Cultura

Parolin: eliminação das armas nucleares é um imperativo moral e humanitário





O cardeal secretário de Estado pronunciou-se na conferência sobre desarmamento promovida em Assis, pelo "Comitê por uma civilização do amor". O desafio, afirma o purpurado, é adotar estratégias perspicazes para alcançar o bem comum e superar a lógica da dissuasão. Foi relançada a ideia do Papa de transformar os recursos para as armas em um fundo para combater a pobreza e fomentar o desenvolvimento

Michele Raviarti/Raimundo de Lima – Vatican News

A pandemia "está nos ensinando uma lição valiosa", ou seja, que "é necessário reconsiderar nosso conceito de segurança", que "não pode se basear na ameaça de destruição recíproca e no medo, mas deve encontrar seu fundamento na justiça, no desenvolvimento humano integral, no respeito aos direitos humanos, no cuidado com a criação, na promoção de estruturas educacionais e de saúde, no diálogo e na solidariedade".

Foi o que afirmou o cardeal secretário de Estado Pietro Parolin, abrindo com uma mensagem em vídeo a conferência "A conversão das armas nucleares? Convém!", organizado pelo "Comitê por uma civilização do amor" e realizado na manhã desta quarta-feira, 17 de novembro, na Sala de Imprensa do Sagrado Convento em Assis, na região italiana da Úmbria.

Confiança real e duradoura entre as Nações

O encontro reuniu diferentes realidades empenhadas em promover o desarmamento, a eliminação dos arsenais nucleares e sua conversão em iniciativas de paz. Estas realidades foram elogiadas pelo cardeal secretário de Estado por seus esforços em consonância com a visão da Santa Sé de uma comunidade internacional baseada no desenvolvimento e no fortalecimento da "confiança real e duradoura" entre as Nações. Na busca do bem comum é, portanto, urgente adotar estratégias perspicazes, explica ainda o cardeal Parolin.

Para além do medo e do isolacionismo

"O objetivo final da eliminação total das armas nucleares é tanto um desafio quanto um imperativo moral e humanitário", afirma o cardeal secretário de Estado, e "uma abordagem concreta deve promover uma reflexão sobre uma ética da paz e da segurança multilateral e cooperativa, que vá além do medo e do isolacionismo que permeiam muitos debates atuais". Neste sentido, há dois momentos nos próximos meses em que a comunidade internacional tem a possibilidade de refletir sobre estas questões.

Os eventos diplomáticos do próximo ano

 

Em janeiro próximo, de fato, vai se realizar a décima conferência de Revisão do Tratado de Não-Proliferação Nuclear, que, recorda o cardeal Parolin, será "um momento crucial para a comunidade internacional e em particular para as potências nucleares" para "demonstrar claramente sua capacidade de compreender os desafios atuais, enfrentá-los e resolvê-los".  Em março, por sua vez, haverá a primeira reunião entre os signatários do recente Tratado sobre a Proibição das Armas Nucleares, que não foi aderido pelas potências nucleares e os Estados seus aliados militares (com exceção da Holanda) e entrou em vigor em janeiro passado. O purpurado definiu o acordo como "um sucesso da diplomacia multilateral" e lembrou que "sua negociação e entrada em vigor não teriam sido possíveis sem a ação das muitas Associações da sociedade civil comprometidas com a promoção contínua do desarmamento e da paz".

As palavras do Papa sobre o desarmamento

 

Em conclusão, o cardeal secretário de Estado recordou as palavras do Papa Francisco para o 54º Dia Mundial da Pazem 1º de janeiro passado, que devem ser consideradas como um guia para os próximos passos rumo ao desarmamento. "Quanta dispersão de recursos para armas, em particular para as armas nucleares? – se pergunta o Papa. A resposta é destinar esses recursos para a promoção da paz e do desenvolvimento humano e da saúde, através da instituição de um "Fundo mundial para poder eliminar definitivamente a fome e contribuir para o desenvolvimento dos países mais pobres!"

 

- Cardeal O' Malley: proteção contra abusos, investigação honesta

O Presidente da Pontifícia Comissão para a Proteção dos Menores une-se à mensagem do Dia Europeu dedicado à ação de prevenção e cuidado das vítimas, encorajando a Igreja a conhecer profundamente um sistema através de um exame independente e uma ação informada, aberta a aprender com os progressos da sociedade e do mundo acadêmico. Somente então a proteção dos menores será uma prioridade.

Gabriella Ceraso, Silvonei José – Vatican News

"As estatísticas nos deixam sem palavras. Mas não podemos permitir que a nossa reação a elas obscureça seu propósito: avaliar as medidas tomadas pela Igreja para lidar com este flagelo e fazer todas as recomendações úteis para transformar um sistema que falhou em nível quantitativo e qualitativo". Foi o que escreveu em uma mensagem o cardeal Seán Patrick O'Malley, presidente da Pontifícia Comissão para a Proteção dos Menores, ao se dirigir àqueles que participam nesta quinta-feira do Dia Europeu para a Proteção das Crianças contra a exploração e abusos sexuais, sobre o tema "Tornar o círculo da confiança verdadeiramente seguro para as crianças".  Em Roma, em particular, a Conferência internacional organizada pelo “Telefono Azzurro” sobre o tema "O direito de confiar" com a participação de especialistas de todo o mundo, para desenvolver ações concretas, diretrizes e protocolos para a proteção das crianças. (Para seguir clique aqui )

Transformar um sistema que não funciona

Assim, parte de uma trágica realidade global que os números descrevem, para "transformar um sistema" que falhou. O cardeal começa a partir deste ponto, citando dados da OMS. Cerca de 120 milhões de meninas e jovens mulheres menores de 20 anos sofreram alguma forma de contato sexual forçado; 1 em cada 5 mulheres e 1 em cada 13 homens relatam abusos sexuais antes de completarem 18 anos, enquanto em algumas partes do mundo 1 em cada 2 crianças foram abusadas sexualmente e, devido à vergonha, estigma e medo associados à sua experiência, pelo menos 60% das vítimas e sobreviventes nunca revelam seu abuso.

Igualmente "sombrios" são os números que o cardeal resume sobre a extensão do problema na Igreja Católica. A França é citada com uma estimativa de 216 mil crianças abusadas de 1950 a 2020, de acordo com a pesquisa realizada pela Comissão Independente (CIASE). Também na Austrália resulta que – destaca o cardeal -, 40% dos abusos sexuais de crianças no período examinado pela Comissão Real de Inquérito ocorreram em um ambiente relacionado à Igreja Católica.

Como o sistema pode ser transformado? Precisamos de "uma investigação honesta, uma investigação independente e uma ação informada" porque, afirma o cardeal O'Malley, "não podemos reparar o que não reconhecemos. Não podemos restaurar uma confiança quebrada a menos que cheguemos ao âmago da questão".

Aprender uns com os outros: Igreja, sociedade, cultura

O presidente da Pontifícia Comissão para a Proteção dos Menores salienta a este respeito a importância, como Igreja, de "aprender com o progresso da sociedade civil e do mundo acadêmico em termos de modelos científicos de pesquisa", a fim de implementar uma "abordagem mais informada às nossas estratégias de prevenção e às políticas de proteção, no campo e on-line". Desta forma, através do intercâmbio e do aprender uns com os outros, será possível alcançar a proteção global como prioridade, ressaltou, e isto requer "um investimento na criação de relações de confiança e apoio interinstitucionais".

O papel-chave das vítimas

O papel das vítimas e sobreviventes de abusos também entra neste quadro e é um papel fundamental no caminho da reparação: o Papa está convencido disso e com ele a Comissão. O cardeal que preside o organismo criado por Francisco em 2014, recorda isso na mensagem desta quinta-feira, citando a carta ao povo de Deus escrita em 2018 pelo Pontífice, que observa que as feridas geradas nas vítimas, cuja "dor" conhecemos ao longo do tempo, "nunca desaparecem".

Encontro com vítimas de abuso em Baltimore

Finalmente do cardeal faz referência ao Dia de hoje, o primeiro fixado pela Igreja italiana para a oração pelas vítimas e sobreviventes desejado pelo Papa Francisco junto com a Pontifícia Comissão para a Proteção dos Menores como reconhecimento público e visível das vítimas de abuso sexual clerical, para promover a conscientização entre todos os fiéis batizados e não-batizados, como desejado pelo Santo Padre em sua Carta ao Povo de Deus (2018). Ao mesmo tempo", assinala o cardeal, "em Baltimore caminharei em silenciosa comunhão de oração com representantes daqueles que foram vítimas de abusos quando eram menores, juntamente com irmãos bispos, líderes religiosos e representantes da sociedade civil". Ao nascer do sol na margem do rio da cidade de Baltimore, nos reuniremos como um coletivo global em reconhecimento ao nosso compromisso - igreja e sociedade civil - para caminhar com eles em uma viagem de cura para todos nós”.

 

- Grech aos bispos EUA: dizei com franqueza o que o Espírito indica à vossa Igreja

Numa mensagem em vídeo aos bispos estadunidenses, reunidos em Baltimore de 15 a 18 de novembro para a assembleia geral do último trimestre, o secretário-geral do Sínodo dos Bispos reafirma o significado da sinodalidade, convida à escuta e a tornar conhecido o que aprenderam do povo de Deus

Tiziana Campisi/Raimundo de Lima – Vatican News

"Dons que cada Igreja oferece às outras Igrejas e à Igreja universal": é desse modo que o secretário-geral do Sínodo dos Bispos, cardeal Mario Grech, define as contribuições das Igrejas e o trabalho de síntese das Conferências episcopais requeridos pelo processo sinodal - lançado em 10 de outubro passado em Roma e aberto nas Igrejas locais uma semana depois - que culminará, em outubro de 2023, com a XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos "Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão". O purpurado evidencia que o processo sinodal "de fato se constrói na 'interioridade mútua' das Igrejas particulares e da Igreja universal", que "a consulta ao Povo de Deus e o discernimento dos pastores se realiza nas Igrejas" e que é propriamente escutando as Igrejas que será escrito o Instrumentum laboris, a ser entregue à Assembleia Sinodal dentro de dois anos.

A escuta em todos os níveis da vida da Igreja

"Nesta lógica de troca de dons entre as Igrejas, toda contribuição para a compreensão do processo sinodal da Igreja é importante", acrescenta o cardeal Grech, especificando que "contrariamente ao que muitos pensam, não há conclusões escritas" e "não há nenhum desejo de impor uma linha de pensamento". Há, isso sim, "uma disponibilidade a escutar o Espírito escutando uns aos outros", não há "posições mais válidas que as outras" e a vontade da Secretaria do Sínodo "é encorajar a escuta em todos os níveis da vida da Igreja e se engajar, por sua vez, neste processo de escuta a fim de descobrir a voz do Deus vivo".

 

Aspectos da sinodalidade

Em sua mensagem em vídeo para os bispos estadunidenses, o secretário-geral do Sínodo dos Bispos aproveita a oportunidade para insistir em alguns aspectos da sinodalidade: estar todos em caminho rumo a Deus e, para isto, abertos a uma reflexão sobre as relações entre leigos, pessoas consagradas e ministérios ordenados; a busca da vontade de Deus "em cada momento do diálogo, da tomada de decisões e do discernimento" com a escuta mútua "para ouvir melhor a voz do Espírito Santo que fala em nosso mundo de hoje", que "de modo algum mina a responsabilidade específica dos bispos de guiar e confirmar tal discernimento; antes, é a condição indispensável para exercê-la de maneira fecunda". E mais uma vez, o "esforço constante e vigoroso para convidar todos a um relacionamento mais profundo com a Igreja", "especialmente indivíduos e comunidades à margem, tais como refugiados, migrantes, idosos, pessoas que vivem na pobreza, católicos que só raramente ou nunca praticam sua fé", "à escuta que procura aprender de todos os membros da comunidade e envolvê-los honestamente e com caridade", "à disposição de todos a renunciar a posições e objetivos firmemente defendidos e a adotar uma cultura de diálogo e de tomada de decisões coletivas". Outros aspectos dizem respeito "à assunção de responsabilidade e à disposição de reconhecer com toda a humildade as formas como a Igreja fere homens e mulheres, crianças e famílias", à abordagem missionária de compromisso no mundo de hoje, que no pluralismo cultural, social e antropológico atual deve levar-nos a nos perguntar que tipo de Igreja queremos apresentar e qual a contribuição a dar às sociedades.

Relatar com franqueza o que se entende ouvindo o povo

"Este Sínodo é um caminho espiritual, um evento inspirado e guiado pelo Espírito", reitera o cardeal Grech, afirmando que os diversos testemunhos recebidos, "a criatividade com que as conferências episcopais, dioceses, paróquias ou associações estão organizando a consulta ao Povo de Deus, são sinais que confirmam que o Espírito está atuando". Em seguida, o cardeal maltês exorta ainda os pastores a "escutar o rebanho que lhes foi confiado", como convida o Documento preparatório do Sínodo, e conclui: "Não tenhais medo de nos dizer francamente o que compreendestes escutando vosso povo sobre o que o Espírito está dizendo à Igreja: à vossa Igreja e à Igreja inteira". De nossa parte, como Secretaria do Sínodo, teremos a alegria de poder ajudar-vos e apoiar nas diferentes fases do processo sinodal".

 

Fonte: Vatican News