Política

'Papel dos militares não é puxar saco do Bolsonaro', diz Lula





O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), líder nas pesquisas na disputa presidencial deste ano, usou uma palestra em um evento na Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) para mandar uma série de recados às Forças Armadas, ao presidente Jair Bolsonaro (PL) e ao mercado financeiro.

Falando a um público de milhares de universitários, Lula criticou a proximidade das Forças Armadas com o atual governo.

"O papel dos militares não é ficar puxando saco do Bolsonaro. Os militares são uma instituição do povo brasileiro para defender o povo brasileiro de inimigos externos. Não tem que ficar puxando saco do presidente, seja Lula, seja Bolsonaro", afirmou.

O ex-presidente foi a principal atração do painel de encerramento do encontro internacional "Democracia e Igualdade - Para um novo modelo solidário de desenvolvimento", organizado pelo Grupo de Puebla —associação de forças progressistas latinoamericanas— em parceria com a Uerj.

Antes, Lula havia lembrado os investimentos feitos por sua gestão nas Forças Armadas. Ele disse que os países latino-americanos consideravam o Brasil uma ameaça, mas que encontrou um cenário de terra arrasada nos quartéis.

"Quando eu ganhei as eleições, os soldados brasileiros eram liberados 11h da manhã porque não tinha arroz e feijão para dar pra eles", recordou.

O encerramento teve também a presença da ex-presidente Dilma Rousseff e de expoentes petistas, como o ex-chanceler Celso Amorim e o ex-ministro Aloisio Mercadante. Também estiveram presentes nomes da esquerda mundial, como Yolanda Días, vice-presidente da Espanha, o ex-presidente espanhol José Luis Zapatero e o ex-presidente da Colômbia Ernesto Samper. Alberto Fernandez, presidente argentino, participou do painel por meio de um vídeo gravado.

Clima de comício x 'mordaça'

Embora ivesse uma proposta acadêmica, o encerramento do evento teve um tom de comício para Lula, com as lideranças políticas presentes defendendo sua volta ao poder na eleição deste ano. Entre o público, havia dezenas de bandeiras do PT e de Lula, além de movimentos sociais como o MST (Movimento dos Sem Terra) e CUT (Central Única dos Trabalhadores).

No começo do seu discurso, que durou 45 minutos, o próprio Lula fez piada com a situação e aproveitou para ironizar a censura imposta pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) ao festival musical Lollapalooza.

"Faz dois dias que me orientam que eu não posso falar de eleições. Havia muita inquietação: 'Olha, Lula, nós vamos lá, vai ter o ato, mas não pode falar de eleição. Pedir voto então, impossível'. Ficou ainda mais grave porque ontem um partido [o Podemos] entrou com um processo para tentar evitar esse encontro aqui."

"Eu vim pra cá pensando em colocar uma mordaça, porque eu não ia poder falar, ia poder só ficar fazendo gesto. Mas o que eu estranho é que não se falou outra coisa aqui a não ser em eleição", completou Lula.

Lula promete 'recuperar a bandeira'

O ex-presidente ainda provocou Bolsonaro pelo fato de o presidente e seus apoiadores usarem os símbolos nacionais, como a bandeira e a camisa da seleção brasileira de futebol. Segundo ele, é preciso retomar os símbolos do país.

"Ele [Bolsonaro] é tão frágil, ele é tão boçal que não tem partido político, o partido dele não tem hino, não tem bandeira e nem programa. Então ele pegou a bandeira brasileira e a camisa da seleção brasileira para dizer: 'esse é o meu partido'. Vamos dizer para ele que a bandeira brasileira não é desse fascista", disse Lula.

Nesse momento, o ex-presidente pegou uma bandeira do Brasil de um dos presentes e exibiu para a plateia, sendo ovacionado.

Dilma tenta descolar Lula de crise em seu governo

Antes da participação de Lula, Dilma discursou, animando a militância presente no evento —realizado na Concha Acústica Marielle Franco, espaço cultural a céu aberto existente na universidade.

Recentemente, em entrevista à CBN Vale do Paraíba, Lula descartou dar um cargo para sua sucessora em um eventual terceiro governo.

Bolsonaro tem atacado a candidatura petista associando-a à crise econômica que marcou o segundo governo Dilma. No lançamento de sua pré-candidatura, no último fim de semana, o presidente voltou a repetir que encontrou o país "à beira do abismo", expressão que tem usado com frequência.

Como resposta, Dilma procurou isolar Lula da rejeição que carrega após sofrer o impeachment, em 2016.

"Eles vão inventar muita mentira contra o nosso presidente [Lula] nesse ano de 2022, em que nós vamos reconstruir o Brasil. Mas vocês vão lembrar do seguinte: os nossos erros [do PT] são meus, mas os nossos acertos são nossos [dela e de Lula]", pregou.

Fonte: UOL