Política

Bolsonaro vai à Hungria para ver líder autocrata Orbán após visita a Putin





Agenda em Budapeste foi montada em cima da hora, e presidente ficará poucas horas na capital

Depois da visita ao ícone iliberal Vladimir Putin, Jair Bolsonaro fará uma rápida visita à capital da Hungria, Budapeste. Irá se encontrar com um expoente do time na Europa, o premiê Viktor Orbán.

Assim como o brasileiro, o húngaro enfrentará eleições decisivas neste ano —só que logo ali, em abril. Ainda que seja insondável o ganho de imagem que Orbán possa vir a ter com Bolsonaro, a visita parece fazer parte de um movimento para que ele galvanize sua base de apoio.

O ápice, se o plano der certo, será ter Donald Trump em um evento conservador em Budapeste. O problema é que o ex-presidente americano, que recebeu apoio de Orbán à sua eleição em 2016, resiste a viajar em tempos de Covid-19.

Pouco se sabe sobre o que Bolsonaro fará em Budapeste, viagem que foi incluída de última hora na esteira da visita a Putin. A Secom (Secretaria de Comunicação da Presidência) e o Itamaraty não divulgaram o motivo do deslocamento até esta semana, quando surgiram acordos bilaterais a serem assinados nas áreas de defesa e cultura, humanitária e de gestão de recursos hídricos.

Bolsonaro parte de Moscou e será recebido pelo presidente János Áder às 10h locais (6h em Brasília). Depois, encontra-se com Orbán e assina os tais tratados.

Ambos os líderes farão uma declaração conjunta e deverão almoçar. Mais tarde, o brasileiro visita a Assembleia Nacional e, segundo ele mesmo disse nesta quarta em Moscou, decola para o Brasil.

A corrente de comércio Brasil-Hungria é modesta, ainda que esteja na ascendente. Em 2021, o país exportou US$ 62 milhões para os húngaros, importando US$ 457 milhões. Na área de defesa, contudo, há um grande negócio em curso com apoio de ambos os governos, a venda por US$ 300 milhões de dois cargueiros KC-390 da Embraer para o país, que é membro da Otan (aliança militar ocidental).

Ideologicamente, contudo, os laços entre Orbán e o bolsonarismo são fortes. O premiê, no poder desde 2010, foi visitado pelo filho do presidente Eduardo em 2019. O deputado pelo PSL-SP (de mudança agendada para o PL) é quem costuma fazer a interface com movimentos populistas de direita mundo afora, com especial contato com as franjas radicais do trumpismo, coordenadas pelo ex-assessor da Casa Branca Steve Bannon.

Já as convicções do premiê são mais flexíveis. Ele surgiu no cenário húngaro como líder estudantil nos estertores da Guerra Fria, em 1989. Como todo jovem, um duro crítico do domínio da União Soviética sobre a Hungria e outros satélites.

Seu país sofreu a primeira grande intervenção armada determinada por Moscou contra seus vassalos europeus do pós-guerra, em 1956, para acabar com uma revolta estudantil que saiu de controle contra o regime comunista. Há em Budapeste um museu perturbador sobre esse trauma, a Casa do Terror, que também aponta armas contra os fascistas que vieram antes dos comunistas na Segunda Guerra Mundial.

Orbán fundou um partido liberal, o Fidesz (acrônimo húngaro para União de Jovens Democratas) - União Cívica Húngara. Chegou ao poder em 1998 e ficou até 2002, derrotado por socialistas.

Desde a década de 1990, adernou para a extrema direita, com o pacote usual do modelo europeu: discurso nacionalista, contra imigrantes, contra o internacionalismo. Costuma ser listado com Recep Tayyip Erdogan, o também autocrático presidente turco, que vive uma relação de cooperação e rivalidade com Putin.

Curiosamente, Orbán teve uma passagem pela Universidade de Oxford bancada pelo bilionário George Soros, hoje a besta-fera dos círculos que se dizem antiglobalistas —trumpistas e bolsonaristas que seguiam o falecido escritor Olavo de Carvalho, como o ex-chanceler brasileiro Ernesto Araújo e os filhos do presidente.

Mas o premiê sempre manteve uma instância crítica à Rússia, até por um certo atavismo húngaro da Guerra Fria. Isso mudou a partir da crise mundial de 2008, e em 2014 Orbán elencou Putin como estrela do modelo que chamou de democracia iliberal.

Aqui e ali, houve rusgas, mas ao fim os dois líderes são percebidos pela elite da União Europeia em Bruxelas como seres políticos da mesma extração. Os ataques de Orbán à independência do Judiciário, com a ocupação de cargos, e aos direitos LGBTQIA+ já lhe valeram diversas censuras.

Lá fora

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Além disso, desde meados da década passada ele e Putin negociam um megaprojeto de energia nuclear de 12 bilhões de euros (R$ 76 bilhões hoje) bancado pela estatal russa Rosatom, visto por críticos como uma forma de compra de apoio pelo Kremlin.

Ao mesmo tempo, é um membro da Otan no sensível Leste Europeu, chacoalhado pela crise em que tropas de Putin cercam a vizinha Ucrânia. Ele já disse a Putin, a quem visitou recentemente, que está preocupado com o risco de uma nova crise de refugiados europeia caso haja o conflito que o russo negar querer.

A crise esteve no cardápio da visita de Bolsonaro, que havia sido pressionado pelos EUA a não aparecer ao lado de Putin nesse momento tenso, para não supor apoio. O presidente disse é "solidário à Rússia" e que o russo parece "querer a paz".

 

- Bolsonaro anuncia medida provisória para ajudar Petrópolis

O presidente Jair Bolsonaro (PL) anunciou que o governo editará uma medida provisória para auxiliar Petrópolis (RJ), cidade da Região Serrana atingida por fortes chuvas desde a madrugada de 3ª feira (15.fev).

“Passamos a noite conversando, acertando com os ministros Guedes [da Economia] e Marinho [do Desenvolvimento Regional]. [A MP] deve sair nas próximas horas”disse Bolsonaro em entrevista à Jovem Pan.

Bolsonaro não deu mais detalhes sobre o mérito da MP. Disse anteriormente a jornalistas, em Moscou, na Rússia, que o governo liberaria créditos especiais para as vítimas das enchentes..

“Pretendemos ganhar 2 ou 3 horas para não só sobrevoar Petrópolis, mas para chegar antes de meio-dia no Galeão com os principais ministros bem como encontrar autoridades municipais. Irá conosco o governador Cláudio Castro (PL-RJ) para levarmos não só mensagem de apoio bem como buscar como a União pode colaborar com eles”.

Bolsonaro na Rússia

O presidente brasileiro e o presidente russo, Vladimir Putin, assinaram comunicado conjunto sobre os compromissos acordados na reunião realizada nesta 4ª feira (16h). O encontro, no Palácio do Kremlin, durou certa de 2h.

Os 2 países falaram sobre “fortalecer a parceria estratégica, ampliar o diálogo político e elevar o relacionamento bilateral, com base nos princípios compartilhados de respeito à soberania, ao direito internacional e ao Estado de Direito”.

“Comunicado Conjunto do Presidente da República Federativa do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, e do Presidente da Federação da Rússia, Vladimir Putin 

“Em 16 de fevereiro de 2022, o Presidente da Federação da Rússia, Vladimir Putin, manteve encontro com o Presidente da República Federativa do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, em visita oficial à Federação da Rússia, a convite do mandatário russo.

“A reunião entre os Presidentes transcorreu em atmosfera de cordialidade e confiança mútua, reflexo dos laços históricos de amizade e cooperação entre o Brasil e a Rússia.

“Os Chefes de Estado sublinharam a determinação de fortalecer a parceria estratégica, ampliar o diálogo político e elevar o relacionamento bilateral, com base nos princípios compartilhados de respeito à soberania, ao direito internacional e ao Estado de Direito. Reafirmaram o compromisso em promover um sistema internacional inclusivo, equitativo e representativo, de acordo com os princípios e propósitos da Carta das Nações Unidas, voltado à promoção da paz, da democracia e da prosperidade para todos.

“Os dois líderes destacaram a intensificação das visitas bilaterais de alto nível, bem como os resultados positivos da XI sessão da Comissão Intergovernamental de Cooperação Econômica, Comercial, Científica e Tecnológica, realizada em outubro de 2021, em Brasília. Sublinharam a importância de que a VIII sessão da Comissão de Alto Nível de Cooperação se realize no primeiro quadrimestre de 2022, no Rio de Janeiro.

“Os Presidentes saudaram o dinamismo da cooperação bilateral nas áreas de agricultura, energia, meio ambiente, defesa, ciência e tecnologia, educação e cultura.

“Os Chefes de Estado saudaram a retomada do comércio bilateral ao patamar anterior à pandemia e reiteraram o interesse mútuo na ampliação e diversificação da pauta de comércio bilateral, com maior participação de mercadorias de alto valor agregado, e da cooperação econômica. As partes reafirmaram o compromisso de cooperar para o equilíbrio da balança comercial.

“Os líderes convidaram os empresariados brasileiro e russo a aproveitar as oportunidades de negócios e investimentos nos dois países. Saudaram a atividade do Conselho Empresarial Rússia-Brasil e a reativação do Conselho Empresarial Brasil-Rússia como importantes alavancas dessa cooperação.

“Os Presidentes constataram com satisfação o aumento do fornecimento de fertilizantes russos ao Brasil.

“Destacaram a necessidade de continuar a cooperação no setor do agronegócio. As Partes sublinharam a importância da continuada interação entre as agências regulatórias do Brasil e da Rússia para ampliar o acesso aos mercados dos dois países, inclusive por meio da expansão do número de estabelecimentos habilitados a exportar produtos de natureza animal e vegetal, inclusive pescado.

“Os Presidentes apreciaram o nível de cooperação entre as agências alfandegárias do Brasil e da Rússia, que visa a simplificar os procedimentos aduaneiros e garantir a segurança do comércio bilateral.

“Os Chefes de Estado ressaltaram o potencial significativo de desenvolvimento da cooperação e de novos negócios no campo da energia, notando complementaridades nos setores de petróleo e gás, eficiência energética e energias renováveis. Manifestaram a intenção de aprofundar o diálogo em temas como exploração de petróleo e gás em mar, desenvolvimento de energia de hidrogênio e energia nuclear.

“Os líderes notaram as perspectivas de incremento da Aliança Tecnológica Brasil-Rússia, em áreas como nanotecnologia, biotecnologia, inteligência artificial, tecnologias de informação e comunicação, pesquisas em saúde e oceanos. Dispuseram-se a estimular os contatos entre universidades, instituições de pesquisa e startups dos dois países.

“Registraram a cooperação na área espacial e a implementação de projetos conjuntos nas áreas de navegação por satélite e monitoramento de detritos espaciais. Confirmaram o interesse compartilhado em estimular a cooperação em outras esferas da atividade espacial com fins pacíficos.

“Os Presidentes discutiram as perspectivas de fortalecimento da cooperação e intercâmbio militar bilateral. Registraram a primeira edição da Reunião de Consultas em Relações Exteriores e Defesa, no formato 2+2, em nível ministerial, ocorrida no quadro da visita oficial do Senhor Presidente da República, Jair Bolsonaro, a Moscou.

“Os líderes coincidiram na importância de fomentar a aproximação entre os povos brasileiro e russo, cujas heranças culturais são motivo de admiração recíproca. Anotaram as iniciativas para a comemoração do bicentenário da Independência do Brasil.

“As partes expressaram interesse em incentivar o intercâmbio de estudantes e a cooperação cultural, esportiva e em turismo, de maneira a favorecer o conhecimento mútuo e ampliar as relações interpessoais. Saudaram os 22 anos do estabelecimento do Instituto Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, em Joinville.

“O Presidente Bolsonaro agradeceu o Presidente Putin pelo reiterado apoio russo ao Brasil como forte candidato, merecedor de um assento permanente em um Conselho de Segurança das Nações Unidas reformado, assim como à eleição do Brasil para assento não-permanente no CSNU, no biênio 2022-2023.

“Os Presidentes concordaram em aprofundar a coordenação brasileiro-russa sobre temas da agenda do CSNU, com vistas a contribuir para o enfrentamento às ameaças à paz e segurança internacionais, em consonância com os princípios e propósitos da Carta das Nações Unidas, reafirmando o compromisso com a solução pacífica de controvérsias.

“Os Chefes de Estado expressaram preocupação com o aumento da instabilidade em diferentes partes do mundo, coincidindo na necessidade de que os conflitos sejam solucionados por meios pacíficos e pelo engajamento diplomático, em conformidade com o direito internacional, incluindo a Carta das Nações Unidas.

“Destacando a importância do BRICS como fórum de países dedicados à promoção de uma ordem mundial multipolar, os Presidentes manifestaram-se em prol da continuação do fortalecimento da cooperação estratégica do BRICS e saudaram o avanço da interação entre os cinco países em áreas como saúde, comércio, economia e finanças, energia, ciência, tecnologia e inovação, contatos culturais e interpessoais.

“Os Presidentes notaram o caráter construtivo da cooperação no âmbito do G20, que visa a promover os interesses comuns das economias emergentes e criar condições favoráveis para garantir a progressiva e equilibrada interação econômica e social internacional. Nesse contexto, reafirmaram o papel do G20 como o principal fórum de cooperação econômica internacional.

“Os líderes defenderam a importância de fortalecer a Organização Mundial do Comércio, com foco na ampliação dos fluxos de comércio e investimentos e na defesa dos princípios de livre mercado.

“Os Presidentes reafirmaram seu compromisso com a implementação da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, destacando a importância do equilíbrio entre seus pilares ambiental, social e econômico. Saudaram as declarações dos representantes brasileiros e russos na Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima de Glasgow e a adoção da Declaração de Glasgow sobre Florestas e Uso da Terra, notando que os dois países abrigam as maiores florestas do mundo, a Amazônia brasileira e a Taiga russa. Os Presidentes coincidiram na importância de estabelecer diálogo sobre temas de proteção das florestas, com o objetivo de estimular a cooperação bilateral na área do desenvolvimento sustentável e enfrentamento da mudança do clima.

“Os Chefes de Estado reafirmaram a necessidade de uso do espaço exterior para fins pacíficos e de garantir a sustentabilidade das atividades espaciais. Os Presidentes reiteraram a necessidade das ações conjuntas para prevenir a corrida armamentista no espaço exterior.

“Destacaram ainda a importância da Convenção sobre a Proibição do Desenvolvimento, da Produção e do Armazenamento das Armas Bacteriológicas (Biológicas) ou Tóxicas e sobre a Sua Destruição (BWC) como um dos pilares do sistema de segurança internacional. Apontaram na necessidade de fortalecer a BWC, inclusive através da adoção de um protocolo à Convenção juridicamente vinculante.

“Os Presidentes reafirmaram o compromisso com as obrigações no âmbito do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, que é a base do regime de não proliferação de armas nucleares, e sublinharam a importância da mais rápida entrada em vigor do Tratado de Proibição Total de Testes Nucleares como um dos elementos chave do regime de não proliferação de armas nucleares e controle de armamentos.

“Os líderes confirmaram o seu apoio à Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ) e a sua firme intenção de encorajar esforços e iniciativas que visam a reforçar a autoridade da OPAQ e a integridade da Convenção sobre a Proibição do Desenvolvimento, Produção, Armazenagem e Utilização de Armas Químicas e sobre sua Destruição.

“Os Presidentes encorajaram o diálogo entre o MERCOSUL e a União Econômica Euroasiática.

“O Presidente Jair Bolsonaro agradeceu a hospitalidade da parte russa durante a sua estada em Moscou e convidou o Presidente Vladimir Putin a realizar visita ao Brasil. O convite foi aceito com satisfação. As datas da visita serão acordadas pelos canais diplomáticos.”

Fonte: UOL - Poder360