Cultura

Trabalho infantil, o Papa: muitas mãos pequenas privadas de dignidade





Francisco enviou uma mensagem para a 5ª Conferência Global que se realiza em Durban, na África do Sul, que trata da eliminação da exploração do trabalho crianças e adolescentes: lutamos contra o fenômeno "de forma resoluta, conjunta e decisiva" para devolver aos pequenos a vida a que eles têm direito.

"A pobreza é a mãe de toda a exploração. A miséria que acompanha a ausência de proteção dos direitos elementares é o abismo em que caem milhões de pessoas todos os anos, começando por aqueles que não sabem se defender, meninas e meninos, e se encontram "arando os campos, trabalhando nas minas, percorrendo grandes distâncias para tirar água e realizando trabalhos que os impedem de frequentar a escola, sem falar do crime da prostituição infantil." É que escreve o Papa na mensagem enviada à Organização Mundial do Trabalho (OIT), citando as situações dramáticas vividas por "milhões de meninas e meninos" condenados "a uma vida de empobrecimento econômico e cultural".

Desarraigar as causas

A mensagem do Papa foi enviada aos participantes da 5ª Conferência Global sobre a Eliminação do Trabalho Infantil, que começou no último domingo em Durban, na África do Sul, e está programada até a próxima sexta-feira. A mensagem aos participantes da conferência foi lida nesta terça-feira (16/05), pelo núncio apostólico no país, dom Peter Bryan Wells, que deu voz à preocupação de Francisco com uma "tragédia" agravada nos últimos anos, "pelo impacto da crise global da saúde e pela difusão da pobreza extrema em muitas partes do nosso mundo". Para aquelas "mãos muito pequenas" obrigada a fazer o que nenhuma criança deveria, o Papa pede aos "organismos internacionais e nacionais competentes" um "compromisso maior" para desarraigar "as causas estruturais da pobreza global e a desigualdade escandalosa que continua existindo entre os membros da família humana".

"De maneira resoluta"

"Da exploração do trabalho que muitas vezes resulta nas piores formas de abuso de outro tipo, são milhões as crianças privadas "da alegria de sua juventude e de sua dignidade dada por Deus". Por isso, a Conferência da OIT insiste fortemente na tarefa de realizar um trabalho "maior de conscientização" sobre o tema para "encontrar formas adequadas e eficazes de proteger a dignidade e os direitos das crianças, especialmente através da promoção de sistemas de proteção social e do acesso à educação para todos". A Santa Sé e toda a Igreja, lembra Francisco, também estão trabalhando para que o fenômeno seja combatido "de forma resoluta, conjunta e decisiva" já que a "medida" com a qual se respeita a "dignidade humana inata" e os direitos fundamentais dos pequenos "expressa que tipo de adultos somos e queremos ser, e que tipo de sociedade queremos construir".

Alessandro De Carolis – Vatican News

 

O Papa: missão, ardor de uma fé que não se contenta

O Papa escreve às Pontifícias Obras Missionárias reunidas em Assembleia Geral em Lyon, onde no próximo domingo o Cardeal Tagle beatificará Pauline Jaricot, fundadora da Obra para a Propagação da Fé: a conversão missionária da Igreja não é proselitismo, mas testemunho.

O Papa Francisco enviou uma mensagem às Pontifícias Obras Missionárias (POM) reunidas em Lyon, a partir desta segunda-feira (16/05), até o próximo dia 23, no Centro Valpré, para sua Assembleia Geral. Os 120 diretores nacionais das POM e o seu presidente, dom Giampietro Dal Toso, escolheram se encontrar nesta cidade francesa em concomitância com a beatificação de Pauline Jaricot, no próximo domingo, que 200 anos atrás fundou uma das quatro obras missionárias, a Obra de Propagação da Fé. O rito de beatificação será presidido pelo prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, cardeal Luis Antonio Tagle. Pauline tinha 23 anos quando fundou o organismo para apoiar a atividade missionária da Igreja.

"Alguns anos depois, ela começou o 'Rosário Vivo', um organismo dedicado à oração e à partilha de ofertas. De família rica, Pauline morreu na pobreza: com sua beatificação", afirma o Pontífice em sua mensagem, "a Igreja atesta que ela soube acumular tesouros no Céu".

Este ano, celebra-se também o centenário de elevação da Obra da Santa Infância e da Obra de São Pedro apóstolo, ao título de "Pontifícia". Mais tarde, acrescentou a essas obras, a Pontifícia União Missionária, que celebra 150 anos do nascimento de seu fundador, o Beato Paolo Manna.

Não proselitismo, mas testemunho

O Papa ressalta na mensagem que "esses aniversários se inserem na celebração dos 400 anos da Congregação De Propaganda Fide, à qual as Pontifícias Obras Missionárias estão intimamente ligadas e com as quais colaboram no apoio às Igrejas nos territórios confiados ao Dicastério, para a difusão do Evangelho em terras até então desconhecidas". "O impulso evangelizador nunca falhou na Igreja e seu dinamismo fundamental sempre permanece. É por isso que eu quis que o Dicastério para a Evangelização assumisse um papel especial na renovada Cúria Romana para promover a conversão missionária da Igreja (Praedicate Evangelium, 2-3), que não é proselitismo, mas testemunho: sair de si para anunciar com a vida o amor gratuito e salvífico de Deus por nós, chamados a ser irmãos e irmãs", frisa o Pontífice no texto.

"Pauline Jaricot gostava de dizer que a Igreja é de sua natureza missionária e que, portanto, cada pessoa batizada tem uma missão; aliás, é uma missão.  Ajudar a viver essa consciência é o primeiro serviço das Pontifícias Obras Missionárias, um serviço que realizam com o Papa e em nome do Papa.  Este elo das POM com o ministério petrino, estabelecido cem anos atrás, traduz-se em serviço concreto aos Bispos, às Igrejas particulares, a todo o Povo de Deus.  Ao mesmo tempo, é sua tarefa, de acordo com o Concílio, ajudar os Bispos a abrir cada Igreja particular aos horizontes da Igreja universal", ressalta ainda Francisco.

Os jubileus celebrados e a beatificação de Pauline Jaricot ofereceram ao Papa a ocasião para propor três aspectos que, graças à ação do Espírito Santo, contribuíram muito para o anúncio do Evangelho na história das POM.

Conversão missionária

Em primeiro lugar, a conversão missionária. Segundo o Papa, "a bondade da missão depende do caminho de saída de si mesmo, do desejo de não centralizar a vida em si, mas em Jesus que veio para servir e não para ser servido. Nesse sentido, Pauline Jaricot viu sua existência como uma resposta à misericórdia compassiva e terna de Deus: desde sua juventude ela procurou a identificação com seu Senhor, também através dos sofrimentos que passou, a fim de acender a chama de seu amor em cada pessoa.  Aqui se encontra a fonte da missão, no ardor de uma fé que não se contenta e que, através da conversão, se torna a cada dia imitação, para canalizar a misericórdia de Deus nas estradas do mundo".

Oração

Isso é possível, em segundo lugar, "apenas através da oração, que é a primeira forma de missão. Não foi por acaso que Pauline uniu a Obra de Propagação da Fé ao Rosário Vivo, como se reiterasse que a missão começa com oração e não pode ser cumprida sem ela. Sim, porque é o Espírito do Senhor que precede e permite todas as nossas boas obras: a primazia é sempre da sua graça. Caso contrário, a missão se tornaria uma corrida em vão".

Concretude da caridade

Por fim, a concretude da caridade: "Junto com a rede de oração Pauline deu vida a uma coleta de ofertas em grande escala e de forma criativa, acompanhando-a com informações sobre a vida e as atividades dos missionários. As doações de muitas pessoas simples foram providenciais para a história das missões", ressalta ainda Francisco.

"Queridos irmãos e irmãs que participam da Assembleia Geral das Pontifícias Obras Missionárias, espero que vocês sigam as pegadas deixadas por esta grande missionária, e que se deixem inspirar por sua fé concreta, por sua coragem audaz e sua criatividade generosa", conclui o Papa em sua mensagem.

Mariangela Jaguraba - Vatican News

Fonte: Vatican News