Política

Chapa Lula-Alckmin formaliza maior guinada do PT à direita





O ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB) foi formalmente indicado nesta 6ª feira (8.abr.2022) para ser o vice na chapa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na eleição deste ano para a Presidência da República. A escolha do ex-tucano representa a maior guinada à direita do PT. Durante o evento, Lula celebrou a parceria.

“Tenho certeza que o PT aprovará seu nome como candidato a vice. […] Vou me dedicar de corpo e alma para que essa aliança seja definitiva”, disse Lula durante a reunião entre os partidos. O encontro foi realizado em um hotel de São Paulo. Também participaram os presidentes do PSB, Carlos Siqueira, e do PT, Gleisi Hoffmann, congressistas, governadores e prefeitos de ambas as siglas.

A indicação será levada agora para aprovação da Executiva Nacional do PT, que se reúne para deliberar no dia 14 de abril. Alckmin precisa ter seu nome aprovado. Embora haja grande apoio no partido, uma ala relevante ainda é contrária ao nome do ex-governador por considerar que seu perfil não agrega para somar novos eleitores e pode, inclusive, atrapalhar. Ainda assim, as chances de seu nome ser barrado são mínimas.

Alckmin se filiou ao PSB em 23 de março para construir o caminho de sua indicação na chapa de Lula. Mas nada, porém, suplanta o fato de ele ter sido fundador do PSDB em 1988 e ter permanecido no partido até dezembro do ano passado. O ex-governador de São Paulo é um tucano histórico na alma e tem suas origens ligadas a Mario Covas (1995-2001), outro peessedebista raiz.

Alckmin também foi adversário de Lula nas eleições presidenciais de 2006. O petista acab0u reeleito como presidente. A disputa entre os 2 tem sido usada por Lula para dirimir críticas e pontuar diferenças em relação ao presidente Jair Bolsonaro. Para Lula, Alckmin foi adversário, Bolsonaro é hoje inimigo.

“Feliz era este Brasil quando a polarização se dava entre o PSDB e o PT. […] Já fui adversário do Alckmin, do [José] Serra, do Fernando Henrique Cardoso, e nunca nos desrespeitamos, nunca nos deixamos de nos tratar de forma civilizada. Enquanto presidente, eu visitava São Paulo e o Alckmin, como governador, o tratamento sempre foi respeitoso, civilizado, dentro daquilo que a democracia e os bons modos do humanismo exigem que as pessoas façam”, disse Lula no evento.

Durante seu discurso, Lula afirmou que a aliança com Alckmin significa a construção de um caminho para reconstruir o país. “Se essa chapa for formalizada, não é só para disputar as eleições. Talvez ganhar as eleições seja mais fácil do que a tarefa que a gente terá pela frente para recuperar essa país”, disse.

O petista também afirmou que, após a oficialização da chapa, o PSB será chamado para participar da montagem do plano de governo e das estratégias eleitorais. Ele ressaltou ainda a aliança histórica entre os 2 partidos, tanto na composição de governos quanto no apoio eleitoral.

Lula lembrou a ligação de Alckmin com o ex-governador de São Paulo Mário Covas, um dos maiores representantes do PSDB, ao dizer que o ex-tucano tem experiência como vice. “Ninguém tem mais experiência como vice do que Alckmin. Ele foi vice do Mário Covas e o Covas era um companheiro turrão. […] E o Alckmin aprendeu a ser vice do Covas durante 6 anos”, disse.

Em diversos dos afagos que fez ao provável companheiro de chapa, Lula pediu que Alckmin não seja mais tratado como ex-governador e ele também não seja chamado de ex-presidente. “Você me chama de companheiro Lula e eu te chamo de companheiro Alckmin e fica acertado isso”, disse.

Ao ter seu nome anunciado, Alckmin afirmou que “quer somar esforços”. “É uma honra ter meu nome indicado. Não é hora de terrorismo, é hora de generosidade. É um momento de união. Vamos somar esforços para reconstrução do nosso país”, disse Alckmin.

HISTÓRICO

Mesmo com o empresário José Alencar (1931-2011), o cargo de vice sempre se encaixava no perfil do PT. Alencar, vice de Lula entre 2003 e 2010, era um empresário bem sucedido, mas não era alguém de expressão nacional. Alckmin é um cristão fervoroso, defensor de Estado reduzido e já foi candidato a presidente duas vezes, representante legítimo do eleitorado paulista mais de direita.

Na prática, a chapa Lula-Alckmin é, de maneira indireta, mais próximo da realização de um sonho dos intelectuais paulistas que criaram o PSDB em 1988, mas que no início dos anos 1980 tentaram uma aliança com os sindicalistas representados por Lula. Queriam construir um partido social-democrata nos moldes dos que governaram vários países europeus e criaram o estado de bem-estar social naquele continente.

Houve uma associação entre intelectuais e sindicatos, que serviu de base para mandatários como Felipe González, 1º ministro da Espanha de 1986 a 1992, e François Mitterrand, presidente francês de 1981 a 1995.

Houve uma grande reunião no colégio Sion, em São Paulo, em 10 de fevereiro de 1980, que marcou a fundação do PT. Os ex-presidentes Lula e Fernando Henrique Cardoso estavam lá. Apesar da boa vontade de ambos, não houve acordo. Os intelectuais paulistas ficaram no MDB até 1988, quando fundaram o PSDB. E os sindicalistas permaneceram no PT.

Houve nova tentativa de aproximação, dessa vez coordenada pelo ex-governador paulista Mario Covas, em 1994. A ideia era ter uma chapa PSDB-PT para as eleições daquele ano. Novamente, não houve acordo. Fernando Henrique, com a popularidade ampliada pelo sucesso do Plano Real (ele foi o ministro da Fazenda que implantou a nova moeda), ganhou no 1º turno.

Alckmin, nesse ano, foi candidato a vice de Mario Covas. Com perfil discreto e à direita da ala majoritária do partido, ele acalmou as elites conservadoras, sobretudo do interior paulista. É nessa região que ele ainda mantém a sua maior aderência.

Eleito vice em 94, foi reeleito em 98. Em 2001, assumiu o governo depois da morte de Covas em decorrência de um câncer.

Agora, em parceria com Lula, cumpre o papel de tirar a imagem de extremista que candidatos da 3ª via tentam colar em Lula e simboliza a maior virada à direita do partido em toda a sua história.

Há questionamentos internos no PT, mas Lula mantém o domínio da máquina petista e há poucas chances de o nome ser barrado na convenção do partido.

Há ainda nessa equação o fato de Alckmin, sozinho, ser maior do que o PSDB que deixou para trás. O candidato tucano a presidente, João Doria, marca de 1% a 2% nas pesquisas. O nome do partido para o governo de São Paulo, Rodrigo Garcia, também fica na rabeira de quase todos os levantamentos de intenção de voto. Em suma, Alckmin está no PSB, mas representa na prática a aliança petista-tucana que muitos sonharam há 42 anos.

 

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- Moro se coloca “à disposição” de Bivar, mas rejeita Câmara

O ex-ministro da Justiça Sergio Moro (União Brasil) disse nesta 6ª feira (8.abr.2022) que mantém seu “nome à disposição” para concorrer à Presidência da República. Deixou a decisão nas mãos do presidente do partido, Luciano Bivar. As declarações foram dadas em inglês durante debate com ao think tanknorte-americana Atlantic Council.

Moro declarou que pode concorrer a outro cargo sem ser à Presidência, mas descartou a Câmara dos Deputados. Uma possibilidade é a cadeira no Senado ofertada por São Paulo nas eleições de outubro. O ex-juiz alterou seu domicílio eleitoral para o Estado. “O que eu disse é que não serei candidato a deputado”, reforçou. Moro também não descartou ficar de fora do pleito.

Moro deixou o Podemos e filiou-se ao União Brasil no fim de março, abrindo mão provisoriamente de sua pré-candidatura à Presidência. Segundo ele, o objetivo com a troca foi aderir a um “partido mais forte contra a polarização” entre o ex-presidente Lula (PT) e o atual, Jair Bolsonaro (PL).

O ex-juiz da Lava Jato disse que o “passo atrás” na campanha visa criar uma aliança da 3ª via para furar a polarização. “Sem sacrifício para unir o centro, não iremos a lugar algum”, declarou. Moro disse que ainda há tempo e espaço para construir essa candidatura única e que ela tem potencial para prosperar. Na visão do ex-ministro, Lula e Bolsonaro não são 1ª opção dos brasileiros, eles apenas “alimentam um ao outro”.

“Todo mundo no Brasil –a imprensa, a sociedade civil– estava dizendo que deveria ter apenas 1 candidato da 3ª via concorrendo. Já é difícil enfrentar a polarização no Brasil entre Lula e Bolsonaro. De certa maneira, um alimenta o outro. Se o centro estiver fragmentado, como estava, acredito que seria muito difícil vencer esse desafio”, disse Moro.

Fonte: Poder360