Política

Fala de Bolsonaro sobre Aids e vacina estará no relatório da CPI





O vice-presidente da CPI da Covid, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), disse no UOL News desta manhã que a fala mentirosa do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sobre a vacina contra o novo coronavírus e a Aids será incluída no relatório final da comissão. O senador chamou Bolsonaro de "delinquente contumaz".

Durante uma live em suas redes sociais na última quinta-feira (21), Bolsonaro citou inexistentes "relatórios oficiais" no Reino Unido para afirmar que vacinados têm mais facilidade para desenvolver síndrome de imunodeficiência adquirida (Aids). Ontem, o Facebook e o Instagram retiraram o vídeo da transmissão do ar.

"A reiteração de crime do presidente da República será acrescentada ao relatório, sem dúvida nenhuma, além da providência que estamos fazendo da comunicação ao ministro Alexandre de Moraes", disse Randolfe.

O senador afirmou que a CPI deverá encaminhar um ofício a Moraes sobre a fala mentirosa de Bolsonaro para que ela seja investigada no âmbito do inquérito das fake news, relatado por ele no STF (Supremo Tribunal Federal). Randolfe disse que a sugestão de encaminhamento foi feita pelo senador Alessandro Vieira (Cidadania-ES), conforme antecipado ontem pelo colunista Chico Alves.

A primeira providência vai ser a comunicação do fato, do crime estar sendo reiterado. A partir daí, obviamente a CPI pode indicar sugestões de providências a serem tomadasRandolfe Rodrigues

"Delinquente"

Randolfe disse que o país tem um "delinquente contumaz à frente da Presidência da República". Para ele, a associação mentirosa que Bolsonaro fez entre Aids e a vacina é crime e há motivos para prisão preventiva do presidente.

"Temos que ter consciência de lidar com esse delinquente. Esse delinquente permanece na Presidência da República sobre os auspícios e cumplicidade do presidente da Câmara dos Deputados (Arthur Lira), e a esta altura também da Procuradoria-Geral da República, que não repele este tipo de comportamento", afirmou o senador.

O vice-presidente da CPI afirmou que se Bolsonaro não estivesse no cargo de presidente da República poderia ter sido preso pela mentira que disse na live. O senador também vê uma parcela de culpa das redes sociais.

Lamentavelmente este tipo de prática reiterada e criminosa, no Brasil, tem o cumpliciamento das redes sociais. Há muito já deveria ter ocorrido com Jair Bolsonaro a mesma coisa que ocorreu com seu congênere, o Donald Trump, nos Estados Unidos. Há muito que ele já deveria ter sido banido das redes sociaisRandolfe Rodrigues

Prisão de Bolsonaro

O senador afirmou que vai trabalhar para que Bolsonaro seja preso, mesmo após sair da presidência. Para ele, o relatório da CPI deixa bem claro que o presidente cometeu vários crimes.

"É meu dever trabalhar com afinco para isso (para que Bolsonaro seja preso). Não por ele ser Jair Bolsonaro, ser presidente da República, ou pelas circunstâncias de estar na oposição dele. É porque os crimes são latentes", afirmou o político.

O relatório da CPI, apresentado na última terça-feira (19) pelo relator da comissão, Renan Calheiros (MDB-AL), sugeriu o indiciamento de Bolsonaro por noves crimes, praticados durante a pandemia. Dentre eles, o presidente é acusado de crimes contra a humanidade e crimes de responsabilidade.

Os crimes transpiram, o crime é continuado, reiterado. É também dever civilizatório, histórico e moral nosso trabalhar para que as consequências desse relatório ocorram, sejam em relação a ele, sejam àqueles que atuaram em conjunto com eleRandolfe Rodrigues

OMS recomenda vacinação para portadores de HIV

A OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda que portadores de HIV que estejam em fase Aids, com imunidade muito baixa, não só se vacinem como tomem a dose de reforço da vacina contra a covid-19, algo já disponibilizado no Brasil para imunossuprimidos 28 dias após a segunda dose.

Também não há nenhuma evidência que portadores de HIV desenvolvam mais efeitos colaterais do que a população em geral, de acordo com a IDSociety (Sociedade de Doenças Infecciosas dos Estados Unidos).

No documento de perguntas e respostas atualizado em 26 de setembro, a IDSociety afirma que os efeitos colaterais em portadores de HIV "ainda estão sendo estudados", mas os dados atuais não sugerem mudanças para este grupo.

"Os efeitos colaterais mais comuns entre os participantes incluem dor e inchaço no local da injeção, fadiga e dor de cabeça. Um número inferior relatou febre. Estes efeitos colaterais não duraram mais do que poucos dias, no máximo", diz o texto.

A "fonte" do que Bolsonaro falou é um texto anônimo publicado em um site em inglês recheado de teorias da conspiração, onde qualquer pessoa pode publicar qualquer coisa sem se identificar.

- Às vésperas de votação, relatório da CPI da Covid deve ter novas mudanças 

O relatório final da CPI da Covid vai à votação nesta terça (26) e a expectativa é de mais alterações no texto, lido na semana passada pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL). A principais mudanças devem ocorrer na lista de pedidos de indiciamento, com a inclusão de novos nomes. Entre eles está o do governador do Amazonas, Wilson Lima (PSL-AM), alvo de uma solicitação de complemento apresentada nesta segunda (24) pelo senador Eduardo Braga(MDB-AM).

O parlamentar amazonense relaciona contra Lima o cometimento dos crimes de epidemia com resultado de morte, prevaricação, responsabilidade, crime contra a humanidade e improbidade administrativa.

Braga também acusa o ex-secretário de Saúde do Amazonas Marcellus Campêlo de falso testemunho, crime contra a humanidade e prevaricação.

Além do documento apresentado por Eduardo Braga, a CPI também vai receber propostas alternativas dos senadores Alessandro Vieira (Cidadania-SE), Marcos Rogério (DEM-RO) e Eduardo Girão (Podemos-CE), os dois últimos integrantes da base governista.

A proposta de relatório do senador Alessandro Vieira difere do de Renan principalmente no número de pedidos de indiciamento. Vieira sugere uma lista com 17 pessoas, além do nome de Jair Bolsonaro, contra os 65 pedidos de indiciamento relacionados por Renan, mais o do presidente.

No caso do texto elaborado por Marcos Rogério é pedido que se investigue todos os gestores de saúde de estados e municípios, bem como governadores e prefeitos. O documento no governista, porém, nega qualquer corrupção por parte do governo federal.

O complemento a ser apresentado por Girão vai na mesma linha do de Marcos Rogério, mas a expectativa é de que ele trate da suspeição do relator, Renan Calheiros.

Os votos em separado serão lidos na reunião também da terça e a previsão é de que não haja sessão plenária no Senado, o que permite aos integrantes da CPI estenderem o tempo de discussões e votação.

Relatório de Renan rachou CPI

Na semana passada o G7, grupo majoritário da comissão da Pandemia, vivenciou um racha após o relatório do senador Renan Calheiros vazar para a imprensa antes de ser discutido internamente. Isso fez com que a votação fosse adiada para esta terça e gerou as primeiras mudanças no documento.

A alteração mais sentida foi a redução de 11 para nove os tipos de crime que o colegiado acusa o presidente Jair Bolsonaro. Ficou de fora, por exemplo, o crime de genocídio contra a população indígena.

O texto apresentado por Renan tem mais de mil páginas e nele é pedido o indiciamento de Bolsonaro pelos crimes de epidemia com resultado de morte, infração a medidas sanitárias preventivas, emprego irregular de verba pública, incitação ao crime, falsificação de documentos particulares, charlatanismo, prevaricação, crime contra a humanidade e crime de responsabilidade.

Uma vez aprovado o relatório será enviado ao Supremo Tribunal Federal, à Procuradoria-Geral da República, à Câmara Federal e ao Tribunal Penal Internacional, em Haia, na Holanda.

Fonte: UOL - Congresso em Foco