Economia

FMI: Brasil terá crescimento de 0,8% e inflação de 8,2% em 2022





Os danos causados pela guerra na Ucrânia e pelas sanções aplicadas contra a Rússia estão no centro da desaceleração da economia mundial e da escalada da inflação. O FMI (Fundo Monetário Internacional) divulgou nesta 3ª feira (19.abr. 2022) seu principal relatório do ano, o Panorama da Economia Mundial.

O documento traz a projeção de crescimento de 3,6% da atividade do planeta –0,8 ponto percentual abaixo do esperado em janeiro. A divulgação se dá durante a reunião de primavera do FMI e Banco Mundial, em Washington (Estados Unidos).

A redução é significativa, diz o FMI. O Brasil será uma das poucas economias a ter desempenho ligeiramente melhor do que o calculado pelo Fundo em janeiro. Era de 0,3%. Agora, é de 0,8% –abaixo dos 2% estimados pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. Para 2023, o crescimento será de 1,4% e, para 2027, de 2%.

O conjunto das economias dos países desenvolvidos, que geralmente pesam no desempenho de emergentes e pobres por meio do comércio, deve crescer 3,3% neste ano. Em janeiro, o Fundo projetava 4,4%. China, considerada emergente pelo Fundo, ficará 1,1 ponto percentual aquém de sua estimativa oficial –deverá crescer 4,4% neste ano.

“Espera-se que a atual guerra na Ucrânia e as sanções sobre a Rússia reduzam o crescimento global em 2022 por meio de diferentes impactos diretos”, informou o FMI. São 5 as forças citadas: a guerra, o aperto monetário e a volatilidade do mercado financeiro, o espaço fiscal reduzido pela economia, a desaceleração da China e a pandemia combinada com o acesso às vacinas.

“Esse choque se dá justamente quando a variante ômicron parecia estar desaparecendo, com muitas partes do mundo deixando para o passado a fase aguda da pandemia”, de acordo com o Fundo.

O Panorama da Economia Mundial traz a projeção de expansão de 3,7% na economia dos Estados Unidos neste ano –0,3 ponto percentual menos que o estimado em janeiro. A Alemanha terá aumento de 2,1% no seu PIB (Produto Interno Bruto). Antes, seria de 3,8%. O Reino Unido, 3,7%, ou seja, 1 ponto percentual menos que o estimado há 3 meses.

A Índia terá crescimento de 8,2% em 2022, e o México, de 2%.

Pior será para os 2 países diretamente em conflito. O FMI estima que o PIB da Rússia caia 8,5% neste ano e 2,3% em 2023. A economia da Ucrânia deve despencar 35%. Não há projeção para os próximos anos.

“A guerra na Ucrânia amplificará as forças econômicas que já estavam moldando a recuperação mundial da pandemia. A guerra aumentou ainda mais os preços das commodities e intensificou a interrupção de fornecimento [de insumos], elevando a inflação”, informa o FMI.

Inflação alta

O cenário anterior à guerra já não era tranquilo, principalmente pela pressão dos preços. Os bancos centrais já reviam desde o fim de 2021 suas políticas de expansão monetária. No início de 2022, diz o FMI, as taxas de juros e a volatilidade dos preços de ativos aumentaram acentuadamente.

Mesmo com a gradual melhoria nas cadeiras de suprimento e o aumento do emprego, a inflação pesará em 2022. O FMI avisa no relatório que “ficará alta por mais tempo que o previsto anteriormente” e que “as condições podem se deteriorar significativamente”.

Para o Brasil, a estimativa do FMI é de 8,2% neste ano. Em 2023, não há indicações de que chegará perto do centro da meta de inflação seguida pelo Banco Central, de 3,75%. O Fundo projeta 5,1%. Para 2027, a estimativa é de 3,0%.

As economias avançadas serão as mais expostas à alta dos preços ao consumidor. Nos EUA, chegará a 7,7% neste ano. No Reino Unido, a 7,4%, e na Alemanha, a 5,5%. Há situações menos favoráveis. O FMI não chega a estimar a taxa de inflação para a Ucrânia. Mas, para a China, prevê 21,3% neste ano.

A Argentina não chegará a cumprir a meta do acordo de renegociação de sua dívida com o FMI, de 38% a 48% em 2022. Ficará em 51,7%, conforme o Panorama da Economia Mundial. A Venezuela tem taxa de inflação prevista em 500%.

 

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- Brasil pede à OMC meio para manter comércio de fertilizantes

A OMC (Organização Mundial do Comércio) deve criar iniciativa para manter o fluxo de comércio de fertilizantes livre de sanções enquanto durar a guerra na Ucrânia. Tratou-se de pedido do presidente Jair Bolsonaro (PL) à diretora-geral da organização, Ngozi Okonjo-Iweala, que o visitou em Brasília na 2ª feira (18.abr.2022).

O esforço de Okonjo-Iweala deve anteceder a 12ª Conferência Ministerial da OMC, em junho em Genebra (Suíça), dada a urgência. Ela disse que o temor de falta de fertilizantes deve ser discutido com os Estados Unidos –país que impôs o maior número de sanções contra a Rússia por causa da invasão militar à Ucrânia. Mas também com os demais integrantes da organização.

“É preciso tratar do assunto como exceção e permitir o fluxo internacional de fertilizantes. Nada aconteceu ainda. Mas vamos ver como a iniciativa segue adiante”, afirmou Okonjo-Iweala.

Obstáculos a esse comércio são vistos pela diretora-geral da OMC como ameaças à segurança alimentar. “Se houver problemas com o fluxo, teremos mais problemas com os preços [dos alimentos], afirmou, em referência aos valores acentuados ainda mais nos últimos meses pela guerra na Ucrânia.

Rússia e Belarus são os principais fornecedores de fertilizantes ao Brasil, Índia e outros produtores agrícolas. Sanções comerciais aplicadas pelos EUA e seus aliados têm potencial para inibir o trânsito desses insumos e também dos de  sementes.

A França afirmou que, com as sanções e embargos comerciais adotados contra a Rússia, se faz necessário um esforço maior dos países produtores de alimentos para ampliar o acesso aos fertilizantes. O Itamaraty manteve contato com exportadores dos insumos: EUA, Nigéria, Marrocos e Irã. O Ministério da Agricultura liderou iniciativa com o Canadá.

Okonjo-Iweala também trouxe um apelo ao Brasil: a liberação de seus estoques reguladores para exportação como meio de evitar insegurança alimentar e aumento ainda maior de preços. O chanceler Carlos França, porém, não deu resposta positiva.

“Nós temos produção engajada aos contratos com os importadores”, disse o ministro, ao lembrar que, durante a pandemia de covid-19, o Brasil cumpriu seus contratos.

Órgão de apelação

Carlos França afirmou que a MP 1.098/2022 continuará a vigorar até que a OMC reative o Órgão de Apelação, que funciona como um tribunal de última instância do Mecanismo de Solução de Controvérsias da OMC. A MP permite ao Brasil retaliar e/ou suspender concessões a outros integrantes da organização em caso de decisão favorável de painel (comitê de arbitragem), uma espécie de tribunal de 1ª Instância.

O Órgão de Apelação tornou-se inativo desde dezembro de 2019, depois de os Estados Unidos impedirem a posse de 2 novos árbitros. O então governo de Donald Trump valeu-se da medida para impor sua agenda de reforma da OMC –principalmente de seu Mecanismo de Solução de Controvérsias.

“A MP é a reação brasileira aos países que costumam apelar no vazio”, afirmou França. Referiu-se aos que se aproveitam do “vácuo jurídico” para aplicar medidas punitivas sobre seu parceiro comercial. “O texto permite adotar compensações a essas iniciativas com base na decisão do painel. Queremos o órgão de Apelação funcionando em sua totalidade”, completou.

A diretora-geral da OMC afirmou que espera ver os EUA engajados nessas negociações para a retomada do Órgão de Apelação. Mas a decisão envolve todos os integrantes da organização. A reforma da OMC será um dos principais tópicos da conferência de junho.

Fonte: Poder360