Cultura

Artigo de Dom Pedro José Conti: O que será de mim?





Reflexão para o 3º Domingo do Advento| 12 DEZ 2021 – Ano “C” 

1ª Leitura Sf 3,14-18a | Salmo Is 12,2-62ª Leitura: Fl 4,4-7| Evangelho: Lc 3,10-18

| MACAPÁ (AP) | Por Dom Pedro José Conti

Um jovem gastou todas as riquezas que tinha herdado de seus pais. Como em geral acontece nesses casos, quando ficou sem dinheiro, também ficou sem amigos. Depois de  esgotar todos os seus recursos, procurou um mestre e lhe disse: – O que será de mim? Não tenho mais nem dinheiro e nem amigos. – Não se preocupe, meu filho – respondeu o mestre – Escute o que lhe digo: tudo ficará bem de novo. A esperança brilhou nos olhos do jovem que disse: – Vou ser rico de novo? – Não! – disse o mestre – você se acostumará a viver liso e sozinho.

Neste Terceiro Domingo de Advento, encontramos no evangelho de Lucas mais um pouco da pregação de João Batista. Ele conclamava as pessoas a “um batismo de conversão para o perdão dos pecados” (Lc 3,3). Muitos acorriam e se perguntavam se não era ele o Messias esperado. Naquele momento, a espera de algum acontecimento novo ou de alguém diferente dos sacerdotes, dos escribas e doutores da Lei, que tomavam conta do Templo e das Escrituras, era muito grande. Todos, porém, entendiam que além daquele banho no Rio Jordão precisava fazer algo mais. Mas, fazer o quê? Essa é a grande pergunta – repetida três vezes – à qual João Batista responde de maneira diferente, conforme os grupos que formulavam a questão. Às multidões ele diz que deviam dar comida e roupa a quem não as tinha. Aos cobradores de impostos ensina que não devem exigir mais do que o estabelecido. Ou seja, nada de exploração. Aos soldados, enfim, pede que não usem violência ou falsidades para extorquir dinheiro das pessoas. Na prática, João Batista retoma a pregação dos antigos profetas. Ao longo de séculos, foram eles a voz de Deus que repetidamente os enviava para exortar o povo a voltar à primeira aliança, para que de novo iescolhesse a ele, Deus, como único Senhor. No entanto sempre apareciam falsos deuses para serem adorados. Muitas vezes estavam disfarçados de imperadores e reis, mas, no fundo, eram os ídolos de sempre: a riqueza, o poder e a força. João Batista retoma, com vigor, a linguagem dos profetas e, por isso, podemos dizer que é o último deles. Além disso, ele anuncia outro que está para chegar, mais forte do que ele e que “batizará no Espírito Santo e no fogo” (Lc 3,16). O evangelista Lucas chega a dizer que João Batista “de muitos outros modos anunciava ao povo a Boa-Nova” (Lc 3,18). Sem dúvida, a “voz daquele que grita no deserto” preparou o povo e alimentou as expectativas dele, mas não conseguiu antecipar a novidade de Jesus do qual dirão que “nunca alguém falou assim” (Jo 7,46).

Jesus não respondeu simplesmente à pergunta: “o que devemos fazer?”, ele nos ensinou e nos mostrou com o seu exemplo como devemos ser, inclusive, para experimentar a felicidade. Jesus não deixou uma “lei” entendida como um conjunto de normas, mas um modelo de vida pautado no único mandamento do amor. Portanto, um jeito de viver com todas as possibilidades, oferecidas a todos e de tantas maneiras, sem limites de criatividade para o amor, a compaixão e a misericórdia verdadeiros.

Quando Papa Francisco quis propor a santidade para os cristãos no mundo atual, simplesmente lembrou as Bem-aventuranças. Para vencer o ídolo da riqueza, Jesus ensinou a felicidade da pobreza, da vida simples e livre, sem todas as armadilhas e correntes que a cobiça do dinheiro traz. Para superar o ídolo da força e da violência, Jesus indicou a alegria de quem sofre para construir a paz e a mística . A pureza de coração e a mansidão também libertam do desejo de impor a si mesmo ou as próprias ideias. Por fim, para derrotar o ídolo do poder, sempre muito adorado em todos os tempos, Jesus ensinou a humildade, apontou a alegria de estar no último lugar ao serviço dos irmãos. Quando lavou os pés dos discípulos disse: “Sabendo isso, sereis felizes se o praticardes” (Jo 13,17). Para o pensamento do mundo, sempre será mais fácil se acostumar com a vida cômoda dos ricos e poderosos do que com a vida simples e austera de quem é pobre. Mas o pior é quando nem os pobres conseguem ser amigos entre eles. Aí é pobreza mesmo.

Fonte: Diocese de Macapá