Educação

Enem começa a ser aplicado hoje em 1,7 mil cidades





 O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2021 começa a ser aplicado hoje (21) em todo o país nas modalidades impressa e digital. Tanto as provas quanto o tema da redação serão iguais nas duas versões. Ao todo, 3,1 milhões de candidatos devem fazer o exame em mais 1,7 mil municípios.

No primeiro dia do Enem, os candidatos responderão a questões objetivas de linguagens e ciências humanas, além de fazer a única prova subjetiva da avaliação, a redação. Os portões abrem às 12h e fecham às 13h. Não é permitido entrar após o fechamento dos portões. As provas começam a ser aplicadas às 13h30 e terminam às 19h. O horário é o de Brasília.

Agenda_Enem_2021_primeiro_dia

Assim como a edição de 2020, o Enem 2021 terá regras especiais por conta da pandemia. O uso de máscara facial será obrigatório nos locais de aplicação. Participantes que estejam com covid-19 ou com outras doenças infectocontagiosas não devem comparecer ao exame e podem solicitar a reaplicação. O descumprimento das regras poderá levar à eliminação do candidato.

Além da máscara de proteção facial, é obrigatório levar documento de identificação original, com foto. Não são aceitos documentos digitais. Entre as identificações aceitas estão a Carteira de Identidade, a CNH, o passaporte e a Carteira de Trabalho emitida após 27 de janeiro de 1997.

Outro item obrigatório é a caneta esferográfica de tinta preta fabricada em material transparente. Ela é necessária para preencher o cartão de respostas no Enem impresso e para escrever a redação tanto no Enem impresso quanto no Enem digital. É recomendado ainda que os participantes levem lanche e água, já que a prova tem uma duração longa.

É recomendado ainda que se leve o Cartão de Confirmação da Inscrição. Nele está, entre outras informações, o local de prova. O cartão pode ser acessado na Página do Participante.

Caso necessitem comprovar que participaram do exame, os estudantes podem, também, na Página do Participante, imprimir a Declaração de Comparecimento para cada dia de prova, informando o CPF e a senha. A declaração deve ser apresentada ao aplicador na porta da sala em cada um dos dias. Ela serve, por exemplo, para justificar a falta ao trabalho.

O Enem segue no próximo domingo (28), quando os candidatos farão as provas de matemática e ciências da natureza.

O exame seleciona estudantes para vagas do ensino superior públicas, pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu), para bolsas em instituições privadas, pelo Programa Universidade para Todos (Prouni), e serve de parâmetro para o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). Os resultados também podem ser usados para ingressar em instituições de ensino portuguesas que têm convênio com o Inep.

Questões do Enem

Para testar os conhecimentos, os estudantes podem acessar gratuitamente o Questões Enem, um banco que reúne as questões do Enem de 2009 a 2020. No sistema, é possível escolher quais áreas do conhecimento se quer estudar. O banco seleciona as questões de maneira aleatória.

Confira outras notícias: 

- Inscritos e gastos com Enem despencam sob Bolsonaro e pandemia

O número de inscritos e os valores pagos pelo governo para realizar o Enem(Exame Nacional do Ensino Médio) despencaram com a gestão do presidente Jair Bolsonaro e as consequências da pandemia de covid-19.

Em 2021, 3.109.762 candidatos se cadastraram para realizar a prova –menor número desde 2005, quando foram 3.004.491. O exame deste ano será realizado neste domingo (21.nov.2021) e no próximo (28.nov.2021).

O valor gasto pelo governo com a avaliação também vem caindo ano a ano, acompanhando a queda de inscritos. O custo médio por candidato chegou a R$ 95,27 em 2018, último ano do governo Temer. Em 2020, sob Bolsonaro, caiu para R$ 40,49. Em 2021, R$ 41,55 –mas esse número ainda pode mudar, se atualizado pelo governo depois da realização do exame.

 

O valor previsto para o Enem 2021 era de R$ 589 milhões. A verba de fato empenhada (ou seja, reservada para pagamento dos contratos) foi de R$ 451 milhões. Mas até agora só foram pagos R$ 129 milhões. O número ainda poderá ser revisto.

Em 2020, o Inep –responsável pela prova– liquidou só R$ 213 milhões, uma queda de 44% em relação a 2019, quando foram pagos R$ 379 milhões.

O Enem é um dos maiores exames para ingresso em universidades do mundo. No 1º semestre de 2020, o programa ofertou 237.128 vagas em 128 instituições de ensino públicas através do Sisu (Sistema de Seleção Unificada).

Segundo a organização Todos Pela Educação, a execução orçamentária do Ministério da Educação e seus programas foi duramente afetada pelo atraso na aprovação da Lei Orçamentária Anual de 2021 –que foi analisada apenas em abril.

“Com uma baixa execução no 2º bimestre no ano, o MEC teve uma redução em sua taxa de empenho em 32,7% quando comparado ao mesmo período no ano anterior. A Educação Profissional foi a mais afetada”, destaca (leia a íntegra do relatório – 7 MB).

O número de inscritos passou a cair a partir de 2017. Esse foi o ano em que a taxa de inscrição sofreu um reajuste de 21%: passou de R$ 68 para R$ 82. Desde 2019 é cobrado R$ 85 dos estudantes. Até 2014, ano recorde de inscritos, o valor era de R$ 35.

SUPOSTA INTERFERÊNCIA NO ENEM

Há menos de 2 semanas do Enem, 37 servidores pediram demissão de cargos no Inep alegando “fragilidade técnica e administrativa”, “falta de comando técnico” e “clima de medo e insegurança” da atual gestão. A Assinep (Associação dos Servidores do Inep) acusou formalmente a atual gestão do órgão de interferir no Enem.

Na semana passada, Bolsonaro também foi criticado depois de dizer que agora as questões do exame “começam a ter a cara do governo” e que a prova não repetirá “absurdos” do passado.

O presidente, o vice-presidente Hamilton Mourão, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, e o presidente do Inep, Danilo Dupas, negaram interferências do governo na prova e rebateram críticas. Na 6ª feira (19.nov), o TCU abriu uma investigação para apurar possíveis irregularidades na organização da prova. No sábado (20.nov.2021), negou pedido de afastamento de Dupas do órgão.

 

- Questões do Enem na mira de Bolsonaro são eficientes em testar conhecimento

Análise estatística inédita feita pela Folha mostra que perguntas que causaram polêmica tiveram qualidade técnica para avaliar competências

Para justificar o desejo de alterações no Enem e o veto a determinados temas, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e sua equipe têm criticado questões que classificaram como ideológicas —perguntas que, segundo eles, promoveriam "doutrinação" em vez de medir o conhecimento dos candidatos.

Mas análise estatística inédita feita pela Folha mostra o contrário: questões que causaram polêmica entre conservadores foram eficientes em testar o conhecimento técnico dos participantes nas áreas avaliadas pelo exame.

O Enem, que começa neste domingo (21) e segue no próximo (28), é alvo de críticas do presidente desde quando ele era deputado.

A reportagem analisou 24 questões que foram criticadas por políticos conservadores, como Bolsonaro, ou que abordam a ditadura militar (1964-1985). Desde 2019, início da atual gestão, nenhuma questão sobre o regime caiu na prova, e integrantes do governo chegaram a dizer que o tema seria polêmico.

Segundo especialistas, pode ser considerada uma boa pergunta aquela que consegue discriminar os participantes de acordo com o nível de conhecimento, ou seja, alunos que dominam o tema vão melhor que aqueles com pouco aprendizado na área.

A partir de análise dos microdados do exame, divulgados de forma anonimizada pelo Inep (órgão responsável pelo Enem), a reportagem testou o desempenho de questões criticadas, presentes nas provas de linguagens e ciências humanas, segundo quatro critérios estabelecidos na literatura científica da área. Foram avaliadas todas as edições de 2009 a 2019.

Além da capacidade de discriminar participantes que dominam o conhecimento avaliado, foram levados em conta a relação entre o acerto no determinado item e nos demais, a chance de participantes de menor proficiência acertarem mais que alunos melhores e, por fim, se o item se comporta de acordo com o modelo TRI (Teoria da Resposta ao Item) de três parâmetros adotado pelo Enem para a correção das provas.

Dos 24 itens, apenas uma questão —do Enem 2016 e que tratava de ditaduras no Brasil e América Latina—não apresentou a qualidade esperada em um dos parâmetros avaliados. Quando se considera o conjunto dos critérios, porém, a avaliação é que a pergunta é satisfatória.

As outras 23 tiveram o desempenho esperado em todos os pontos avaliados. Do total de itens analisados, 5 são questões que foram consideradas ideológicas pelos grupos conservadores e 19 abordam a ditadura.

Questionado, o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) não respondeu.

O embate ideológico é a principal marca da gestão Bolsonaro na área da educação. O governo tem aversão a perguntas que tragam, por exemplo, qualquer menção a questões de gênero. Antes de eleito, o presidente já disse ser homofóbico em entrevista gravada.

No Enem de 2015, por exemplo, uma pergunta que citava a filósofa feminista Simone de Beauvoir causou a ira de Bolsonaro e outros políticos. O item atendeu a todos os critérios de uma boa questão, porém.

Em meio a denúncias atuais de assédio moral a servidores e pressão para interferência na prova, Bolsonaro disse na semana passada que o Enem começava a ficar com "cara do governo" e voltou a atacar o exame. "Aquilo mede algum conhecimento? Ou é ativismo político e na questão comportamental?"

Como revelou a Folha na sexta (19), o presidente chegou a pedir ao MEC (Ministério da Educação) que o Enem tratasse o golpe de 1964 como revolução.

Em 2019, ano da primeira edição que não abordou a ditadura, o ex-ministro da Educação Abraham Weintraub defendeu a ausência sob argumento de que era uma polêmica sem objetivo para a seleção de alunos para universidades.

"Como aqui no Brasil existe ainda uma coisa não pacificada de como foi o período do regime militar, o objetivo do Enem não é polemizar, e sim selecionar as melhores cabeças", disse ele em janeiro de 2020.

O atual chefe da pasta, pastor Milton Ribeiro, tem repetido que a preocupação seria técnica, ao criticar itens de edições anteriores.

"A prova do Enem tem de ser técnica no sentido direto. O governo tem que conhecer [com a prova] o que o aluno sabe, e não [trazer] uma pegadinha", disse o ministro na última quarta-feira (17) na Câmara.

Ribeiro fazia menção, como já ocorreu em outras ocasiões, a uma pergunta de 2018 que trazia, no texto de apoio, menção a um dialeto utilizado por travestis, o pajubá. Na época, Bolsonaro disse que o item supostamente iria "estimular a molecada a se interessar por isso".

A questão, da prova de linguagens, exigia do candidato conhecimentos sobre dialetos, tema pertinente à variação linguística. Os dados mostram que o comportamento do item na prova seguiu o que se espera de uma boa questão: participantes mais bem preparados, e com melhor desempenho no exame, tiveram maior índice de acerto.

O conteúdo sobre "variedades linguísticas sociais, regionais e de registro" é previsto na matriz na qual devem se basear as perguntas do Enem. A Base Nacional Comum Curricular também prevê essa abordagem no ensino médio.

Ainda na Câmara, Ribeiro disse que "questões que são peculiares a determinados guetos ou pensamentos" dariam "primazia para um grupo que está treinado a determinada linguagem e prática, em detrimento da grande maioria do povo brasileiro que não conhece esse linguajar". Sob esse raciocínio, travestis ou o público LGBTQIA+ seriam beneficiados nessas perguntas.

Não há dados sobre participantes LGBTQIA+, mas a Folha, a partir de uma análise proposta pelo professor Ricardo Primi (Universidade de São Francisco), avaliou o desempenho dos 189 candidatos que fizeram o Enem naquele ano com nome social, em geral adotado por pessoas trans.

Apesar de o grupo ser pequeno, não há um padrão que mostre que esses participantes acertaram mais a questão que outros candidatos com notas semelhantes.

O modelo matemático adotado pelo exame, a chamada TRI, prevê itens calibrados de acordo com três parâmetros: discriminação (se diferencia os candidatos de acordo com o nível de conhecimento naquele tema), dificuldade e probabilidade de acerto casual. A nota dos participantes depende não só do número de acertos, mas também entra no cálculo quais perguntas foram respondidas corretamente.

Especialista em avaliação e TRI, o professor Tufi Machado Soares, da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora), explica que uma boa questão, do ponto de vista psicométrico, tem que garantir, sobretudo, um bom ajuste com o modelo usado na pontuação, a discriminação entre participantes de proficiências diferentes e deve refletir com qualidade as matrizes de referência no teste.

"A questão estabelece função que associa a probabilidade de acerto com nível de proficiência do aluno. E questões com maior discriminação aumentam a precisão da medida dos alunos", diz. Estudos indicam, segundo Tufi, que o nível de precisão da proficiência é maior com a TRI do que pontuação clássica.

Presidente do Inep quando o Enem passou a ter o modelo atual de correção, em 2009, o professor da USP Reynaldo Fernandes diz que a TRI é um modelo mais sofisticado de extrair informações dos respostas. Mas "a alma de qualquer" prova são os itens.

"Tem que haver procedimentos, um sistema [de escolha de questões]. Se uma questão entrou para o banco de itens, está resolvido. E dai só se leva em conta as questões técnicas", diz.

Nas últimas semanas, o governo passa por uma crise que envolve denúncias de interferência no conteúdo da prova e assédio moral de servidores. O ministro Milton Ribeiro tem reafirmado que não houve interferência, em contraste com suas próprias declarações —ele mesmo já disse que não permitiria questões que considerasse inadequadas, prometeu que olharia a prova pessoalmente, e depois recuou.

Em 2019, o Inep criou uma comissão que censurou questões do Enem. Em junho deste ano, a Folha revelou que uma portaria do Inep estabelecia uma espécie de "tribunal ideológico", com a criação de uma nova instância permanente de análise dos itens das avaliações da educação básica.

O documento falava em não permitir "questões subjetivas" e atenção a "valores morais" e ia contra posicionamento técnico do próprio Inep. O órgão engavetou a portaria depois da repercussão.

Reynaldo Fernandes afirma que a discussão sobre o que perguntar nas provas vai existir sempre, e não é ruim que ocorra na sociedade. "Mas essas disputas devem ser discutidas entre acadêmicos. Não é por que eu sou governo e acho que não teve ditadura, que não teve holocausto, e mudo. O Enem não é o local para esse debate."

Metodologia

A reportagem, feita a partir dos microdados do Enem, se baseia em um modelo estatístico que estima a chance de um candidato acertar uma questão dada a sua proficiência na prova.

Para isso, foram calculados três parâmetros. São eles: parâmetro de discriminação (mede se a questão consegue diferenciar os candidatos de acordo com o nível de conhecimento naquele tema), parâmetro de dificuldade (indica o nível de dificuldade daquela questão) e parâmetro de acerto casual (estima a chance do candidato acertar porque chutou).

Eles fazem parte da metodologia que o Inep utiliza para corrigir e dar nota aos candidatos. O órgão, contudo, não forneceu o valor dos parâmetros que são utilizados, e foi feito um cálculo próprio.

Foram consideradas na análise 24 questões que abordam temas como ditadura militar ou questões LGBTQIA+ e que foram alvo de críticas de grupos conservadores.

 

Fonte: Agência Brasil -  Poder360 - Folha