O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes afirmou que o atentado ocorrido na noite dessa quarta-feira (13) na Praça dos Três Poderes não é um “fato isolado”, mas que é uma ação que se iniciou no “gabinete do ódio”, que tinha por premissa difamar e divulgar notícias falsas sobre as autoridades democráticas do país.
“Não podemos ignorar o que ocorreu ontem. E o Ministério Público é uma instituição muito importante e vem fazendo esse trabalho importante na manutenção da democracia e no combate a esse extremismo que, lamentavelmente, nasceu e cresceu no Brasil em tempos atuais”, disse.
Segundo Moraes, “o que ocorreu ontem não é um fato isolado do contexto”.
Apesar de destacar que a investigação será conduzida pela Polícia Federal, e que os autos já se encontram com o presidente do STF, ministro Luís Roberto Barroso, para atestar se o episódio em si foi um “ato isolado”, o magistrado afirmou que os fatos fazem parte de um contexto.
“É um contexto que se iniciou lá atrás, quando o gabinete do ódio, o famoso gabinete do ódio, começou a destilar discurso de ódio contra as instituições, contra o Supremo Tribunal Federal, principalmente, contra a autonomia do Judiciário, contra o STF, não só como instituição, mas contra as pessoas, os ministros e os familiares de cada um dos ministros”, afirmou.
As declarações foram dadas no início de uma conferência que o magistrado participava durante o VII Encontro Nacional do Ministério Público do Tribunal do Júri.
Na noite de quarta-feira (13), duas fortes explosões foram registradas nas proximidades do Supremo Tribunal Federal (STF). No local, foi encontrado o corpo de um homem — que mais tarde foi identificado como Francisco Wanderley Luiz, conhecido como “Tiu França”.
A Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) também confirmou a explosão de um carro, pertencente a Francisco, no Anexo 4 da Câmara dos Deputados.
As autoridades permaneceram durante toda a noite realizando uma operação de varredura antibombas no local. A polícia também atuou para desativar artefatos plugados no corpo do indivíduo, que permaneceu no local do suposto atentadoaté a manhã de quinta.
Após as explosões, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) ativou o Plano Escudo — que permite a atuação do Exército nos palácios do Planalto, da Alvorada e do Jaburu e da Granja do Torto sem uma operação formal de Garantia da Lei e da Ordem.
A Polícia Federal (PF) abriu um inquérito policial para investigar o caso.
-'Ele queria matar Alexandre de Moraes', diz ex-mulher de autor do atentado à PF
Encontrada pela Polícia Federal no interior de Santa Catarina, a ex-mulher de Francisco Wanderley Luiz, autor do ataque à bomba na Praça dos Três Poderes, disse a agentes da Polícia Federal que ele “queria matar o ministro Alexandre de Moraes e quem mais estivesse junto na hora do atentado”.
As informações foram registradas informalmente pela PF e ela está sendo conduzida à delegacia para formalizar todas as declarações em depoimento formal.
Daiane, a ex-companheira do autor do atentado, disse ainda aos agentes da PF em Santa Catarina que o Francisco Wanderley chegou a fazer e compartilhar pesquisas no Google para planejar o atentado que executou ontem.
Segundo o relato, assim que recebeu os registros das pesquisas feitas pelo ex-marido, Daiane perguntou: "Você vai mesmo fazer essa loucura?".
Francisco Wanderlei Luiz, ex-candidato a vereador em 2020 pelo PL de Santa Catarina, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, era conhecido por publicar ameaças contra ministros do STF, políticos e outras figuras públicas nas redes sociais. Segundo um informe da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), obtido com exclusividade pelo blog.
Ainda segundo apuração do blog, a PF encontrou, no Distrito Federal, inscrições no espelho da casa ocupada por Francisco relacionadas aos eventos de 8 de janeiro.
No espelho casa que alugou em Brasília, Francisco escreveu:
"DEBORA RODRIGUES, Por favor não desperdice batom. Isso é para deixar as mulheres bonitas. Estátua de merda se usa TNT."
Para a PF, a mensagem deixada no espelho era uma referência à Debora Rodrigues, presa em 2023 após ser identificada pela PF por ter vandalizado a Estátua da Justiça com a inscrição "Perdeu, Mané".
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O inquérito da Polícia Federal (PF) sobre o homem-bomba que se explodiu em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF) será encaminhado ao ministro Alexandre de Moraes.
A avaliação é de que o episódio se insere no contexto dos atos antidemocráticos e, por isso, tem conexão com outras investigações sobre o tema que têm sido tocadas pelo ministro.
Isso porque, antes de cometer o atentado contra si próprio, na noite dessa quarta-feira (13), o homem chegou a atirar um explosivo em direção ao prédio do Supremo.
Nos bastidores, há ainda uma leitura de que o ataque deve adiar a conclusão dos inquéritos que já tramitam no STF sob a relatoria de Moraes, como o das “fake news” e o das milícias digitais.
Fontes da Corte dizem que, apesar das críticas pela demora a encerrar essas apurações, o incidente do homem-bomba ilustra a necessidade de mantê-las em aberto.
A PF deve apurar os “antecedentes golpistas” do homem, identificado como Francisco Wanderley Luiz (ou Tiü França). A ideia é cruzar dados para verificar o seu envolvimento em outros episódios contra a democracia.
- Explosões em Brasília não vão afetar trabalho do Judiciário
Ao abrir a sessão desta quinta-feira (14), a presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministra Cármen Lúcia, disse que as explosões registradas na noite de quarta-feira (13) não vão afetar o trabalho do Judiciário. “Às vésperas da data de comemoração da proclamação da República, o Brasil foi dormir preocupado com os acontecimentos que tiveram lugar, especialmente na Praça dos Três Poderes e nas imediações do Supremo Tribunal Federal (STF)”.
“O Brasil foi dormir preocupado. Nós, cidadãs e cidadãos brasileiros, acordamos ocupados em manter as nossas funções para a garantia de continuidade estável, segura e contínua das instituições democráticas. A nós, servidoras e servidores, especialmente da Justiça constitucional e eleitoral, compete dar continuidade às nossas funções para a preservação da necessária democracia brasileira, que não se abala diante de qualquer ato que possa, eventualmente, atentar ou buscar atentar contra pessoas, instituições ou funções democráticas.”
Durante a abertura da sessão, Cármen Lúcia insistiu que cabe aos servidores do Judiciário seguir no exercício de suas funções “para que brasileiras e brasileiros continuem a dormir sem preocupações, no sentido de que algum vírus que adoeça pessoas, instituições ou qualquer forma de atuação não comprometa, não contamine a saúde democrática das instituições no Brasil e da sociedade brasileira.”
“Neste sentido, damos continuidade aos nossos trabalhos, com a mesma tranquilidade, destemor e, principalmente, comprometimento com a democracia brasileira. Graves acontecimentos não comprometem o que é muito mais sério e de nossa responsabilidade que é trabalhar para que a democracia brasileira se sustente como vem se sustentando, sem qualquer tipo de adversação que possa, de alguma forma, abalar a sua estrutura e dinâmica,” explicou.
“Brasileiras e brasileiros sabem que eventos como os que aconteceram ontem terão a necessária investigação, os procedimentos necessários, os aperfeiçoamentos necessários, mas em nada alteram o nosso dia a dia, que é de prestar a jurisdição na forma em que a Constituição e as leis estabelecem. Assim será feito”, concluiu.
- PF fará reconstituição de cenário como na investigação do 8 de janeiro
Peritos criminais da Polícia Federal (PF) vão investigar as explosões ocorridas na noite desta quarta-feira (13) com estratégia semelhante à reconstrução de cenário na identificação dos crimes de 8 de janeiro do ano passado, quando os prédios do Três Poderes sofreram ataques golpistas.
Entre os primeiros procedimentos que os peritos da PF devem fazer no local estão a identificação de todos os vestígios, além de uma identificação das imagens da área com ferramentas tecnológicas 3D a fim de compreender, em detalhes, a dinâmica do ataque.
Os peritos criminais da Polícia Federal atuarão nas investigações das explosões na Praça dos Três Poderes e no Anexo 4 da Câmara dos Deputados. Profissionais do Instituto Nacional de Criminalística (INC), que são especialistas em perícias de locais de crime e bombas e explosivos, foram acionados logo depois da ocorrência. A PF abriu inquérito para investigar o caso.
Os vestígios coletados serão posteriormente analisados para identificar e confirmar o tipo de explosivo utilizado, a possível origem e outras evidências que possam indicar se a ação foi planejada e se teve participação individual ou em grupo.
Em uma postagem nas redes sociais, o ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Paulo Pimenta, disse ter certeza que a Polícia Federal irá esclarecer o caso.
"Já sabemos que foi muito grave o que aconteceu. Já sabemos que o carro com os explosivos pertence a um candidato a vereador do PL de SC. Provavelmente a perícia vai confirmar que se trata da mesma pessoa que tentou entrar no STF depois morreu detonando explosivos na área externa no tribunal", avalia Pimenta.
"Sabemos que ele esteve na Câmara, ainda não sabemos (amanhã com certeza) que gabinetes visitou. Quando e como veio de SC? Sozinho? Acompanhado? Alguém pagou? Onde estava hospedado? Os explosivos foram adquiridos onde? Com quem falou no telefone hoje? Essas e outras respostas a PF vai com certeza rapidinho nos responder. Golpistas não passarão."
As explosões ocorreram por volta das 19h30. Primeiro, foram detonados explosivos em um carro estacionado no anexo 4 da Câmara dos Deputados, próximo ao STF. Em seguida, houve e explosão de artefatos no corpo do autor do ataque, em frente à sede do Supremo.
A suspeita é de que o autor e o dono do carro ligado à explosão seja o chaveiro Francisco Wanderley Luiz, conhecido como Tiu França, ex-candidato a vereador pelo PL em Rio do Sul, Santa Catarina.
Fonte: CNN - g1 - Agência Brasil