as mensagens foi obtido por meio de quebra de sigilo telefônico determinado pelo STF —Allan dos Santos é investigado em dois inquéritos. Um deles apura a disseminação de fake news e o outro busca identificar quem financia as ações e atos antidemocráticos a favor de Jair Bolsonaro.

Tatiana estagiou no gabinete de Lewandowski de 19 de julho de 2017 a 20 de janeiro de 2019. Na época, Allan dos Santos ainda não era investigado —o primeiro inquérito contra ele só foi aberto em março daquele ano.

As conversas entre os dois começaram em 23 de outubro de 2018 e se estenderam até 31 de março de 2020, quando ela já não estava mais no STF.

Na primeira conversa, Tatiana entra em contato com Allan, demonstrando interesse em trabalhar na equipe da deputada bolsonarista Bia Kicis (PSL-DF), e diz que está no gabinete de Lewandowski.

Allan dos Santos demonstra interesse e pede a ela que vire informante.

As informações prestadas por Tatiana nada revelam de irregular no gabinete do ministro Lewandowski.
Ela afirma, por exemplo, que o magistrado "atende prontamente" quando recebe um telefonema do general Eduardo Villas Bôas, ex-comandante do Exército que teria trânsito, segundo Tatiana, "com quase todos os ministros".

A estagiária palpita que "quem soltará o Lula [então preso] será o Lewandowski", que se tornara prevento para decisões sobre a execução da pena do petista. Faz piada com o fato de Dias Toffoli definir o golpe de estado de 1964 como "movimento" e revela que tinha um perfil fake nas redes sociais para falar mal do próprio STF.

"Não estou atuando no meu perfil do twitter pq meu chefe disse que não posso falar de política a não ser estando fora do STF, então estou nesse perfil aqui - @visittabb lá no twitter pq não aguento! Kkkkk", diz.​

No dia 17 de novembro de 2019, quando não era mais estagiária de Lewandowski, Tatiana divulgou foto de protesto em favor de Jair Bolsonaro e escreveu, em maiúsculas: "FORAAAAAAA GILMAR".

- Moraes determina que PF ouça ex-estagiária de Lewandowski ligada a blogueiro bolsonarista

Tatiana Garcia Bressan estagiou no gabinete de Lewandowski de 19 de julho de 2017 a 20 de janeiro de 2019

O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), determinou, na manhã desta quarta-feira (6), que a Polícia Federal ouça imediatamente a ex-funcionária do gabinete do ministro Ricardo Lewandowski tratada como informante do blogueiro bolsonarista Allan dos Santos.

A ex-estagiária será ouvida no âmbito do inquérito das fake news, no qual Allan é investigado. O blogueiro também é alvo de apuração do Supremo para identificar quem financia essas ações e os atos antidemocráticos.

Trocas de mensagens reveladas pelo jornal “Folha de S.Paulo” e confirmadas pela CNN mostram que o blogueiro pediu a Tatiana Garcia Bressan que atuasse como informante. Ela estagiou no gabinete de Lewandowski de 19 de julho de 2017 a 20 de janeiro de 2019.

Contato

De acordo com o material obtido pela Folha e confirmado pela CNN, as conversas começaram em 23 de outubro de 2018 e vão até 31 de março de 2020.

A primeira conversa entre os dois começou a partir de um contato de Tatiana. Ela procura Allan, demonstrando interesse em trabalhar na equipe da deputada bolsonarista Bia Kicis (PSL-DF), e diz que está no gabinete de Lewandowski.

“Fique como nossa informante lá”, diz o blogueiro, cerca de duas horas depois do início da conversa. A estagiária responde prontamente: “Será uma honra. Estou lá kkk”.

O blogueiro Allan dos Santos e Tatiana Garcia Bressan foram procurados pela CNN, mas ainda não se manifestaram.

- Definido o novo ministro, Moraes decidirá se vai para "turma da Lava Jato"

O ministro Alexandre de Moraes não está com pressa para decidir se muda ou não para a Segunda Turma do STF, conhecida como a "turma da Lava Jato" por abrigar a parte que restou dos processos ligados à operação.

Segundo interlocutores do ministro, que atualmente integra a Primeira Turma do tribunal, ele deve esperar a aprovação do nome do novo magistrado para fazer a sua opção.

Do ponto de vista pessoal, a transferência teria prós e contras: se significa participar de um colegiado com ações importantes e de grande repercussão, também implica riscos — como o de fazer com que o ministro, em caso de discordância, entre em rota de colisão com o ferino, e hoje decano do STF, Gilmar Mendes.

A decisão de Moraes é aguardada com apreensão não apenas por políticos enroscados na Lava Jato, mas também pelo clã Bolsonaro.

É na Segunda Turma que está a ação que irá definir se o senador Flávio Bolsonaro, filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro, tem direito a foro privilegiado no caso da rachadinha.

Se o julgamento do caso Flávio (adiado no mês passado) ocorresse hoje, muito provavelmente resultaria em empate. Isso porque Gilmar Mendes e Kassio Nunes Marques — dois dos atuais quatro integrantes da Segundo Turma, que tem ainda Ricardo Lewandowski e Edson Fachin— são sabida e declaradamente favoráveis ao pleito do réu, de fazer uso do foro privilegiado a fim de escapar das garras de juízes da primeira instância.

Já a entrada de André Mendonça na Segunda Turma representaria a esperança do clã de contar com um voto de desempate em benefício de Flávio.

E é esse o jogo que Alexandre de Moraes pode melar caso requisite para ele a vaga disponível na turma da Lava Jato. Neste momento, esse lugar pertence ao novato indicado por Bolsonaro. Mas se Moraes formalizar o pedido de transferência à presidência da Corte antes da posse do novo ministro, fica com a cadeira.

A sabatina de André Mendonça, para ansiedade dos Bolsonaro, segue sem data.

Até que ela aconteça, Alexandre de Moraes — que já foi xingado e achincalhado publicamente pelo presidente e seus três filhos mais velhos— seguirá pensando, e palitando os dentes.

Fonte: Folha - CNN Brasil - UOL