Política

É mais fácil erradicar pobreza do que subsidiar gasolina, diz Guedes





O ministro da Economia, Paulo Guedes, negou hoje a possibilidade de criar um fundo para subsidiar o preço da gasolina, e disse que seria mais fácil erradicar a pobreza.

"Pode ser que sobre o diesel possa avançar um pouco mais, mas sobre gasolina? Estamos em transição para economia verde, para OCDE, para uma economia digital. Será que deveríamos estar subsidiando gasolina?", questionou durante evento do banco Credit Suisse. "Uma primeira versão [desse possível fundo] falava em R$ 120 bilhões, três vezes o que era o Bolsa Família. É mais fácil erradicar pobreza do que subsidiar gasolina".

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), já havia dito ontem que um fundo de subsídio não faria parte da PEC dos Combustíveis, medida estudada pelo governo para controlar o preço desses produtos. Segundo Lira, o projeto deve focar somente no óleo diesel.

A proposta está sendo desenhada para que possa reduzir tributos que incidem sobre combustíveis sem a exigência de compensação. O plano foi elaborado inicialmente sem a participação da equipe econômica.

Guedes defendeu reformas estruturais e a privatização da Petrobras como medidas possíveis. Segundo ele, a cessão da empresa à iniciativa privada poderia aumentar a extração e, portanto, a oferta de petróleo no mercado internacional, abaixando os preços.

"Nós não estamos permitindo a realização do nosso potencial de crescimento, somos pobres por opção", declarou.

De acordo com o ministro, o Brasil vem observando ganhos estruturais de arrecadação. Por isso, segundo ele, o governo poderia pegar de 10% a 20% desses ganhos e repassar para cortes de impostos, seja sobre combustíveis ou sobre o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).

Guedes disse ainda que a será política a decisão sobre eventual limitação do ICMS (Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) sobre combustíveis, um tributo estadual. Ele ponderou, ainda, que é bem-vindo pensar em um teto para impostos.

Alta dos combustíveis

Na semana passada, a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) informou que o litro da gasolina atingiu, pela primeira vez, o valor de R$ 8. O registro foi feito em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. O combustível subiu 45,9% em 2021, ainda segundo dados da agência.

Os preços da gasolina, do diesel e do gás de cozinha (GLP) no Brasil dependem de dois fatores voláteis, isto é, que sofrem variações com facilidade: o preço do petróleo e a cotação do dólar.

O preço do petróleo interfere no valor dos combustíveis no mercado interno principalmente porque, desde 2016, a política de preços da Petrobras acompanha o valor do barril. Assim, quando o preço do petróleo sobe, a empresa também reajusta os valores dos combustíveis nas refinarias.

Como o petróleo é negociado em dólares, a taxa de câmbio entre a moeda norte-americana e o real também tem impacto sobre os preços cobrados.

'Transição para economia verde'

Apesar de o ministro ter citado uma transição para uma economia mais sustentável como motivo para não subsidiar o combustível fóssil, novas regras incentivam a geração de energia suja no país.

A lei que permitiu a privatização da Eletrobras obriga a construção de usinas termelétricas a gás, e, recentemente, um incentivo a usinas a carvão em Santa Catarina também foi aprovado.

Segundo especialistas, a construção e o uso de usinas termelétricas, mais poluentes, não é necessariamente ruim para o sistema. Mas a forma como esses incentivos estão sendo concedidos, de acordo com eles, é equivocada e prejudica o consumidor, podendo encarecer a conta de luz.

 

- Guedes: governo avalia redução moderada de imposto sobre combustíveis

O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse hoje (1º) que o governo avalia redução “moderada” de alguns impostos na elaboração da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Combustíveis. O objetivo da medida é evitar os sucessivos aumentos no preço dos combustíveis. Guedes destacou que o governo estuda reduzir impostos sobre o diesel, mas questionou a adoção de medida similar para a gasolina.

“Estamos estudando isso com muita moderação, olhando exatamente para os impostos que poderiam ser moderadamente reduzidos. Pode ser que [em] um [imposto] sobre diesel [se] possa avançar um pouco mais. Mas, sobre gasolina, afinal de contas, se estamos em transição para uma economia verde, se estamos em transição para uma economia digital, será que deveríamos subsidiar gasolina?”, questionou o ministro em evento virtual sobre a economia brasileira realizado pelo banco Credit Suisse.

Segundo o ministro, a proposta seria “autorizativa”, com a adesão de estados para, entre outras medidas, reduzir as alíquotas do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Como contrapartida, o governo tambémreduziria impostos federais incidentes sobre o produto, a exemplo da contribuição do Programa de Integração Social e de Formação do Patrimônio do Servidor Público (PIS/Pasep) e da Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (Cofins).

“Se quiserem reduzir o ICMS, reduzam o ICMS para o Brasil girar melhor em cima do diesel. Por outro lado, se o governo federal também for autorizado; nós arrecadamos em torno de R$ 17 [bilhões], quase R$ 18 bilhões/ano de diesel; poderíamos reduzir um pouco isso aí também”, acrescentou.

O ministro disse ainda que o problema é político e citou projeto aprovado na Câmara dos Deputados que estabelece um valor fixo para a cobrança de ICMS sobre combustíveis.

Atualmente, o ICMS é calculado como um percentual do preço final. Isso faz com que o imposto flutue conforme os preços nas bombas, subindo quando a Petrobras reajusta os valores nas refinarias e baixando, quando ocorre o contrário.

O projeto obriga estados e o Distrito Federal a especificar a alíquota cobrada do ICMS de cada produto pela unidade de medida adotada (litro, quilo ou volume), e não mais sobre o valor da mercadoria, como ocorre atualmente. A proposta aguarda análise do Senado.

"Se eles acharem que tem de limitar o ICMS, e sair de ad valorem [percentual conforme o valor da mercadoria] para ad rem [valor fixo] e limitar, em vez de ser 34%, que seja 25%, 20%. É um problema político, eu não entro nessa discussão. Agora que é bem-vindo, em vez de pensar só em teto de gasto, pensar em teto de imposto, eu gosto da ideia”, afirmou.

Os sucessivos aumentos no preço dos combustíveis geraram queda de braço entre o governo federal e os estados. Por diversas vezes ao longo do ano passado, o presidente Jair Bolsonaro atribuiu aos estados parte da responsabilidade pelos aumentos dos combustíveis. O governo federal defende que o ICMS seja cobrado como um preço fixo por litro, como ocorre com os tributos federais.

Em meio às afirmações do presidente, os secretários de estaduais de Fazenda aprovaram, durante reunião do Comitê Nacional de Política Fazendária (Confaz) a prorrogação até 31 de março, do congelamento ICMS dos combustíveis, que incide sobre o preço médio ponderado ao consumidor final (PMPF). O congelamento, aprovado em outubro passado, terminaria no 31 de janeiro.

Contudo, os governadores afirmam que o congelamento não é suficiente e argumentam que os elementos centrais dos aumentos dos combustíveis são a “variação do dólar e a política da Petrobras de paridade com o mercado internacional do petróleo”, segundo carta do Comitê Nacional dos Secretários de Fazenda dos Estados e do Distrito Federal, divulgada na semana passada.

Como solução, os estados defendem a criação de um fundo de estabilização dos preços dos combustíveis, que evitaria repasses ao consumidor. Durante o evento desta terça-feira, Guedes manifestou-se contra a criação de um fundo. Segundo o ministro, mais de 80% dos fundos de estabilização de outros países "deram errado".

 

 

Fonte: UOL com Reuters - Agência Brasil