Saúde

Vacina da Pfizer funciona melhor com intervalo de 8 semanas do que de 21 dias, indicam estudos





Especialistas criticam decisão do governo de SP de reduzir o tempo entre primeira e segunda dose do imunizante

A decisão do governador João Doria (PSDB) de antecipar o intervalo para a aplicação da segunda dose da vacina da Pfizer de oito semanas para 21 dias vai contra as evidências científicas.

Atualmente, em todo o território brasileiro, o intervalo preconizado entre a primeira e a segunda dose é de 12 semanas. Em São Paulo, o intervalo é de três semanas (21 dias) desde a última terça (19). A mudança não vale para os adolescentes, que continuam com o intervalo de oito semanas entre as duas doses.

Diversos estudos científicos já demonstraram que a proteção conferida pela vacina é maior quanto mais longo for o intervalo entre as doses. Segundo especialistas, a imunidade não só é maior em relação à taxa de anticorpos produzidos, mas também pela duração da resposta imune.

Na última segunda (18), um estudo publicado no formato pré-print (ainda sem avaliação por pares, portanto) apontou que o intervalo usado tradicionalmente pela farmacêutica —e estipulado no ensaio clínico— de 21 dias resultou em uma perda de até 99% dos anticorpos anti-Sars-CoV-2 em circulação no corpo oito meses após a segunda dose. Já um intervalo maior entre as doses pode reduzir essa queda, diminuindo a necessidade de uma dose de reforço.

Um outro artigo recente publicado no periódico BMJ (British Medical Journal) apontou que o nível de anticorpos neutralizantes no sangue —capazes de bloquear a entrada do vírus no organismo— é cerca de 2,3 vezes maior se as duas doses são dadas em um intervalo de pelo menos 6 a 14 semanas em comparação a um intervalo de 3 a 4 semanas.

Um estudo publicado na revista The Lancet feito pela própria farmacêutica indicou também uma queda da efetividade da vacina com seis meses. Os dados de mais de 3,4 milhões de pessoas que receberam as duas doses do imunizante nos Estados Unidos foram avaliados entre dezembro de 2020 e agosto de 2021. A redução de 88% para 46% se deu para proteção contra infecção pelo coronavírus; a mesma análise mostrou que a efetividade para evitar internação e morte se manteve alta, em 90%.

A coordenadora do Programa Estadual de Imunizações de São Paulo, Regiane de Paula, disse à Folha que a redução do intervalo para 21 dias só irá atingir as pessoas com mais de 18 anos que receberam a primeira dose há mais de 56 dias (o equivalente a oito semanas) e ainda não voltaram para a segunda.

“Estamos falando principalmente dos faltosos que não retornaram para a segunda dose. Hoje no estado de SP temos 4,2 milhões de pessoas que não retornaram para tomar a D2 [segunda dose], e dessas os faltosos da Pfizer são cerca de 2,2 milhões”, afirmou.

De Paula não respondeu se essa medida, por ir contra os dados mais recentes divulgados pela própria farmacêutica, irá afetar a proteção. De acordo com o governo estadual, o embasamento científico levado em consideração para a decisão é a da própria bula da Pfizer e do observado no ensaio clínico do imunizante.

Para o pediatra Renato Kfouri, diretor da Sbim (Sociedade Brasileira de Imunizações), os dados são inequívocos de ganho do maior intervalo entre as doses. “Intervalos maiores mostram não só uma proteção mais robusta, mas também mais longeva. O que sabemos hoje é que a duração da resposta imune é maior com intervalo de pelo menos oito semanas, e não 21 dias”, explica.

Na última sexta (15), o ministro da Saúde Marcelo Queiroga anunciou o intervalo de oito semanas entre as doses da vacina AstraZeneca, cujas pesquisas também indicaram uma resposta imune melhor quanto maior o espaçamento entre as doses.

“A alteração para o esquema de oito semanas, como foi feito para a AstraZeneca, é melhor segundo os dados. Para a decisão estadual de reduzir para 21 dias a Pfizer, eu diria que é um equívoco”, afirmou Kfouri.

A infectologista e professora da Unicamp Raquel Stucchi afirma que a única justificativa para a redução de um intervalo entre as doses da Pfizer seria uma situação de descontrole da pandemia, o que não é o caso no momento.

“Só se fosse necessário aumentar o número de pessoas vacinadas para reduzir a taxa de transmissão do vírus, mas esse não é o momento que estamos vivendo. Estamos em um momento epidemiológico que nos dá segurança de fazer a D2 no prazo de 12 semanas”, disse.

Stucchi afirmou ainda que vê com preocupação uma possível proteção menor nas pessoas que receberem a segunda dose no prazo mais curto. “Essas pessoas quase com certeza terão que fazer uma terceira dose daqui a seis meses, e isso não se justifica nesse momento”, afirma.

Para ela, a decisão do governo estadual se dá mais por política do que por embasamento científico. A mesma visão é compartilhada por Kfouri, da Sbim. “Não há evidência científica hoje que embase uma decisão de 21 dias. Isso vai na contramão de tudo que temos lido e visto”, diz.

Atualmente, São Paulo já aplicou mais de 69 milhões de doses das vacinas contra Covid. Os dados mostram que 83,21% da população do estado já recebeu ao menos uma dose e que 64,87% dos paulistas estão com o esquema vacinal completo.

- Plano de expansão de radioterapia no SUS está próximo de 50% da meta

Tratamento de radioterapia (Mateus Pereira/AGECOM/ Gov/BA)

Entre janeiro e agosto de 2021, o Ministério da Saúde entregou 13 novos equipamentos de radioterapia a hospitais habilitados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), elevando para 49 o total de dispositivos instalados por meio do Plano de Expansão da Radioterapia no SUS.

Criado em 2012 e iniciado em 2013, o plano prevê a instalação de 100 novos equipamentos de teleterapia. O objetivo é ampliar a oferta de um dos principais procedimentos no tratamento do câncer, a radioterapia, “reduzindo os vazios assistenciais e atendendo às demandas regionais de assistência oncológica” na rede pública de saúde.

Segundo o mais recente balanço divulgado sobre a implementação do plano, até o início deste mês 11 dos 49 equipamentos já instalados ainda dependiam da obtenção da licença de operação para começar a funcionar.

Além disso, havia, em agosto, mais quatro projetos de instalação em fase de execução: Hospital Universitário Santa Terezinha, em Joaçaba (SC); Santa Casa de Caridade, de Bagé (RS); Hospital Universitário Severino Sombra, de Vassouras (RJ) e Hospital Cura D’ars - Sociedade Beneficente São Camilo, em Fortaleza (CE). Só para equipar o Cura D´ars, o Ministério da Saúde anunciou, em agosto do ano passado, que investiria, à época, R$ 8,5 milhões.

Em novembro de 2017, o então ministro da Saúde Ricardo Barros chegou a declarar que a expectativa era de que os 100 novos equipamentos estivessem instalados até o fim de 2019. Embora o total de equipamentos instalados ainda não chegue a 50% do previsto no plano de expansão de 2012, a análise dos balanços divulgados mensalmente revela que, com o andamento de obras paralisadas e a aprovação de projetos, a ampliação da rede vem se acelerando.

Em dezembro de 2018, havia apenas 12 projetos concluídos e 33 em execução. Um ano depois, 21 equipamentos já tinham sido instalados e 17 obras estavam em andamento. Em dezembro de 2020, o total de soluções de radioterapia entregues chegou a 36, e oito projetos estavam sendo executados.

“Temos muito orgulho de apresentar esses dados”, disse nessa quarta-feira (20) a diretora do Departamento de Atenção Especializada e Temática do Ministério da Saúde, Maíra Botelho. “O objetivo é expandir e integrar o tratamento cirurgia-quimio-radioterapia, tudo em um mesmo hospital, para evitar que os usuários tenham que perambular pela rede [de saúde], perdendo tempo de tratamento”, acrescentou Maíra, ao participar de uma cerimônia na qual o Ministério da Saúde apresentou um balanço das ações da pasta na luta contra o câncer de mama.

O evento foi parte das ações do Outubro Rosa, que busca conscientizar a população em geral sobre a importância de as mulheres estarem atentas à importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama, uma doença que pode afetar até 66 mil mulheres anualmente e que é a principal causa de morte entre as brasileiras.

Segundo a organização não governamental Oncoguia, apesar de cerca de 60% dos pacientes diagnosticados com algum tipo de câncer se submeterem à radioterapia, a oferta de tratamento sempre foi uma das mais deficitárias do Sistema Único de Saúde. “A garantia de acesso à radioterapia é um dos maiores desafios do país, sobretudo no SUS”, diz a organização em sua página na internet.

Fonte: Folha - Agência Brasil