Política

'Meio morno hoje, tô sem saco', diz Bolsonaro em live a jato após 5G, PEC e Moro





Presidente fez transmissão de pouco mais de 20 minutos e comentou visita à Itália

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) encerrou sua live semanal — que durou pouco mais de 20 minutos— demonstrando impaciência e afirmando estar "sem saco".

"Pessoal, muito obrigado aí. Estaremos no Paraná amanhã e a semana que vem marcharemos para Dubai, ok? Um abraço para todo mundo e obrigado pela audiência aí", disse o presidente. "Meio morno hoje, estou sem saco", completou.

Na conversa com apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada, na manhã desta quinta, Bolsonaro relatou aos simpatizantes estar gripado.

A frase na live em que Bolsonaro demonstra impaciência e diz estar "sem saco" foi posteriormente retirada do vídeo que está publicado nas páginas do presidente.

A curta duração da live de Bolsonaro nesta semana contrasta com participações anteriores, quando muitas ultrapassaram uma hora de transmissão.

A fala de Bolsonaro de que o dia teria sido "morno" ocorre em meio a vários acontecimentos em Brasília.

Na madrugada da quinta, a Câmara dos Deputados aprovou por margem estreita o texto-base da PEC (proposta de emenda à Constituição) dos Precatórios, que permite a expansão de gastos públicos e viabiliza a ampliação do Auxílio Brasil prometido pelo mandatário em ano eleitoral.

O presidente não abordou o resultado da votação em sua live. Mais cedo, na praça dos Três Poderes, Bolsonaro afirmou que os deputados contrários à PEC dos Precatórios "não querem atender os pobres".

"Ontem, mais de cem deputados votaram contra os pobres. Por birra, por ser eu presidente. Não querem atender os pobres. Nunca vi isso."

Outro tema ignorado por Bolsonaro em sua live a jato foi o depoimento prestado por ele à Polícia Federal sobre a acusação de interferência política na corporação.

No depoimento, colhido na noite de quarta, Bolsonaro declarou que o ex-ministro Sergio Moro condicionou uma troca no comando da corporação à sua indicação para uma vaga de ministro do STF (Supremo Tribunal Federal).

No depoimento desta quarta, Bolsonaro negou interferência na PF e afirmou que trocou seu comando por uma questão de diálogo.

"Nunca teve como intenção, com a alteração da direção geral [da PF], obter informações privilegiadas de investigações sigilosas ou de interferir no trabalho de Polícia Judiciária ou obtenção diretamente de relatórios produzidos pela Polícia Federal", afirmou o presidente, segundo transcrição da PF.

Parte da transmissão nas redes sociais nesta quinta foi acompanhada pelo ministro das Comunicações, Fábio Faria (PSD-RN). O ministro comentou o leilão do 5G realizado nesta quinta.

As maiores operadoras de telefonia móvel do país, Claro, Vivo e Tim,arremataram as principais faixas do certame organizado pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações). Juntas essas empresas pagarão R$ 6,8 bilhões em outorgas para a União.

"A gente vai fazer o leilão, o Brasil vai ser o primeiro país na América Latina a colocar o 5G funcionando", disse Faria na live.

Mais cedo, no evento de largada do leilão, Bolsonaro disse que a chegada da internet nas localidades hoje sem conexão na Amazônia permitirá que os próprios índios mostrem ao mundo como o governo trata a floresta.

"Estive na Itália e quando fui visitar a torre de Pisa [Bolsonaro disse Torre de Pizza], um garoto me perguntou se a Amazônia está pegando fogo", disse na ocasião.

O presidente aproveitou boa parte da live desta quinta para falar sobre sua recente viagem à Itália, para participar da cúpula do G20, numa tentativa de rebater as críticas por conta da agenda esvaziada que ele manteve na capital italiana.

Ele relatou novamente ter pisado involuntariamente no pé da primeira-ministra alemã, Angela Merkel, e ter mantido uma conversa com ela num jantar oferecido aos líderes do G20.

"Excepcional, diferente daquela mulher que a gente vê sempre sisuda, parece que sempre preocupada com muita coisa. Uma mulher descontraída. Se tivesse um salão de dança lá com toda certeza iria dançar com a Angela Merkel", afirmou.

Em outro momento, ele comentou seus passeios por Roma.

"Fomos reconhecidos, é uma cidade com muito turista. Tem lá momentos — mostramos na live aqui— turistas russas reconhecendo a gente, conversando, portugueses. Foi sensacional", disse Bolsonaro.

 

- Para atacar isolamento, Bolsonaro distorce conversa com diretor da OMS

 

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) distorceu em sua live o teor de uma conversa que teve com o diretor-geral da OMS (Organização Mundial de Saúde), Tedros Adhanom, durante a cúpula do G20 (grupo das 20 maiores economias do mundo). Bolsonaro utilizou a desinformação para atacar mais uma vez medidas de isolamento social, como o lockdown (isolamento total).

 

Ao afirmar que Tedros disse na conversa que "não apoiou o lockdown", de forma genérica, Bolsonaro não explicou que a resposta do diretor-geral da OMS se referia ao contexto atual e citava circunstâncias específicas. O presidente omitiu que Tedros disse ser contrário a um lockdown geral no Brasil agora, após o avanço na vacinação, e que não haveria necessidade da medida caso o país mantenha medidas como uso de máscaras e distanciamento social. Veja o que o UOL Confere checou:

 

Você vai ver na minha página lá, tem que prestar atenção, está um pouquinho baixo o som, mas dá para você ouvir o que ele [Tedros Adhanom] falou sobre lockdown. [Se] ele apoiou ou não o lockdown, a OMS, tá ok?"Presidente Jair Bolsonaro na live 

 

A declaração do presidente é distorcida, pois trata de forma enganosa o diálogo real com o diretor-geral da OMS.

 

O vídeo da conversa divulgado pela página de Bolsonaro no Facebook tem cortes — ou seja, não tem a íntegra do diálogo. No trecho publicado, Bolsonaro diz a Tedros que "a própria OMS não é favorável à medida de lockdown".

 

O diretor-geral da OMS responde que, devido ao avanço da vacinação no Brasil, se o país "continuar a trabalhar com as medidas de saúde pública como máscara e distanciamento social", não haveria necessidade de um lockdown em todo o país. Tedros não descarta a eventualidade de que seja necessário um "lockdown localizado, numa área específica de altíssimo risco".

 

Na live, no entanto, o presidente omitiu todo este contexto da conversa.

 

Como mostramos anteriormente no UOL Confere, Bolsonaro já tratou de forma enganosa a necessidade de medidas de isolamento social adotadas ao longo da pandemia de covid, entre elas o lockdown, para tentar justificar problemas econômicos enfrentados pelo Brasil e por outros países, como a inflação.

 

Restrições como o fechamento temporário do comércio, entre outras, tiveram impacto nas economias de diversos países, mas diversos estudos científicosapontam que o isolamento não só foi importante para salvar vidas, como para conter os danos econômicos decorrentes da pandemia.

 

Apesar de o STF (Supremo Tribunal Federal) ter decidido que, segundo a Constituição, a responsabilidade para definir medidas na área da saúde é compartilhada entre União, estados e municípios, o país não teve uma política de isolamento coordenada pelo governo federal. Governadores e prefeitos estabeleceram regras próprias.

 

A grande maioria dos estados não recorreu ao lockdown, mas optou pelo isolamento parcial, fechando comércio e serviços em horários ou dias específicos para diminuir a circulação de pessoas. Bares e restaurantes foram fechados, lugares públicos tiveram entrada controlada e aulas foram suspensas, mas raramente houve restrição à circulação nas ruas.

 

Passaporte sanitário, vocês vão ver lá se ele [Tedros Adhanom] é contra ou não o passaporte sanitário, tá ok, pessoal?" Presidente Jair Bolsonaro 

 

A declaração de Bolsonaro está sem contexto. No vídeo da conversa com Tedros Adhanom publicado na página do presidente no Facebook, Bolsonaro pergunta qual a posição da OMS sobre o "passaporte sanitário" — ou seja, a exigência de comprovante de vacinação contra a covid para determinadas atividades. O diretor-geral da entidade afirma que a OMS, por enquanto, não recomenda a medida, já que a imunização ainda está lenta em vários países e, por isso, o "passaporte" poderia ser uma medida discriminatória.

 

"Na África, é só 5% a taxa de vacinação", diz Tedros a Bolsonaro. No dia 31, quando ambos conversaram, o Brasil tinha uma situação bastante diferente, com 54,88% da população totalmente vacinada contra a covid.

 

Vacinação em crianças. Está aqui, ó: (...) [Estado de] 'São Paulo vai enviar à Anvisa pedido para vacinar contra covid crianças de 5 a 11 anos'. Então, vamos ver o que o Tedros falou lá. Você tem filho? Então vai lá e ouça. Você tem filho, quer o bem dele? Então vai lá e vê o que ele fala." Presidente Jair Bolsonaro 

É verdadeiro que, na conversa com Bolsonaro, o diretor-geral da OMS disse que a entidade ainda não recomenda a vacinação de crianças contra a covid porque não há dados, até o momento, que garantam a segurança da aplicação dos imunizantes para este público. Especialistas da organização concluíram que a vacina da Pfizer pode ser aplicada em jovens de 12 anos ou mais.

 

No entanto, no trecho em que fala sobre o pedido feito pelo governo de São Paulo, a declaração do presidente está sem contexto. Bolsonaro leu apenas o título de uma reportagem do site g1 sobre o assunto, sem dar detalhes sobre o trâmite necessário para a eventual aprovação da vacinação para crianças.

 

A mesma reportagem do g1 esclarece que, segundo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), "o pedido de inclusão de um novo grupo no público-alvo dos imunizantes contra a doença 'deve ser feito pelo laboratório farmacêutico responsável pela vacina', não por governos". O texto também informa que "no país ainda não há nenhum imunizante aprovado pela agência para vacinação desse grupo". O UOL também publicou uma reportagem sobre o assunto.

 

 

 

 

- Arrecadação de leilão do 5G deve ultrapassar R$ 50 bi, diz ministro

O ministro das Comunicações, Fábio Faria, disse acreditar que o valor de arrecadação do leilão do 5G deve ultrapassar os R$ 50 bilhões inicialmente previstos. Durante live semanal do presidente Jair Bolsonaro, Faria classificou o leilão como o maior do setor em toda a América Latina.

“Estamos, hoje, no valor estimado de R$ 50 bilhões. Deve terminar amanhã (5) de manhã. Antes da live, já estava em R$ 43 bilhões. Vai passar dos R$ 50 bilhões. Até amanhã, a gente tem esse número. É o maior leilão da história das telecomunicações da América Latina inteira. Isso mostra que o Brasil, quando quer trabalhar e fazer bem-feito, ele faz.”

Segundo o ministro, em janeiro de 2019, quase 50 milhões de brasileiros não tinham acesso à internet. Desses, 9 milhões passaram a estar conectados, incluindo 500 aldeias indígenas e mais de 10 mil escolas, totalizando 15 mil pontos de internet instalados no país.

“Só que a gente não tem como levar internet pro Brasil todo só com wi-fi. Até porque o Brasil é muito grande e a internet de fibra ótica é muito melhor. A gente vai fazer o leilão e o Brasil vai ser o primeiro país da América Latina a colocar o 5G funcionando”, disse

O ministro destacou que o formato do leilão é não arrecadatório. “Vão entrar R$ 50 bilhões no caixa – R$ 10 bilhões ficam pro governo e R$ 40 bilhões vão pro setor de telecomunicações, para levar internet para as 40 milhões de pessoas que não têm. Nessas 9.800 localidades sem internet, zero, vai chegar internet pra todo mundo e de alta qualidade”, completou.

Estradas e agronegócio

De acordo com o ministro, a previsão é que, na Região Norte, maior deserto digital do país, 10 milhões de pessoas passem a estar conectadas. As estradas federais, segundo ele, também devem ser contempladas e receber pontos de internet.

“É uma pauta dos caminhoneiros, uma reivindicação que ajuda a evitar acidente, assalto. E o 5G vai conectar todo o agronegócio. O escoamento da produção que vai pela estrada vai estar 100% conectado até o porto e o aeroporto”.

Escolas

Dados do ministério mostram que há, no Brasil, cerca de 7 mil escolas urbanas sem internet no momento. A proposta do governo é que elas passem a estar conectadas por meio do valor arrecadado no leilão do 5G.

“Das 85 mil escolas que existem na área urbana, 72 mil receberão internet 5G standalone”, concluiu Faria, ao se referir ao chamado 5G puro, que permite velocidade de conexão mais rápida, dentre outras vantagens.

 

- Bolsonaro se autoconcede condecoração científica com base em decreto de 2002

O presidente Jair Bolsonaro se valeu de um decreto de 2002, que regulamenta a Ordem do Mérito Científico, para se condecorar com a Grã-Cruz desta medalha. A comenda é normalmente destinada a “personalidades nacionais e estrangeiras que se distinguiram por suas relevantes contribuições prestadas à Ciência, à Tecnologia e à Inovação”, mas o decreto também indica a composição do grupo que comanda o conselho dos premiados.

A decisão de se condecorar com o maior grau da Ordem foi publicada em um decreto no Diário Oficial da União. 

O decreto em vigor, assinado por Fernando Henrique Cardoso e pelo então Secretário de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Ronaldo Sardenberg, obriga o presidente da República a ocupar o cargo de grão-mestre da Ordem Nacional, assim como o do ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, Marcos Pontes, na categoria de chanceler.

 

Os ministros das Relações Exteriores, Carlos Alberto França; da Educação, Milton Ribeiro; e da Economia, Paulo Guedes, também compõem por ordem de decreto o Conselho da Ordem. As personalidades nacionais que compõem o grupo são o ex-deputado Daniel Vilela (MDB-GO), a senadora Daniella Ribeiro(PP-PB), o diretor do Projeto Portinari, João Cândido Portinari – que aos 82 anos é o único filho do pintor falecido em 1962- e  almirante Marcos Sampaio Olsen, que coordena o programa nuclear da Marinha.

A todos, cabe o objetivo de “velar pelo prestígio da Ordem e pela fiel execução do disposto” no decreto que regulamenta a Ordem.

A condecoração neste ano, premia 22 pessoas, pesquisadoras e professoras em diversas áreas da ciência e tecnologia no Brasil – 14 homens e oito mulheres serão agraciados. Esta é a primeira cerimônia do tipo desde 2018, quando o então presidente Michel Temer e o então ministro Gilberto Kassab concederam a Ordem a pelo menos 70 pesquisadores.

 

Fonte: Folha - Congresso em Foco - Agência Brasil- UOL