Cultura

Papa: a família é antídoto para a pobreza material e espiritual





“Este vínculo de perfeição, consiste em uma ação amorosa motivada pelo dom”. “A família humaniza as pessoas através da relação do ‘nós’ e, ao mesmo tempo, promove as diferenças legítimas de cada um”. Palavras do Papa Francisco durante o encontro com os participantes na Plenária da Pontifícia Comissão das Ciências Sociais que teve como tema a família

Jane Nogara - Vatican News

Na manhã desta sexta-feira (29) o Papa Francisco recebeu no Vaticano os participantes da Sessão Plenária da Pontifícia Comissão das Ciências Sociais. O tema focalizado pelo Santo Padre foi sobre a realidade da família, tema da plenária da Comissão e que pode ser considerada como um “bem relacional”. Francisco iniciou comentando que o contexto mundial atual com crises múltiplas e prolongadas “coloca as famílias estáveis e felizes à dura prova”. “Podemos responder a esta situação – continuou - redescobrindo o valor da família como fonte e origem da ordem social, como célula vital de uma sociedade fraterna e capaz de cuidar da casa comum”.

No alto da escala de valores

O Papa recordou que “a família está quase sempre no alto da escala de valores de diferentes povos, porque está inscrita na natureza própria da mulher e do homem. Neste sentido, o matrimônio e a família não são instituições puramente humanas”. “Além de todas as diferenças – continuou - existem traços comuns e permanentes que revelam a grandeza e o valor do matrimônio e da família”. E em seguida adverte: “Porém, se este valor for vivido de forma individualista e privada, como é em parte o caso no Ocidente, a família pode ser isolada e fragmentada no contexto da sociedade. Assim perdem-se as funções sociais que a família desempenha entre os indivíduos e na comunidade, especialmente em relação aos mais fracos, tais como crianças, pessoas com deficiência e idosos dependentes”. Por isso, explicou o Papa, “trata-se de uma questão de compreender que a família é um bem para a sociedade, não como uma simples agregação de indivíduos, mas como uma relação fundada em um ‘vínculo de perfeição mútua’, para usar uma expressão de São Paulo”.

Vínculo relacional de perfeição

“O bem da família – disse - não é agregativo, ou seja, não consiste em agregar os recursos dos indivíduos para aumentar a utilidade de cada um, mas é um vínculo relacional de perfeição, que consiste em compartilhar relações de amor fiel, confiança, cooperação, reciprocidade, das quais derivam os bens de cada membro da família e, portanto, sua felicidade”

Aprofundando o tema o Francisco acrescentou: “Este vínculo de perfeição, que poderíamos chamar de seu específico ‘genoma social’, consiste em uma ação amorosa motivada pelo dom, vivendo de acordo com a regra da reciprocidade generosa e da generatividade. A família humaniza as pessoas através da relação do ‘nós’ e, ao mesmo tempo, promove as diferenças legítimas de cada um”.

“O pensamento social da Igreja ajuda a compreender este amor relacional próprio da família, como a Exortação Apostólica Amoris laetitia procurou fazer, seguindo os passos da grande tradição”

Antídoto para a pobreza material e espiritual

Em seguida o Papa sublinhou outro ponto importante da família: “lugar de acolhida. Suas qualidades são particularmente evidentes em famílias com membros frágeis ou deficientes. Estas famílias desenvolvem virtudes especiais, que aumentam a capacidade de amor e a resistência do paciente às dificuldades da vida” e confirma:

“A família - como sabemos - é o principal antídoto para a pobreza, tanto material quanto espiritual, como também para o problema do inverno demográfico ou da maternidade e paternidade irresponsáveis”

E para isso serve a ajuda de outras pessoas e das instituições mesmo governamentais para que a família se torne um vínculo de perfeição: “É necessário que em todos os países sejam promovidas políticas sociais, econômicas e culturais 'amigas da família'”. “É possível uma sociedade ‘amiga da família’, pondera Francisco continuando: “porque a sociedade nasce e evolui com a família. Nem tudo é feito por contrato, nem tudo pode ser imposto por comando. Na verdade, quando uma civilização desarraiga a árvore do dom como gratuidade de seu solo, seu declínio se torna incontrolável. Pis bem, a família é o principal plantador da árvore da gratuidade”.

Três condições da beleza da família

Por fim o Papa destacou três condições para redescobrir a beleza da família: “A primeira é tirar dos olhos da mente a ‘catarata’ das ideologias que nos impedem de ver a realidade”. A segunda condição, “é a redescoberta da correspondência entre matrimônio natural e sacramental. A separação entre os dois, de fato, termina por um lado fazendo as pessoas pensarem na sacramentalidade como algo acrescentado, algo extrínseco e, por outro lado, arriscando-se a abandonar a instituição da família à tirania do artificial. A terceira condição é, como recorda a Amoris laetitia, a consciência de que a graça do sacramento do Matrimônio - que é o sacramento ‘social’ por excelência - cura e eleva toda a sociedade humana e é um fermento de fraternidade”.

 

- O Papa: o abuso sexual de crianças ofende a vida em seu florescimento, é inaceitável

O Pontífice sublinhou que o serviço confiado à Comissão para a Tutela dos Menores deve "ser realizado com cuidado" e requer "a atenção contínua da Comissão, para que a Igreja não seja apenas um lugar seguro para os menores e um lugar de cura, mas seja totalmente confiável na promoção de seus direitos no mundo inteiro. Infelizmente, não faltam situações em que a dignidade das crianças é ameaçada, e isso deveria ser uma preocupação de todos os fiéis e de todas as pessoas de boa vontade".

Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Francisco recebeu em audiência, no Vaticano, nesta sexta-feira (29/04), os membros da Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores, que se reuniram em assembleia plenária esta semana.

O Pontífice sublinhou que o serviço confiado à Comissão para a Tutela dos Menores deve "ser realizado com cuidado" e requer "a atenção contínua da Comissão, para que a Igreja não seja apenas um lugar seguro para os menores e um lugar de cura, mas seja totalmente confiável na promoção de seus direitos no mundo inteiro. Infelizmente, não faltam situações em que a dignidade das crianças é ameaçada, e isso deveria ser uma preocupação de todos os fiéis e de todas as pessoas de boa vontade".

Assumir a responsabilidade de prevenir os abusos 

“O abuso, em todas as suas formas, é inaceitável. O abuso sexual de crianças é particularmente grave porque ofende a vida em seu florescimento. Em vez de florescer, a pessoa abusada é ferida, às vezes de forma indelével.”

Recentemente recebi uma carta de um pai, cujo filho foi abusado e, por causa disso, não saiu de seu quarto por muitos anos, marcando cotidianamente a família com as consequências do abuso. As pessoas abusadas às vezes se sentem presas entre a vida e a morte. Estas são realidades que não podemos remover, por mais dolorosas que sejam.

"O testemunho dos sobreviventes é uma ferida aberta no corpo de Cristo que é a Igreja", frisou o Papa, exortando os membros da Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores "a trabalharem diligente e corajosamente para tornar conhecidas estas feridas, buscar aqueles que sofrem por causa delas e reconhecer nestas pessoas o testemunho de nosso Salvador sofredor. Cada membro da Igreja, de acordo com seu status, é chamado a assumir a responsabilidade de prevenir os abusos e trabalhar pela justiça e cura".

Métodos a fim de que a Igreja proteja os menores

A seguir, o Papa disse que com a Constituição Apostólica Praedicate Evangelium, estabeleceu formalmente a Comissão como parte da Cúria Romana, dentro do Dicastério para a Doutrina da Fé. Isso não deve colocar em risco a liberdade de pensamento e ação da Comissão ou diminuir a importância das questões por ela tratadas. "Convido-os a estarem vigilantes para que isso não aconteça", ressaltou Francisco.

O Papa pediu aos membros da Comissão para que proponham "os melhores métodos a fim de que a Igreja proteja os menores e as pessoas vulneráveis ​​e ajude os sobreviventes a se curarem, levando em conta que a justiça e a prevenção são complementares". Um serviço que fornece "melhores práticas e procedimentos que podem ser implementados em toda a Igreja".

As sementes lançadas começam a dar bons frutos

Francisco pediu também para que "a tutela e o cuidado das pessoas abusadas se tornem norma em todas as áreas da vida da Igreja. "Sua estreita colaboração com o Dicastério para a Doutrina da Fé e outros Dicastérios deve enriquecer seu trabalho e ele, por sua vez, enriquecer o da Cúria e das Igrejas locais. Como isso possa ser feito da maneira mais eficaz, deixo para a Comissão e o Dicastério. Trabalhando juntos, eles implementam concretamente o dever da Igreja de proteger aqueles que estão sob sua responsabilidade. Este dever se baseia na concepção da pessoa humana em sua dignidade intrínseca, com atenção especial aos mais vulneráveis. O compromisso no âmbito da Igreja universal e das Igrejas particulares concretiza o plano de proteção, cura e justiça, segundo as respectivas competências", sublinhou Francisco.

“As sementes lançadas começam a dar bons frutos. A incidência de abuso de menores por parte do clero tem mostrado um declínio por vários anos nas partes do mundo onde dados e recursos confiáveis ​​estão disponíveis.”

Anualmente, gostaria que vocês me preparassem um relatório sobre as iniciativas da Igreja para a proteção de menores e adultos vulneráveis. Isso pode ser difícil no início, mas peço-lhes que comecem por onde for necessário a fim de fornecer um relatório confiável sobre o que está acontecendo e o que precisa mudar, para que as autoridades competentes possam agir. Este relatório será um fator de transparência e responsabilidade e - espero - dará uma indicação clara de nosso progresso neste compromisso. Se não houver progresso, os fiéis continuarão perdendo a confiança em seus pastores, tornando cada vez mais difícil o anúncio e o testemunho do Evangelho.

Fonte: Vatican News