Política

Bolsonaristas tentam eliminar chance de STF cassar deputados





Com anuência do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Centrão, deputados bolsonaristas querem aproveitar o caso da condenação do deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) para resolver um imbróglio antigo com o STF (Supremo Tribunal Federal). O deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) elabora um projeto de decreto legislativo para determinar que apenas a Câmara possa decidir sobre a perda de mandato de um deputado.

Ao condenar Silveira por declarações ameaçadoras contra ministros da Corte, o STF impôs além da pena de 8 anos e 9 meses de prisão, em regime inicial fechado, a perda do mandato e a suspensão dos seus direitos políticos enquanto durarem os efeitos da condenação criminal.

A decisão é vista como uma interferência do Judiciário em prerrogativas do Congresso. O projeto de Sóstenes deverá ser apresentado nesta 2ª feira (25.abr.2o22) e será discutido na reunião de líderes pela noite. O encontro normalmente é realizado às terças-feiras, mas foi antecipado devido à preocupação com o caso Silveira.

Apesar de ter como mote a condenação de Silveira, Sóstenes nega que o texto tenha como alvo o aliado. “Não é um projeto personalíssimo. É apenas para deixar óbvio ao STF que só quem pode tirar o poder do povo, que escolheu seu representante, é o próprio Legislativo. Tanto que o nome do Daniel Silveira nem estará no projeto”, disse.

Ainda que seja uma medida que vai de encontro à decisão do STF, ela é vista por líderes de partidos da base aliada como uma reação “meio-termo” à condenação de Silveira. A proposta cria uma “zona de conforto” ao poupar Lira, que não precisará liderar nenhuma reação, já que as iniciativas partem de lideranças políticas.

Poder360 apurou que se discute entre deputados do Centrão uma solução para abrandar a resposta ao STF. O receio é de que uma reação muito enfática à Corte faria o Supremo proibir de vez o pagamento das emendas de relator.

Antes mesmo do fim do julgamento contra Silveira, Lira recorreu ao STF na 4ª feira para pedir que o Legislativo tenha a palavra final nos casos de cassação de mandatos de congressistas. Mas um projeto aprovado pelo Congresso deixará explícita a competência sobre a cassação.

O agravo regimental apresentado se refere à ação em que, em 2017, a 1ª Turma do STF decidiu pela perda do mandato do então deputado Paulo Feijó (PP-RJ) ao condená-lo a 12 anos e 6 meses de prisão, em regime fechado, pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

“Se a Câmara tivesse tomado providências antes, não teríamos chegado a situação absurda que temos hoje. É um abuso do STF em tomar decisões em que a Constituição não lhe dá esse direito”, disse Sóstenes.

Apesar do apoio de Lira à questão, bolsonaristas falam em obstruir os trabalhos da Câmara caso a proposta não tenha andamento célere, ainda nesta semana.

Em outra frente, a deputada Carla Zambelli (PL-SP) pretende apresentar um projeto de lei que propõe conceder perdão a alvos de investigações sobre atos com pautas antidemocráticas.

Além de anular a pena de Silveira, o texto poderia beneficiar o ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB), o jornalista Oswaldo Eustáquio e o youtuber Allan dos Santos. Os três são investigados pelo STF por fake news e participação em atos antidemocráticos.

De acordo com líderes ouvidos pelo Poder360, no entanto, a proposta dificilmente será levada adiante por ser considerada uma reação mais radical à Suprema Corte. Deputados argumentam que Lira não se desgastaria pela proposta. Ainda assim, Zambelli apresentará o projeto como forma de marcar posição.

 

- Moraes deve determinar multa de R$ 15.000 a Daniel Silveira

O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes deve determinar multa diária de R$ 15.000 ao deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) por descumprir medidas cautelares estabelecidas pela Corte.

Poder360 apurou que a decisão deve ser publicada na 2ª feira (25.abr.2022) e vale para todas as medidas cautelares vigentes, como o uso de tornozeleira eletrônica e a proibição de dar entrevistas e usar as redes sociais.

No entendimento da Corte, as medidas continuam válidas mesmo depois da condenação de 8 anos e 9 meses de prisão e do decreto de graça constitucionalconcedido por Jair Bolsonaro (PL).

De acordo com fontes do STF, não houve revogação e nem pedido da defesa de Silveira para retirada das medidas cautelares e da multa estabelecida por Moraes, caso o congressista não aceitasse usar a tornozeleira eletrônica.

ENTENDA O CASO DANIEL SILVEIRA

A PGR (Procuradoria-Geral da República) apresentou denúncia contra o congressista por agredir verbalmente e proferir graves ameaças contra ministros do STF; incitar animosidade entre as Forças Armadas e a Corte; e estimular a tentativa de impedir, com uso de violência ou grave ameaça, o livre exercício do Poder Judiciário.

Eis a íntegra da denúncia (7 MB).

No dia 16 de fevereiro de 2021 Silveira foi preso, por determinação de Alexandre de Moraes, depois de ter publicado um vídeo com xingamentos, acusações e ameaças contra integrantes do STF. No conteúdo, o deputado também disse que os ministros recebiam dinheiro para tomar decisões.

Os magistrados citados no vídeo foram Edson Fachin, Roberto Barroso, Alexandre de Moraes, Dias Toffoli, Gilmar Mendes e Marco Aurélio. Da então composição da Corte, apenas Cármen Lúcia, Nunes Marques, Ricardo Lewandowski e Rosa Weber não foram mencionados.

O deputado ficou quase 8 meses em prisão domiciliar, com monitoramento de uma tornozeleira eletrônica.

Em novembro de 2021, o ministro Alexandre de Moraes revogou a prisão de Silveira e estabeleceu medidas cautelares ao congressista, que incluem a proibição do uso de redes sociais e o contato com demais investigados no inquérito que apura suposta milícia digital antidemocrática.

Em março de 2022, Moraes determinou que Silveira voltasse a usar a tornozeleira eletrônica. Também proibiu o congressista de participar de eventos públicos, e só permitiu o deslocamento de Petrópolis (RJ), onde mora, à Brasília por causa do mandato.

O congressista colocou a tornozeleira em 31 de março, mas no dia anterior havia recusado a instalação do aparelho. Silveira concordou em colocar o dispositivo depois de Moraes determinar multa de R$ 15.000 por dia caso o equipamento não fosse fixado. O deputado dormiu na Câmara para evitar o cumprimento da decisão.

Fonte: Poder360