Política

Itamaraty diz que não há condições de segurança para resgate de 180 brasileiros





De acordo com o Itamaraty, cerca de 500 brasileiros vivem na Ucrânia. Eles podem entrar em contato com o corpo diplomático brasileiro por meio do site da Embaixada em Kiev, na página no Facebook e em grupo do aplicativo Telegram.

Pelo menos 180 brasileiros já se cadastraram na Embaixada do Brasil em Kiev, capital da Ucrânia, para serem evacuados do país, de acordo o Ministério das Relações Exteriores (MRE). No entanto, o Itamaraty informou que ainda não há “condições de segurança” nem logística para fazer o resgate, uma vez que o espaço aéreo do país está fechado.

“Para os brasileiros que estão na região leste da Ucrânia [territórios de Donetsk e Luhansk], recomendamos que deixem o local e se desloquem para a capital, Kiev. Aos que estão na região da fronteira, orientamos que deixem o país”, disse o embaixador Leonardo Gorgulho, do corpo de comunicação do órgão, em coletiva de imprensa, em Brasília. “Não estão dadas as condições de segurança para que essas pessoas sejam evacuadas”, complementou.

De acordo com o Itamaraty, cerca de 500 brasileiros vivem na Ucrânia. Eles podem entrar em contato com o corpo diplomático brasileiro por meio do site da Embaixada em Kiev, na página no Facebook e em grupo do aplicativo Telegram.

O Itamaraty recomendou aos brasileiros que moram em Kiev que permaneçam em domicílio e que sigam as orientações das autoridades locais. No Leste do país, que se desloquem para os países vizinhos, onde há consulados atuando para a recepção de brasileiros. Em Lviv, na fronteira com a Polônia, que sigam para esse país ou para a Moldávia. As embaixadas em Varsóvia, na Polônia; Bucareste, Romênia; Bratislava, capital da Eslováquia; e Moscou, na Rússia, estão em plantão para receber os brasileiros.

Vida no bunker

O Correio conversou com um brasileiro que pediu para ter a sua identidade preservada devido ao risco de segurança. “Cheguei a Kiev em 22 de fevereiro, à noite, e é onde eu estou até o momento. Acordamos na madrugada (5h da manhã horário local) com barulho de bombas. Fechamos as malas e nos juntamos a outras famílias brasileiras. Estamos acompanhando um jogador representado pelo nosso escritório, e o clube nos colocou no hotel. Aos poucos, se juntaram a nós portugueses, a comissão técnica do clube, que é italiana, e alguns ucranianos. Por volta das 13h30 (hora local), o hotel avisou que havia helicópteros sobrevoando e que teríamos que ir para um bunker, onde estamos agora. Aqui tem estrutura, água, medicamentos, colchões, café e mantimentos. Estamos aguardando que o governo se posicione. Tentamos contato com a embaixada, que lavou as mãos, deu medidas contraditórias e limitadas. O clube fez mais que a embaixada”, relata.

O engenheiro eletricista mineiro David Abu-Gharbil se mudou há dois meses para Kiev e vive a tensão da guerra. Ele publicou um vídeo nas redes sociais no qual mostra pessoas ao lado de um bunker. “Estamos esperando aqui fora perto do bunker. Caso ocorra algum ataque, a gente vai para dentro. Estamos aguardando porque teve um aviso agora que vai haver vários ataques na cidade”, afirma David, que nasceu em Coqueiral, cidade com 9 mil habitantes no Sul de Minas.

Análise

Para Rodrigo Amaral, professor de Relações Internacionais da PUC/SP, o governo ucraniano não deverá impor restrições aos brasileiros em seu território. No último dia 19, a embaixada brasileira em Kiev pediu aos brasileiros que estavam no Leste da Ucrânia para saírem do país. “Considerando os protocolos de retirada, sair não é complexo. Não é do interesse que morram civis de outros países”, destaca.

Pedro Feliú Ribeiro, professor e pesquisador do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP), analisa que a guerra entre Rússia e Ucrânia ainda deverá mobilizar aliados em todo o mundo. “Como desde 2017 os Estados Unidos [que apoiam a Ucrânia] iniciaram uma campanha de contenção à China, aberta e pública. Não acredito ser uma surpresa que a China apoie a Rússia. O posicionamento chinês sobre sanções sempre foi contrário. Até o momento, avalio como sutil o posicionamento deles”, diz.

Para o especialista, as sanções e ameaças de embargo econômico não devem preocupar os protagonistas russos. “Sem dúvida, a China é um grande ator que torna as sanções ainda mais ineficazes. Os chineses vão absorver muito do comércio russo e dos investimentos”, complementa.

Questionado se a guerra se prolongará, o pesquisador é taxativo. “Vai depender do comportamento dos Estados Unidos e da Otan. O mapa global, hoje, é de uma superpotência, os EUA, começando a se sentir ameaçados pelo crescimento chinês. A Rússia já ensaiava isso desde a invasão da Geórgia, em 2008, e acompanhava a contínua expansão da Otan. Do ponto de vista militar, o mundo ainda é unipolar. Estados Unidos têm mais capacidade do que qualquer um. Do ponto de vista econômico, o equilíbrio é maior”.

Mas a situação global é mais complexa entre os envolvidos no conflito. “Ainda assim, muito diferente do sistema bipolar da Guerra Fria, o maior parceiro comercial da China é os EUA e vice e versa. Já na Guerra Fria, não havia interdependência econômica entre União Soviética e EUA”, conclui.

Fonte: Correio Braziliense - colaborou Luiz Fernando Figliagi, do Estado de Minas