Política

Putin: o que acontece na Ucrânia é 'uma tragédia, mas não havia escolha'





O presidente russo, Vladimir Putin, disse hoje que "o que está acontecendo na Ucrânia é uma tragédia", mas não havia alternativa. "Simplesmente não havia escolha, a única questão era quando começaria. Isso é tudo", declarou Putin, segundo relato da agência russa Tass. Mais cedo, ele já havia dito que o confronto com a Ucrânia era inevitável, uma questão de tempo. "O passo certo, não havia outra escolha."

A declaração foi feita após encontro com o presidente de Belarus, Alexander Lukashenko, seu aliado. Putin disse que considera Rússia, Ucrânia e Belarus um "povo trino". O russo disse que sempre tratou Belarus como um irmão. "E nada mudou aqui nos últimos meses. Não tínhamos dúvidas de que, se alguém nos apoiasse, seria Beralus", comentou. Os três países integravam a União Soviética, dissolvida na década de 1990.

Hoje, a guerra russa na Ucrânia chegou ao seu 48º dia com novos ataques no leste ucraniano, atual foco da Rússia, mas com a atenção da Ucrânia voltada mais para o sul, na cidade portuária de Mariupol. Nesta terça (12), o Ministério da Defesa da Rússia disse ''que ao menos 50 militares ucranianos foram mortos em "uma tentativa frustrada de escapar" de Mariupol.

Sitiada praticamente desde o início da invasão russa, a cidade portuária, no sul da Ucrânia, é um dos principais focos de preocupação do governo ucraniano no momento, que considera a possibilidade de um ataque químico na região. A possibilidade também é avaliada por aliados da Ucrânia, como o Reino Unido e os Estados Unidos.

De acordo com o ministério russo, ontem (11), "um grupo de militares ucranianos com até 100 pessoas em veículos blindados" tentou deixar a cidade em direção ao norte.

"Por ataques aéreos e de artilharia, essa tentativa de romper foi frustrada. Três tanques ucranianos, cinco veículos de combate de infantaria, sete veículos e até 50 pessoas foram destruídos", disse a Defesa russa, hoje, em comunicado. "Outros 42 militares ucranianos depuseram voluntariamente as armas e se renderam." A informação não pôde ser confirmada com fontes independentes.

Em seu relatório desta terça (12), o Ministério da Defesa da Ucrânia não confirmou as mortes dos militares. A menção à cidade portuária, considerada um ponto estratégico na guerra, foi sobre ser provável que, "no futuro, o inimigo tente tomar o controle da cidade de Mariupol". Ontem, militares ucranianos já indicavam temer a queda de Mariupol, reclamando de falta de "munição, sem comida, sem água, fazendo o possível e o impossível".

Os russos cercam Mariupol há semanas e a captura da cidade permitiria consolidar suas conquistas territoriais na faixa costeira ao longo do Mar de Azov, conectando assim as áreas do Donbass, separatistas, com a península da Crimeia, anexada por Moscou em 2014.

O presidente russo, Vladimir Putin, recebeu, nesta terça, Alexander Lukashenko, líder de Belarus, país aliado da Rússia, em uma agenda no leste russo em comemoração ao Dia da Cosmonáutica.

Putin comentou que a operação especial, como ele chama a guerra que promove em território ucraniano, tem como objetivo ajudar as pessoas das áreas separatistas da Ucrânia. O presidente russo alegou que o governo ucraniano se recusou "a cumprir os acordos de Minsk visando uma solução pacífica para os problemas do Donbass". Os acordos buscavam pacificar o leste ucraniano, nas áreas separatistas.

O presidente russo também disse que "as metas são absolutamente compreensíveis, são nobres", dizendo que o principal objetivo é "ajudar" as pessoas das áreas separatistas, segundo relato da agência russa Tass. Sobre as sanções das quais a Rússia é alvo, Putin disse que é impossível isolar "um país tão grande". Por isso, ele ressaltou a importância da cooperação de Belarus.

Lukashenko, por sua vez, afirmou que Putin poderia contar com Belarus "em qualquer situação, não importa o que aconteça". O encontro do belorusso com Putin durou cerca de três horas.

O presidente russo disse que a "operação especial" caminha conforme o planejado e continua "com calma".

Nossa tarefa é atingir os objetivos estabelecidos, minimizando as perdas. Vamos agir de maneira harmoniosa, calmamente, em conformidade com o plano proposto, desde o início, pelo Estado-Maior
Vladimir Putin, presidente da Rússia

Segundo a inteligência do Ministério da Defesa do Reino Unido, "as forças russas continuam a se retirar da Belarus para se redistribuírem em apoio às operações no leste da Ucrânia". Os britânicos avaliam que os combates no oriente ucraniano irão se intensificar nas próximas duas ou três semanas.

Armas químicas

O Reino Unido também está tentando verificar as informações de que a Rússia teria usado armamento químico na cidade portuária de Mariupol.

A deputada ucraniana Ivanna Klympush disse que a Rússia usou uma "substância desconhecida" em Mariupol e que a população apresentava problemas respiratórios. "O mais provável, armas químicas", tuitou. Em mensagem enviada pelo aplicativo Telegram, um assistente da prefeitura de Mariupol esclareceu que o ataque químico "não está confirmado no momento". "Estamos aguardando informações oficiais do exército", escreveu Petro Andryushchenko.

Vice-ministra da Defesa da Ucrânia, Hanna Malyar disse que "existe uma teoria de que poderiam ser munições de fósforo".

Mais cedo, o Batalhão Azov, uma força ucraniana, assinalou no Telegram que um drone russo havia despejado uma "substância venenosa" nas tropas e civis ucranianos em Mariupol. O grupo afirmou que as pessoas apresentavam problemas respiratórios e neurológicos.

O Pentágono, dos Estados Unidos, indicou que estava ciente dessas informações, mas não pôde confirmar este tipo de ataque na cidade assediada às margens do mar de Azov. Um alto responsável dos separatistas pró-Rússia da região de Donetsk, Eduard Basurin, falou que suas forças poderiam "empregar tropas químicas que encontrarão uma forma de fazer as toupeiras fugir de suas tocas", disse em declarações à agência russa RIA Novosti.

Por causa da declaração, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, disse que isso indica que as forças russas "estão preparando uma nova etapa de terror contra a Ucrânia e nossos defensores". "Estamos considerando isso o mais seriamente possível", disse Zelensky em uma mensagem de vídeo ontem.

Ataques no leste

O serviço de emergências da Ucrânia informou ataques nas regiões de Lugansk —nas cidades de Novodruzhesk e Rubizhne—, e Dnipropetrovsk —na cidade de Pavlograd.

Segundo o relatório, prédios residenciais foram atingidos nessas regiões do leste ucraniano. Até o momento, não há relato de feridos.

Em Lysychansk, na região de Lugansk, porém, uma pessoa foi morta e outras três ficaram feridas após um bombardeio em uma área residencial, segundo o governador da região, Serhii Gaidai.

O governo de Dnipropretovsk também apontou um bombardeio a um moinho na cidade de Synelnykove. Não houve feridos.

Na região de Kharkiv, segunda maior cidade da Ucrânia, o governador Oleg Sinegubov informou que um prédio de 16 andares foi atingido em um ataque. Segundo ele, houve oito mortes.

No oeste da Ucrânia, a cidade de Kmenytsky teve uma instalação de infraestrutura atacada por mísseis, segundo a administração militar da região. Não houve vítimas.

Corpos em Kiev

Os corpos de seis pessoas mortas a tiros foram encontrados em um porão no subúrbio leste de Kiev, anunciou nesta terça-feira a Procuradoria-Geral da Ucrânia. Uma investigação foi aberta sobre o caso.

 

 

- Putin alerta que Rússia não pode ser isolada

O presidente russo, Vladimir Putin, alertou o Ocidente, nesta terça-feira (12), de que as tentativas de isolar Moscou vão fracassar. Ele citou o sucesso do programa espacial soviético como prova de que a Rússia pode alcançar avanços espetaculares em condições difíceis.

A Rússia garante que nunca mais vai depender do Ocidente, depois que os Estados Unidos (EUA) e aliados impuseram sanções para punir Putin, por sua ordem de 24 de fevereiro para invadir a Ucrânia, o que chamou de "operação militar especial".

Sessenta e um anos depois que Yuri Gagarin, da União Soviética, entrou para os livros de história ao se tornar o primeiro homem no espaço, Putin viajou para o Cosmódromo Vostochny, no extremo oriente da Rússia, 5.550 quilômetros a leste de Moscou.

"As sanções foram totais, o isolamento foi completo, mas a União Soviética ainda foi a primeira no espaço", disse Putin, segundo a televisão estatal russa.

"Não pretendemos ficar isolados", afirmou o presidente. "É impossível isolar severamente qualquer um no mundo moderno - especialmente um país tão vasto como a Rússia."

Os sucessos espaciais russos da Guerra Fria, como o voo de Gagarin e o lançamento, em 1957, do Sputnik 1, primeiro satélite artificial da Terra, têm importância especial para a Rússia: ambos os eventos chocaram os Estados Unidos. O lançamento do Sputnik 1 levou o país a criar a Nasa, em tentativa de alcançar Moscou.

Putin diz que a "operação militar especial" na Ucrânia é necessária porque os EUA estavam usando o país para ameaçar a Rússia - inclusive por meio da aliança militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) - e que Moscou teve que defender o povo de língua russa da perseguição na Ucrânia.

Putin afirmou ainda que não tem dúvida de que a Rússia alcançará todos os seus objetivos na Ucrânia - um conflito que classificou como inevitável e essencial para defender seu país em longo prazo.

"Os objetivos são absolutamente claros e nobres", acrescentou. "Está claro que não tivemos escolha. Foi a decisão certa."

 

- Japão congela bens de 398 russos, incluindo filhas de Putin

País anunciou novas sanções à Rússia

O Japão anunciou hoje (12) a imposição de novas sanções à Rússia devido à invasão da Ucrânia, com o congelamento dos bens de 398 russos no país, incluindo as filhas do presidente Vladimir Putin.

"Para evitar que a situação se agrave ainda mais e se possa chegar a um cessar-fogo para pôr fim à invasão o mais rápidamente possível, é necessário adotar sanções severas", disse, em entrevista, o porta-voz do governo japonês, Hirokazu Matsuno.

"Atos hediondos e desumanos estão sendo revelados não apenas em Bucha, mas em muitos outros lugares. A morte de civis inocentes viola o direito internacional e é crime de guerra", afirmou Matsuno.

O Japão adicionou Ekaterina Tikhonova e Maria Vorontsova, filhas de Putin, e Maria Lavrova e Ekaterina Lavrova, mulher e filha, respetivamente, do ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, a uma lista que já conta com 499 pessoas.

A maioria dos indivíduos incluídos na lista está ligado à Duma, câmara baixa do Parlamento, e às forças militares da Federação Russa.

Tóquio decidiu também adotar sanções adicionais contra 28 empresas e organizações russas, incluindo os bancos Sberbank e Alfa Bank. As sanções nipônicas abrangem atualmente um total de 47 entidades.

Desde o início do conflito que o Japão tem imposto sanções a entidades e cidadãos russos e bielorrussos, incluindo o presidente da Bielorrússia, Alexandre Lukashenko.

As medidas punitivas também afetam as exportações de produtos japoneses, com potencial uso militar, ou de artigos de luxo para a Rússia, as importações russas de certos produtos e as transações com moedas virtuais.

Em 8 de abril, o primeiro-ministro nipônico, Fumio Kishida, anunciou que Japão iria renunciar à compra de carvão russo e expulsar oito diplomatas daquele país, após denúncias de massacres de civis por tropas russas, na região de Kiev.

Também os Estados Unidos, o Reino Unido e a União Europeia já tinham anunciado, na semana passada, sanções contra as duas filhas de Putin.

A Rússia lançou, em 24 de fevereiro, ofensiva militar na Ucrânia que matou pelo menos 1.842 civis, incluindo 148 crianças, e feriu 2.493, entre eles 233 menores, segundo  dados recentes da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real de vítimas civis ser muito maior.

A guerra já causou número indeterminado de baixas militares e a fuga de mais de 11 milhões de pessoas, das quais 4,5 milhões para países vizinhos.

Esta é a pior crise de refugiados na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). As Nações Unidas calculam que cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária.

A invasão russa foi condenada pela comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento à Ucrânia e o reforço de sanções econômicas e políticas a Moscou.

Fonte: UOL - Agência Brasil - Reuters, AFP, Ansa e DW