Política

Drible no teto é começo de avanço generalizado de gastos, diz ex-presidente do BC





Gustavo Loyola afirmou que a prioridade do governo com a reeleição do presidente Bolsonaro é preocupante do ponto de vista fiscal

Em entrevista à CNN, o ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola analisou com preocupação a intenção do governo de furar o teto de gastos para acomodar o Auxílio Brasil.

“Acho que a quebra do teto é apenas o começo, vai haver um avanço generalizado sobre o orçamento, pois o governo é o maior interessado em aumentar os gastos em um ano de eleição”, avaliou Loyola.

O ex-presidente do BC afirmou que a prioridade do governo com a reeleição do presidente Bolsonaro é preocupante do ponto de vista fiscal. Ele disse que o programa é necessário por aumentar a transferência dos mais pobres ainda mais depois dos estragos causados pela pandemia, mas a saída tomada foi a pior possível.

“É preciso custear o programa com o corte de despesas como do ‘orçamento secreto’ do Congresso, que já são R$ 20 bilhões”.

Loyola analisa que a solução buscada foi ruim justamente pelo risco dos mais pobres serem atingidos pela inflação por causa da forma como o novo programa será criado e a reação do mercado a partir dela, o chamado “efeito rebote”.

“Os mais pobres vão ser os mais atingidos pela inflação. Com isso, haverá aumento de juros, que por sua vez leva a redução do crescimento. Isso levará ao desemprego. Realmente é uma solução muito ruim”, afirma.

Guedes perde imagem fiscalista

Na avaliação do ex-presidente do Banco Central, Paulo Guedes começa a perder a imagem de austeridade que tinha no início do governo Bolsonaro.

“A questão é até que ponto o ministro Paulo Guedes vai se sustentar no cargo. Ele cedeu na questão do teto, mas e daqui para frente?”.

Para Gustavo Loyola, a “debandanda” que ocorreu no ministério da Economiahá alguns dias foi um péssimo indício ao mercado de que Guedes já não tem mais a mesma força de antes.

“Se realmente ele não tem apoio do presidente, acho difícil que o mercado dê a ele o mesmo grau de confiança que já deu no início do governo”, acrescentou.

Banco Central isolado

Loyola também comentou sobre o papel do Banco Central diante desse imbróglio. Ele acredita que a situação tende a transformar o BC no “grande vilão” da história, pois irá começar a aumentar os juros para tentar conter a inflação.

O ex-presidente da entidade diz que isso tende a isolar o BC, que por sua vez não conseguirá segurar a alta inflação sozinho. Ele avalia que é um cenário difícil para a autonomia do Banco Central, que fica acuado.

“Não se pode ter ingenuidade de achar que o Banco Central sozinho vai segurar a inflação. Normalmente a história nos mostra que em situações como essa a autonomia do BC começa a ser ameaçada, como vimos na Argentina”, completou.

- Bolsonaro quer se reeleger “a qualquer preço”, diz Meirelles

 

O secretário de Fazenda e Planejamento de São PauloHenrique Meirelles, diz que as mudanças negociadas pelo governo de Jair Bolsonaro (sem partido) com o Congresso farão com que o teto de gastos deixe de ser eficaz. Segundo ele, o presidente “quer ganhar eleição a qualquer preço”.

 

Meirelles é considerado o pai da medida. Ele foi o mentor da Emenda Constitucional do teto de gastos, criado em 2016, quando era ministro da Fazenda no governo de Michel Temer (MDB).

 

Segundo ele, há um retrocesso no Brasil. “As críticas que fazem ao teto é porque ele é rígido, não tem flexibilidade. Mas é um limite, não pode ter flexibilidade”, declara em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo publicada neste domingo (24.out.2021).

 

Bolsonaro e aliados querem alterar a regra de correção do teto de gastos. A mudança, na prática, expande as despesas do governo acima do esperado em 2022, ano eleitoral. A alteração foi incluída na PEC (Proposta de Emenda Constitucional) dos Precatórios. Nas contas do governo, ajudará a abrir espaço de R$ 39 bilhões no Orçamento de 2022.

 

Depois da manobra, 4 integrantes da equipe do ministro Paulo Guedes (Economia) pediram demissão. São eles:

 

 

Meirelles afirma que as mudanças propostas não representam o fim do teto de gastos, mas o seu enfraquecimento. “Tiraram certas despesas do teto, mas outras estão sujeitas. Eu diria que o teto foi violado”, fala.

 

“Se não se quer tomar as medidas necessárias para cortar despesas, quer voltar ao período da recessão que o Brasil entrou. A vantagem do teto é ser rígido e não dar espaço para manobra, interpretação, discussão subjetiva que acabou se instalando”, afirma.

 

O ex-ministro diz ter dúvidas de que ter mais dinheiro para distribuir às camadas mais pobres da população possa representar uma vantagem eleitoral. Segundo ele, “o melhor programa social que existe é o emprego”. Além disso, “a sensação de bem-estar da população está péssima e o crescimento não deslancha”.

 

Para Meirelles, a manobra pode se virar contra Bolsonaro caso ele seja reeleito em 2022. “Ele está agindo no curto prazo, tentando ganhar no ano que vem a qualquer preço. Mas o que digo é que os efeitos negativos podem superar a distribuição desses R$ 30 bilhões [do Auxílio Brasil fora do teto]”, diz.

 

“Entrar 2023 com a taxa de juros elevada, com a economia estagnada, o crescimento elevado e com um déficit insustentável. Uma coisa perigosa é começar a achar vantagem no aumento da inflação porque permite gastar mais.”

- Redes tucanas: Doria é líder em seguidores e interações, mas Eduardo cresce

O governador de São Paulo, João Doria, é líder em número de seguidores e interações nas redes sociais entre os candidatos das prévias do PSDB. O paulista tinha, até 20 de outubro, 5.221.638 followers no Facebook, Instagram e Twitter.

Seu concorrente direto, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, tem 1.135.937 seguidores. A partir de julho, o gaúcho ganhou tração nas redes. Os dados foram levantados pela Bites Consultoria a pedido do Poder360.

Doria usa as redes com mais frequência. De 1º de janeiro de 2021 a 20 de outubro, fez 5.120 publicações, contra 2.209 de Leite. O 3º candidato nas prévias tucanas, o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio, tem presença tímida e pouco frequente no mundo virtual.

Engajamento e picos de interação

Doria lidera, também, no quesito interações. Neste ano, ele teve 39,4 milhões ante 9,1 milhões de Leite. Os dados englobam tanto mensagens positivas quanto negativas.

O pico para o governador paulista foi em 17 de janeiro, quando teve início a vacinação contra covid-19 com a CoronaVac. No dia, ele registrou 1 milhão de interações.

Leite teve seu ápice em 1º de julho, quando disse pela 1ª vez publicamente que é gay. Foram 495 mil interações.

O engajamento dos posts do governador gaúcho registraram cresceram. De julho a 20 de outubro, foram registradas 4.914.530 interações. Nos 4 meses anteriores a julho, esse número foi de 2.891.802.

Nos posts publicados pelos perfis do PSDB, Doria teve mais atenção. Foram 1.385 publicações (409,4 mil interações) mencionando o paulista ante 1.056 (266,5 mil) mencionando o gaúcho.

Prévias

João Doria, Eduardo Leite e Arthur Virgílio concorrem nas prévias do PSDB, que serão realizadas em 21 de novembro. A votação interna definirá quem será o candidato presidencial do partido em 2022.

Doria e Leite polarizam as prévias. A disputa começou com os 2 se estudando. Nas últimas duas semanas, porém, ataques começaram a surgir.

A equipe do governador paulista levantou suspeitas a respeito do appproduzido para que filiados do partido votem. Leite, na sequência, comparouDoria ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Na última 5ª feira (21.out.2021), aliados de Leite entraram com processo na executiva nacional do partido dizendo que o PSDB de São Paulo, dominado por Doria, teria fraudado a filiação de 92 prefeitos e subprefeitos do Estado.

- PT apoiará Auxílio Brasil, mas programa trará problemas, diz Humberto Costa

O líder do partido no Senado, senador Humberto Costa (PE), diz que o PT apoiará a criação do Auxílio Brasil, programa social idealizado pelo governo Bolsonaro para substituir o Bolsa Família, marca das gestões petistas. No entanto, afirma que o objetivo do programa é “basicamente eleitoral” porque é provisório e provocará problemas por não ter uma “base para sua efetivação”.

“Nós vamos logicamente aprovar se vier essa proposição. Achamos até que o valor deveria ser maior. Mas certamente nós vamos ter um grande problema para administrar que é o fato de que o governo é está criando um programa sem ter uma base efetiva para a sua efetivação”, declarou em entrevista ao Poder360.

Para o congressista, o programa “está sendo feito de maneira improvisada sem uma previsão adequada dos recursos necessários para a sua implementação”. Humberto Costa diz que a forma de cadastramento semelhante ao formato do Auxílio Emergencial permitirá “tantas fraudes” como as que foram registradas no início do programa provisório criado pelo governo.

O senador foi enfático ao ser questionado sobre a posição do PT em relação ao teto de gastos, que pode ser furado para a criação do novo programa social.

“Veja, o PT já defende há algum tempo uma mudança no teto de gastos. Na verdade, a cada ano que se passa há muitas exigências da sociedade que deixam de ser atendidas por conta do estabelecimento do teto, que na verdade não leva em consideração sequer o crescimento econômico que o país possa ter.”

De acordo com Humberto Costa, o governo Lula foi “fortemente defensor do equilíbrio fiscal” e o governo Dilma teve problemas graves porque apresentou uma proposta de renúncia fiscal para tentar estimular determinados setores, e o Congresso estendeu “violentamente” o conjunto de atividades desoneradas.

O senador deu entrevista ao Poder360 na 5ª feira (23.out.2021), por videoconferência. Assista (27min19seg): 

CPI DA COVID

Membro da comissão e do chamado G7, grupo de senadores que se dizem oposição ou independentes ao governo, Humberto Costa diz que o desentendimento dos senadores com o relator Renan Calheiros (MDB-AL) já está “em fase de superação”.

“Houve um vazamento do teor do relatório e isso gerou um mal-estar porque qualquer mudança que acontecesse a partir de então teria que ser creditada aos integrantes que tiveram conhecimento posteriormente”, afirma o senador.

O congressista diz acreditar que até 3ª feira (26.out.2021), dia da votação do relatório, todos os 7 senadores do grupo terão capacidade de votar juntos.

Ao ser indagado se a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) está terminando no momento certo, o senador disse que sim. Afirmou que o relatório está passando por um “pente-fino” e que eventuais nomes e empresas podem ser incluídos e outros retirados, para que não se cometa nenhum “injustiça”.

Humberto Costa disse também que há uma proposta de criação de um observatório, depois do encerramento da CPI, para acompanhar se os órgãos competentes e os agentes que receberão os resultados do trabalho da comissão farão sua parte.

“Com esse observatório nós vamos ver se cada instituição que recebeu o relatório cumpriu com a sua parte”, afirmou.

O petista disse que os senadores também contarão com a pressão da opinião pública e da própria mídia “para que todos aqueles que receberem um relatório com a função de dar andamento assim o façam”.

DILMA EM 2022

Questionado se a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) seria candidata em 2022, o senador disse acreditar que a petista “já deu a sua contribuição” ao país.

“Ela foi muito injustiçada, tanto do ponto de vista da realização do impeachment, quanto do ponto de vista de muitos aspectos positivos do seu governo que não são reconhecidos hoje, embora eles tenham sido vários. Mas da própria parte dela, uma decisão de não se submeter mais ao escrutínio popular”, disse.

Humberto Costa afirmou que Dilma continuará contribuindo com uma “função relevante” na fundação partidária do PT.

PLANOS ALÉM DE LULA

O partido não tem planos só para a corrida presidencial em 2022. Para o senador, a presença do ex-presidente Lula (PT) na disputa já é certa. Há outro forte objetivo da sigla na disputa: aumentar a bancada no Congresso.

“Vamos trabalhar para que a nossa bancada tenha um crescimento significativo. Para que outros partidos de esquerda também cresçam significativamente e para que nós possamos sair um pouco mais dessa lógica do presidencialismo de coalizão”, disse Humberto Costa.

De acordo com o petista, em alguns casos, o sistema de coalizão, como no governo Bolsonaro, está provocando “o caos”.

 

Fonte: CNN Brasil - Poder360