Economia

Dólar supera R$5,74 por aversão a risco e fica a menos de 1% de recorde do ano





O dólar começou a penúltima semana do ano em firme alta, confortavelmente acima de 5,70 reais e fechando na máxima em nove meses, alavancado pelo clima arisco no exterior, mas também por incertezas sobre o Orçamento no Brasil em meio a um cada vez mais carregado noticiário eleitoral doméstico.

O dólar à vista saltou 1,06% nesta segunda-feira, a 5,745 reais na venda, maior patamar desde 30 de março (5,7588 reais).

A cotação operou em alta por toda a sessão e acelerou fortemente os ganhos na reta final, renovando sucessivamente os picos. No dia, a moeda variou de 5,6900 reais (+0,10%) a 5,747 reais (+1,10%%).

A demanda por dólar --ativo considerado de segurança-- se deu num dia bastante negativo nos mercados financeiros globais, devido a temores agudizados de que a variante Ômicron do coronavírus --tida como de disseminação rápida-- possa forçar a adoção de mais medidas de restrição em mais países, potencialmente afetando a recuperação econômica global.

Sinal disso, o petróleo despencou, pela percepção de que o mundo demandará menos energia. As bolsas de Nova York afundavam mais de 1%, variação expressiva para os padrões locais. Moedas portos seguros, como iene e franco suíço, valorizavam-se.

O rali do dólar por aqui não atraiu o Banco Central, diferentemente de sessões passadas, em que a autoridade monetária interveio para prover liquidez ao mercado, após desde novembro o país ter perdido quase 6 bilhões de dólares em câmbio contratado.

A menos de duas semanas do fim do ano, o dólar sobe 1,92% em dezembro, elevando os ganhos em 2021 para 10,66%. A moeda caminha a passos largos para engatar o quinto ano consecutivo de valorização.

O fechamento desta segunda-feira deixou o dólar a apenas 0,83% da máxima do ano --de 5,7927 reais, alcançada em 9 de março-- e a 2,72% do recorde de 5,9012 reais batido em 13 de maio de 2020.

"O único rali possível até agora é o do dólar", disse um analista de um banco estrangeiro. "(O real) está volátil, disfuncional e perdendo para todos os pares exceto lira (turca)", completou. "É uma combinação de políticas erradas, fluxo mais forte (de saída), riscos que foram amplificados na curva pelo BC e falta de expectativa de crescimento por conta do juro alto."

O Goldman Sachs considera que na América Latina o peso chileno --que despencou nesta segunda-feira após a eleição de um candidato de esquerda para Presidência-- e o real são as moedas com maior prêmio de risco atualmente. A relação retorno/volatilidade da taxa de câmbio brasileira está entre 0,6 e 0,8, portanto, abaixo do padrão histórico, indicando que o real está menos interessante agora.

Somando-se às incertezas externas e turbinando ainda mais o dólar, o mercado analisou as notícias sobre a votação do Orçamento de 2022. A votação do relatório final, que estava prevista para ocorrer às 10 horas desta segunda-feira pela Comissão Mista de Orçamento (CMO), foi adiada para a terça-feira para que os parlamentares possam fazer ajustes ao texto. A presidente da CMO, senadora Rose de Freitas (MDB-ES), citou questionamentos técnicos quanto ao parecer do relator.

Ao mesmo tempo, as movimentações eleitorais estão cada vez mais notáveis.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (sem partido) se encontraram em jantar em São Paulo no domingo, em meio a rumores sobre chapa conjunta e à dianteira folgada do petista nas mais recentes pesquisas de intenção de voto.

À Reuters, o ex-presidente disse: "Estou de volta ao jogo, quero jogar, quero ganhar porque tenho certeza que eu posso melhorar a vida desse povo".

 

Confira outras notícias 

- Precisa de harmonia em Brasília para atrair investidores

UOL - Quando chegaremos a um valor de dólar aceitável no Brasil?

Marcos Azer Maluf - Espero que logo. O dólar é o único ativo que está um pouco fora de compasso. Deveria estar mais próximo de R$ 4,80, mas, para isso, temos que passar mais confiança internacional aos investidores.

É importante que politicamente tenhamos meses mais calmos, maturidade entre os Poderes. Tanto o Senado quanto a Câmara, o STF [Supremo Tribunal Federal] e o presidente da República precisam trabalhar em harmonia, e quando o investidor estrangeiro entender que essa harmonia é para valer certamente entrarão mais dólares no país, e o valor vai cair.

Na sua opinião, o discurso político do governo atrapalha o investimento internacional?

O discurso político tem um peso importante e reflete no nosso cenário internacional. Sem necessariamente indicar culpados ou inocentes, mas, quando se está investindo em um país em que os Poderes estão alinhados politicamente, é possível ter uma visão de mais longo prazo, e isso ajuda o investidor.

Quais as suas expectativas para 2022? Teremos um país mais estável?

Muito melhor, sem dúvida. Teremos uma oportunidade única, de escolher democraticamente um presidente da República que irá nos governar pelos próximos quatro anos.

Vamos torcer muito para que o próximo presidente, qualquer que seja ele, faça um bom governo. Quando torcemos contra um presidente ou um governo, estamos torcendo contra nós mesmos.

Fonte: UOL