Política

Ao lado de Putin, Bolsonaro diz que paz é interesse de todos





O presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou nesta 4ª feira (16.fev.2022) que a “paz para o mundo” é interesse de todos. O chefe do Executivo foi recebido pelo presidente russo, Vladimir Putin, e participou de almoço no Palácio do Kremlin. Fizeram declaração a jornalistas depois do encontro, que durou 2h.

“O mundo é a nossa casa e Deus está acima de todos nós. Pregamos a paz e respeitamos todos aqueles que agem dessa maneira, afinal de contas esse é o interesse de todos nós: paz para o mundo”, declarou.

Na declaração conjunta, Bolsonaro se referiu a Putin como “amigo” e mencionou “valores comuns” com o chefe russo. Os dois países acordaram intensificar a cooperação na área de tecnologia, defesa, energia e no setor de petróleo e gás.

“Compartilhamos de valores comuns como crença em Deus e a defesa da família. Também somos solidários àqueles países que querem e se empenham pela paz. Temos uma colaboração intensa nos principais fundos internacionais, como BRICS, G20 e as Nações Unidas, onde defendemos a soberania dos Estados, o respeito ao direito internacional e carta das Nações Unidas”, disse.

Visita

Antes da reunião, os dois presidentes fizeram declaração inicial em que Bolsonaro afirmou que Brasil e Rússia têm “muito a colaborar em várias áreas”. Para o encontro, Bolsonaro precisou apresentar testes negativos de covid-19.

Depois de ser recebido por Putin, o chefe do Executivo se reunirá com o presidente da Duma, o Congresso da Rússia, Vyacheslav Volodin. De noite, Bolsonaro participará de jantar com empresários.

No início do dia, Bolsonaro participou de uma homenagem no monumento “Túmulo do Soldado Desconhecido”, em Moscou. Estava acompanhado de ministros e depositou flores no monumento histórico.

Bolsonaro está em visita oficial à Rússia junto de comitiva do governo. Chegou ao país na 3ª feira (15.fev). A viagem para Moscou foi um convite de Putin. A visita oficial é realizada no momento em que há uma escalada de tensão entre a Rússia e a Ucrânia. Bolsonaro foi orientado a não introduzir o assunto na reunião com Putin.

Na 5ª feira (17.fev), a comitiva brasileira viajará para a Hungria, onde Bolsonaro se encontrará com o primeiro-ministro, Viktor Orbán. O encontro ocorrerá a dois meses das eleições na Hungria. Orbán é candidato à reeleição.

 

Confira outras notícias 

- Brasil e Rússia discutem parceria sobre tecnologia militar em encontro de chanceleres

Ministros de Relações Exteriores se reuniram, nesta quarta (16), em Moscou, antecipando reunião entre os presidentes Bolsonaro e Putin

Os ministros de Relações Exteriores da Rússia, Serguey Lavrov, e do Brasil, Carlos França, se reuniram na manhã desta quarta-feira (16) em Moscou.

O encontro entre os países aconteceu pela primeira vez no formato em que há dois representantes em cada lado da mesa. Além dos chanceleres, estiveram presentes os ministros da Defesa brasileiro, Braga Netto, e o russo, Serguei Shoigu.

Em uma coletiva de imprensa após o encontro, França informou que foi discutida uma parceria estratégica entre os países envolvendo as áreas de pesquisa e da Defesa (tecnologia militar).

O ministro brasileiro disse que foram discutidos parâmetros para a implementação dessa parceria. “A Rússia é uma referência mundial no desenvolvimento tecnológico, sobretudo no âmbito da Defesa”, afirmou o chanceler, dizendo que o Brasil privilegia oportunidades de transferência de tecnologia nesse setor.

França ainda disse que, nesta quarta (16), o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, firmou com sua contraparte russa um “protocolo mútuo de informações classificadas” entre os países.

O chanceler brasileiro destacou que esse acordo de troca de informações vai se adequar à Lei de Acesso à Informação (LAI) brasileira.

Em entrevista à CNN, a pesquisadora sênior do Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais), Fernanda Magnotta, disse que a reunião dos chanceleres não trouxe muitas novidades envolvendo questões de segurança – destacando que a discussão do tema já era esperada.

“Essas informações em geral não afetam a vida do cidadão comum. Estamos falando de informações coletadas pelo serviço de inteligência estatal e são compartilhados todas as regras do jogo. Nada do que o Brasil coleta, e muito menos que o Brasil compartilha, desrespeita os direitos constitucionais brasileiros”, disse. 

“Estamos interessados em uma troca regular e permanente das avaliações geopolíticas e informações da região latino-americana”, disse Lavrov na coletiva.

O chanceler russo também afirmou que conseguiu um compromisso com o Brasil para desenvolver e coordenar um “esforço pela não proliferação de armas de extermínio em massa”. “A Rússia e o Brasil estão a favor da retificação do tratado sobre a proibição dos testes nucleares”, comentou.

Política internacional foi discutida, mas Brasil não cita Ucrânia

Na reunião, Lavrov e França também discutiram questões da política internacional.

O chanceler russo aproveitou seu pronunciamento para reafirmar a posição do país de apoio para que o Brasil se torne um membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, bem como a expansão do número de membros no órgão.

Carlos França se limitou a dizer que foram discutidos temas da conjuntura internacional e também questões relacionadas ao órgão da ONU.

Lavrov avançou e disse que “fizeram troca de opiniões sobre a situação no Leste Europeu”. Ele também afirmou que “discutiram muito” a “abordagem dos Estados Unidos de trocar o Direito Internacional pelas suas ordens e da tentativa de dividir o mundo em duas partes, países democráticos e não democráticos”.

Como exemplo da linha política americana, Lavrov citou “o alargamento incontrolado da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) para o leste” – questão chave na atual tensão envolvendo a Ucrânia.

- Bolsonaro dá senha para Rússia atacar eleições com fake news

A viagem do presidente Jair Bolsonaro (PL) à Rússia virou uma guerra de memes por uma razão muito simples: ela já faz parte da campanha eleitoral.

Bolsonaro tentou ser recebido por Boris Johnson, primeiro-ministro britânico, mas bateram a porta na cara dele, segundo 2 diplomatas com quem conversei. Outros governantes europeus também fogem de Bolsonaro por medo de parecerem malucos negacionistas –é essa a imagem do presidente no resto do mundo. Restou a opção Vladimir Putin, o presidente da Rússia, um autocrata que adora alimentar a direita e não tem o menor problema com negacionistas, já que faz com que eles se convertam à ciência a força-bruta –Bolsonaro foi obrigado a usar máscaras e a diplomacia brasileira perde preciosas horas tentando evitar que ele seja obrigado a fazer exames de covid-19 com uma frequência que Bolsonaro considera inaceitável.

A guerra dos memes bolsonarista é engraçada pelo humor simplório, ao estilo de “A Praça é Nossa” ou “Escolinha do Professor Raimundo”. O ex-ministro Ricardo Salles, um campeão de desmatamento e negócios suspeitos na Amazônia, publicou no Instagram uma foto de aperto de mãos entre Bolsonaro e Putin sobre a seguinte frase, atribuindo a informação à rede CNN: “Putin sinaliza recuo na Ucrânia. Presidente Bolsonaro evita a 3ª guerra mundial”(94.599 curtidas até às 20h30 de ontem). A menção à CNN era mentirosa, claro. Outra piada mostrava Bolsonaro na capa da Time e o título “Prêmio Nobel da Paz 2022” (66.296 curtidas no mesmo horário). Salles foi secretário particular de Geraldo Alckmin, o provável vice de Lula, por ser da Opus Dei, o grupo católico que ostenta um conservadorismo medieval. Sua verve piadista é de uma criança de 8 anos.

Bolsonaro vai fechar alguns negócios na Rússia, mas a sua principal missão é contratar aliados –no sentido figurado, claro– para a guerra que vai ocorrer na campanha eleitoral deste ano. A Rússia é a mais grandiosa potência a interferir em outros países com bombardeio de fake news, como ocorreu nas campanhas de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos em 2016. Investigações feitas no Reino Unido apontaram indícios para lá de robustos de que os russos ajudaram a turbinar o voto pelo sim no Brexit em 2016 e na vitória do conservador Boris Johnson em 2019. Escócia e Ucrânia também acusaram a Rússia de interferir no referendum da independência e nas eleições, respectivamente.

Dito de outra forma: a Rússia virou uma espécie de Fakelândia, uma terra sem lei, onde o governo tem batalhões para interferir em eleições estrangeiras e a iniciativa privada fornece a mais popular ferramenta da extrema direita global, o aplicativo de mensagens Telegram.

Talvez seja tudo acaso, mas o Telegram tornou-se a ferramenta mais popular entre os bolsonaristas e fonte de preocupação do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), por ser arredio à lei. A escolha da plataforma não tem nada a ver com tecnologia. O Telegram não é só opaco; é inalcançável. Não dá a mínima para as demandas do Tribunal Superior Eleitoral. É uma política seletiva. Trata o Brasil como uma república de bananas, mas com a Alemanha não só dá satisfações às demandas do Judiciário como bloqueia quem dissemina informações falsas, como mostrou o advogado e ativista digital Ronaldo Lemos.

Os bolsonaristas migraram para o Telegram em 9 janeiro do ano passado, um dia depois de o Twitter enxotar de forma definitiva o presidente Donald Trumpde sua rede pelas mentiras em série que ele tuitava sobre as eleições americanas. Em um dia Bolsonaro conquistou 53 mil seguidores no Telegram; hoje são 1.047.821 inscritos. É o político com mais seguidores no Telegram. Se somados todos os seguidores de Bolsonaro no Facebook, Instagram, TikTok, YouTube, Twitter e Telegram, o número salta para 43 milhões. O profissionalismo digital de Bolsonaro, se você abstrair o conteúdo, faz as campanhas do PT parecerem peças da era do rádio (anos 1930-1950).

O vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos) tem um conhecimento profundo do eleitorado do pai e usa esse canal para que não se dispersem nem abandonem Bolsonaro. O resultado é impressionante. Bolsonaro consegue manter um eleitorado fiel que oscila entre 20% e 30%. Esses percentuais, porém, se mantidos até as eleições, podem levar Lula a vencer no 1º turno. A Rússia pode ser a salvação.

A campanha eleitoral tem tudo para ser uma guerra digital suja. Bolsonaro está ajudando Putin num momento de isolamento do líder russo no Ocidente (a China segue firme no suporte ao presidente russo). A especialidade russa em eleições é justamente a guerra digital suja. Bolsonaro vai precisar de amigos na disputa com Lula, na qual aparece sempre em 2º lugar. Amigos como Putin são para essas coisas.

Fonte: Poder360 - CNN Brasil