O presidente Jair Bolsonaro (PL) minimizou, nesta quarta-feira (12/1), os impactos da ômicron no Brasil e disse que a nova variante da covid-19 é "bem-vinda". A declaração ocorreu durante entrevista ao site Gazeta Brasil. Com letalidade menor, mas com capacidade de disseminação maior, o vírus pode sobrecarregar o sistema de saúde.
"A ômicron, que já se espalhou pelo mundo todo, como as próprias pessoas que entendem de verdade dizem, tem uma capacidade de difundir muito grande, mas é de letalidade muito pequena. Dizem até que seria um vírus vacinal. Deveriam até... Segundo algumas pessoas estudiosas e sérias, e não vinculadas à farmacêuticas, a ômicron é bem-vinda e pode, sim, sinalizar o fim da pandemia", apontou, sem mencionar quem seriam as fontes.
Bolsonaro disse ainda que "quase zero, um número muito pequeno" de crianças morreu por covid no país. "E esse número pequeno ainda tinha o fato de criança com comorbidade", completou.
O Ministério da Saúde afirmou que, de março de 2020 a dezembro de 2021, 311 crianças de 5 a 11 anos morreram em decorrência da doença no Brasil. Ao ser corrigido pela jornalista, o líder do Planalto continuou e reforçou que pediu à pasta a divulgação de mortes por efeitos colaterais da vacina.
"Tudo bem, não vou questionar. Vamos partir do princípio de que os números estão certos. Justifica a vacinação? Eu cobrei ontem do ministro (Marcelo) Queiroga, da Saúde, a divulgação das pessoas com efeito colateral. Quantas pessoas estão tendo reações adversas no Brasil pós-vacina? Quantas pessoas estão morrendo também por outras causas que são creditadas à covid?".
"Trezentas e poucas crianças (mortas)... Lamento cada morte, ainda mais de criança, a gente sente muito mais, mas não justifica a vacinação pelos efeitos colaterais adversos que essas pessoas têm", concluiu.
A Anvisa liberou a vacinação para a faixa etária de 5 a 11 anos após parecer de técnicos especialistas e embasamento de sociedades médicas.
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- Inflação: Bolsonaro culpa isolamento; economistas defendem medida
O presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou hoje a culpar medidas restritivas adotadas por governadores e prefeitos contra a pandemia pelo aumento dos preços, um dia após o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgar que a inflação fechou 2021 a 10,06%, maior nível desde 2015.
No entanto, conforme mostrou o UOL Confere em outubro, o isolamento não é a causa da alta nos preços e ajudaria a acelerar a recuperação da economia se tivesse sido bem feito, segundo economistas.
O resultado da inflação ficou bem acima do centro da meta estabelecida pelo BC (Banco Central) para o ano passado, que era de 3,75%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos — ou seja, podendo variar entre 2,25% e 5,25%.
Em entrevista ao site Gazeta Brasil transmitida ao vivo nas redes sociais, Bolsonaro foi questionado sobre os impactos do índice em sua campanha à reeleição e ressaltou que em 2015, durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Ampla) também ficou acima de 10%.
"Olha só, se não me engano em 2014 ou 2015 a inflação foi de 10% também. Me aponte qual crise aconteceu nesses dois anos? Não teve crise nenhuma. Nós tivemos aqui a questão do covid. Com a política do fique em casa a cadeia produtiva sofreu solavancos e a inflação é uma questão natural", respondeu o mandatário.
O presidente negou ainda ter responsabilidade sobre o preço dos combustíveise disse que, se pudesse, ficaria livre da Petrobras. "Alguém acha que eu sou o malvadão, que foi aumentado o preço da gasolina e do diesel ontem porque sou o malvadão? Primeiro que não tenho controle sobre isso. Se pudesse, ficaria livre da Petrobras", disse ele.
Ontem, o chefe do Executivo federal já havia apontado o isolamento — chamado por ele de "política do fique em casa" — como um dos motivos para a alta inflação.
"Temos problemas. Inflação. Está o mundo todo com esse problema. Você lembra do 'fique em casa, a economia a gente vê depois?' Estamos vendo a economia. O cara ficou em casa, apoiou, e agora quer me culpar da inflação", afirmou o presidente em conversa com apoiadores transmitida por um canal bolsonarista.
O lockdown não tem culpa nenhuma. Era o melhor do mau negócio. Se não fosse isso, a situação seria muito pior. O isolamento social feito de forma adequada evita que a economia fique paralisada por muitos meses.André Braz, coordenador do IPC (Índice de Preços do Consumidor) do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), em entrevista ao UOL em outubro.
Os preços subiram mais no Brasil em especial por causa da desvalorização do real e da queda de investimento estrangeiro. Estes fatores têm relação com o ambiente político do país — o que inclui incertezas geradas pelo governo, como mostrou reportagem do UOL. Também entram na conta problemas como a alta nos combustíveis; a crise hídrica e o aumento na conta de luz; e questões climáticas que afetaram a agricultura.
"A inflação no Brasil acontece pela vulnerabilidade insistentemente buscada pelos nossos dirigentes políticos e econômicos, pela nossa ampla dependência de produtos importados, de todos os tipos", disse a historiadora e economista Ana Paula Salviatti ao UOL em outubro.
Uma pesquisa da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) em parceria com a Universidade do Texas (EUA) aponta que municípios de São Paulo que adotaram isolamento social mais severo salvaram vidas e não tiveram desempenho econômico pior do que os que não adotaram.
Já um artigo publicado em abril por pesquisadores europeus na revista científica The Lancet indicou que a eliminação do coronavírus, e não sua mitigação, trouxe melhores resultados para a saúde e a economia em países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).
Para Braz, relacionar a crise ao isolamento não faz sentido. "A economia vai mal exatamente por um discurso do governo. Houve muito ruído em comunicação. Isso não foi bom para o país e fez com que a vacinação atrasasse. Esse atraso está na conta do país: aumento da inflação e crescimento da dívida pública", afirma o professor do FGV Ibre.
O resultado da inflação de 2021 foi influenciado principalmente pelo grupo de transportes, que apresentou a maior variação (21,03%) e o maior impacto (4,19 pontos percentuais) no IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), a inflação oficial do país.
O Brasil não teve uma política de isolamento social coordenada pelo governo federal. Ao longo da pandemia, o presidente atacou as medidas de isolamento— comprovadamente eficazes para a contenção da circulação do coronavírus — e repetiu a mentira de que o STF (Supremo Tribunal Federal) o impediu de agir no combate à covid.
Coube aos estados e municípios estabelecerem regras próprias, e poucos locais no Brasil aderiram ao lockdown (isolamento total). A maioria dos estados optou pelo isolamento parcial, fechando comércio e serviços em horários ou dias específicos para diminuir a circulação de pessoas. Bares e restaurantes foram fechados, lugares públicos tiveram entrada controlada e aulas foram suspensas, mas raramente houve restrição à circulação nas ruas.
O Banco Central atribuiu à pandemia — e, mais especificamente, seus efeitos sobre os preços das matérias-primas (commodities) — e à crise hídrica a culpa pela inflação de 10,06%.
As justificativas foram enviadas ontem ao ministro da Economia, Paulo Guedes, e ao CMN (Conselho Monetário Nacional). Toda vez que a inflação fica acima da meta definida para um ano, o presidente do BC — desta vez, Roberto Campos Neto — é obrigado a prestar esclarecimentos.
"Os principais fatores que levaram a inflação em 2021 a ultrapassar o limite superior de tolerância foram os seguintes: 1) forte elevação dos preços de bens transacionáveis em moeda local, em especial os preços de commodities; 2) bandeira de energia elétrica de escassez hídrica; e 3) desequilíbrios entre demanda e oferta de insumos, e gargalos nas cadeias produtivas globais", explicou o BC, em carta.
Fonte: Correio Braziliense - UOL