Política

Bolsonaro fala em privatização da Petrobras, mas diz que medida teria 'complicação enorme'





Presidente diz que não é preciso ter 'bola de cristal' para prever novos reajustes nos combustíveis

Diante do avanço da inflação, principalmente dos combustíveis, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou nesta segunda-feira (25) que não é "malvadão" e que não quer "aumentar o preço de nada".

Em entrevista a uma rádio de Mato Grosso do Sul, o presidente também voltou a falar numa possível privatização da Petrobras, embora tenha destacado que um processo do tipo seria uma "complicação enorme".

"Quando se fala em privatizar a Petrobras, isso entrou no nosso radar. Mas privatizar qualquer empresa não é como alguns pensam, pegar a empresa, colocar na prateleira e amanhã quem dá mais leva embora. É uma complicação enorme, ainda mais quando se fala em combustível", disse.

"Se você tirar do monopólio do estado e botar no monopólio de uma pessoa apenas, particular, fica a mesma coisa —ou talvez até pior", declarou.

Em meados de outubro, em meio a críticas pela alta no preço do combustível, Bolsonaro afirmara ter "vontade" de privatizar a Petrobras.

Na entrevista desta segunda, Bolsonaro afirmo que devem ocorrer novos reajustes nos preços dos combustíveis.

"Alguns me criticam, o preço do combustível, o preço do gás. Eu não sou malvadão, eu não quero aumentar o preço de nada. Mas não posso interferir no mercado. Se pudesse, iriam dizer que eu queria interferir no preço da carne que vocês produzem no Mato Grosso do Sul", afirmou Bolsonaro.

Em outro trecho da mesma entrevista, Bolsonaro afirmou que não é preciso ter "bola de cristal" para saber que haverá novos aumentos dos combustíveis no país.

"Está para ocorrer outro aumento do combustível. Porque isso daí não tem que ter bola de cristal, é só ver o preço do dólar aqui dentro e o preço do barril lá fora. A legislação garante à Petrobras esse reajuste imediato. E não há interferência minha nesse caso", declarou.

O aumento dos preços é avaliado por auxiliares palacianos como um dos principais obstáculos para a campanha de reeleição de Bolsonaro.

O presidente também responsabilizou o relatório da CPI da Pandemia por, segundo ele, "prejudicar o ambiente de negócios" e ser um fator da alta do dólar.

O relatório final da CPI, apresentado pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL), sugere que Bolsonaro seja indiciado sob as acusações, dentre outras, de prevaricação, charlatanismo, crimes contra a humanidade e de responsabilidade.

"Há uma repercussão negativa forte fora do Brasil, sabemos disso. Me rotulam como genocida, curandeiro, falsificador de documentos, exterminador de índios. É um absurdo o que esses caras [senadores] fizeram, tem repercussão fora do Brasil. Prejudica nosso ambiente de negócios, não ajuda a cair o preço do dólar, leva uma desconfiança para o mundo lá fora", disse Bolsonaro.

"Há um estrago feito por parte da CPI, que atrapalha todos nós. Isso reflete quando você fala em dólar, aumento de combustíveis", complementou.

Na entrevista, o presidente reafirmou que o governo deve lançar um programa social para pessoas de baixa renda que garanta ao menos R$ 400 por família.

O Auxílio Brasil deve substituir o Bolsa Família.

Referindo-se a apelos pela extensão do Auxílio Emergencial, Bolsonaro disse que o país atingiu o limite da sua capacidade de endividamento.

"A nossa capacidade de endividamento ultrapassou do limite, estamos no limite do limite. Vamos atender sim o pessoal do Bolsa Família —que agora se chama Auxílio Brasil, mudou de nome— com R$ 400 por mês e ponto final. É onde pudemos chegar. A média do Bolsa Família ainda é R$ 192, estamos dobrando este valor, fazendo o possível", disse.

Para acomodar o aumento das despesas no próximo ano com o programa social turbinado, o governo propôs uma manobra que dribla o teto de gastos.

O objetivo da proposta é abrir um espaço orçamentário por meio de uma mudança na forma de corrigir anualmente a regra fiscal. A partir da alteração, será criado espaço nas contas do governo em 2022, com uma elevação de R$ 30 bilhões no teto.

O dinheiro será usado para turbinar temporariamente, até o fim do ano que vem, o Auxílio Brasil.

A medida, associada à limitação de precatórios, deve criar uma margem total de R$ 83 bilhões nas contas no ano das eleições. Parte do dinheiro deve ser deslocado para pagar emendas parlamentares —recursos direcionados pelos deputados e senadores a obras e projetos em suas bases.

A decisão, que teve o aval do governo e do ministro Paulo Guedes (Economia), levou a um pedido coletivo de demissão de quatro secretários responsáveis por comandar a área que controla o cofre do governo, a Secretaria Especial do Tesouro e Orçamento.​

Na entrevista desta segunda, Bolsonaro queixou-se ainda da decisão da China de não aceitar a entrada de carne brasileira em seu mercado por causa de dois casos atípicos da doença da "vaca louca".

"[O preço da carne] que caiu agora pouco mais de 10% o preço da arroba, tendo em vista que a China está há três, quatro semanas sem receber carne de nós. Por conta de uma notícia, no meu entender fraudulenta, mentirosa, de uma vaca louca em Minas Gerais", disse.

"Temos sim muita carne presa em frigoríficos, navios, até em portos chineses, que não vem para o mercado interno. Até pela questão de corte e congelamento, que não é aceita pelo mercado interno".

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- Churrasqueiro "presidencial" de Bolsonaro e de celebridades recebeu auxílio emergencial

O churrasqueiro Joas do Prado Pereira, mais conhecido como Churrasqueiro Tchê, que  o presidente Jair Bolsonaro e várias celebridades nacionais com refeições personalizadas e com cortes nobres de carne, também é um dos milhões de brasileiros que se valeram dos pagamentos do auxílio emergencial do governo, em 2020.

O gaúcho que no dia 17 pilotou a churrasqueira do Palácio da Alvorada no aniversário de 11 anos da primogênita do presidente Bolsonaro, Laura, e que no dia 10 também foi o responsável pelo churrasco na mansão de R$ 6 milhões do senador Flávio Bolsonaro é o mesmo que, recentemente serviu ao presidente um bife cotado a R$ 1800 o quilo, recebeu R$4,2 mil em auxílios no estado de Goiás, sendo cinco parcelas de R$ 600 e quatro parcelas de R$ 300.

O fato de Joas ter se beneficiado do auxílio emergencial não constitui um ato ilegal, mas contradiz a própria rotina do churrasqueiro gaúcho radicado no Centro-Oeste: ao mesmo tempo em que recebia o auxílio destinado às populações mais carentes afetadas pela pandemia, Joas atendeu cantores sertanejos em diversas lives, quando a pandemia ainda escalava no Brasil, e participou de viagens enquanto os depósitos eram feitos. Grande parte desta realidade está em seu Instagram, para cerca de 69 mil seguidores.  É possível ver em seu Instagram, ao longo da pandemia, diversos registros de churrascos realizados para celebridades como o sertanejo Leonardo, Gusttavo Lima, Eduardo Costa, Bruno da dupla Bruno e Marrone, Maiara e Maraisa, dentre outros.

Em dezembro de 2020, mês da última parcela, ele atendeu o presidente Jair Bolsonaro pela primeira vez.

A relação do churrasqueiro com Bolsonaro se estreitou em 2021. Desde o início do ano, Joas tem postado fotos ao lado de Michelle Bolsonaro, a primeira-dama da República, e do senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ). Foi em um desses banquetes no Palácio do Alvorada que Bolsonaro posou ao lado de Joas em uma propaganda do bife Wagyu, carne japonesa considerada uma das mais caras do mundo. O seu preço proibitivo, de R$ 1800 o quilo, se dá pelas condições especiais de criação do boi, alimentado com cerveja e gramíneas de qualidade superior.

O churrasqueiro ainda mantém os serviços de atendimento privado. Uma cotação de seus serviços mais recentes aponta que há duas opções de pratos, com carnes consideradas “de primeira”, como maminha, fraldinha, picanha e o bife Angus, proveniente de uma raça distinta de bois. Por um atendimento de quatro horas, Joas cobra entre R$ 110 e R$130 por pessoa, além de adicionais por eventuais pratos de acrílico e taxa de limpeza. Para deslocamentos e diárias, as taxas extras chegam a R$ 600. Como o churrasqueiro atende o mínimo de 20 pessoas, um banquete de sua autoria não sai por menos de R$2,2 mil reais.

Congresso em Foco procurou o “Churrasqueiro Tchê” em seu telefone comercial para confirmar com o churrasqueiro por que ele recebeu o auxílio emergencial, e se ele considerou necessário o valor em um momento onde não deixou de ser designado para trabalhos ao redor do país. O próprio churrasqueiro atendeu, mas desligou o telefone ao ser questionado sobre o tema.

Fonte: Folha - Congresso em Foco