O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, abriu a sessão desta quinta-feira (14/11) com uma fala sobre as explosões em frente à Corte na quarta-feira (13/11), quando um homem deitou sobre um explosivo e se matou. O discurso institucional de Barroso envolveu tom de pesar, lamento e reflexão. O ministro ressaltou que o ato de Francisco Wanderley Luiz é gravíssimo e se soma a uma série de fatos que ocorreram no país nos últimos anos.
Barroso questionou onde foi que o brasileiro se perdeu nesse “mundo de ódio, intolerância e golpismo”. “Onde foi que nós perdemos a luz da nossa alma afetuosa, alegre e fraterna para a escuridão do ódio, da agressividade e da violência? Estamos importando mercadorias espiritualmente defeituosas de outros países que se desencontraram na história.” Em seguida, o magistrado elencou, cronologicamente, incidentes que atentaram contra a democracia e desrespeitaram as instituições que compõem a República. “Esse episódio de ontem se soma ao que já vinha ocorrendo no país nos últimos anos”, disse na Corte.
Veja a linha do tempo da fala de Barroso:
Barroso ressaltou que “a gravidade do atentado desta quarta alerta para a preocupante realidade de que persiste no Brasil a ideia de aplacar e deslegitimar a democracia e suas instituições, numa perspectiva autoritária e não pluralista de exercício do poder, inspirada pela intolerância, pela violência e pela desinformação. Reforça também, e sobretudo, a necessidade de responsabilização de todos que atentem contra a democracia”.
“Onde foi que nós perdemos a luz da nossa alma afetuosa, alegre e fraterna para a escuridão do ódio, da agressividade e da violência? Estamos importando mercadorias espiritualmente defeituosas de outros países que se desencontraram na história.”
Assim, o presidente do STF cumprimentou os agentes de segurança e da polícia judicial do Supremo Tribunal Federal pela atuação no caso, bem como a Polícia Federal e a Polícia do Distrito Federal, “pela presteza e pelo empenho com que trataram do assunto”.
Durante coletiva de imprensa, nesta quinta-feira (14/11), o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, afirmou que Francisco Wanderley Luiz, de 59 anos, responsável pelas explosões, tinha intenção de “matar ministros da Suprema Corte”, e que seu alvo principal era Alexandre de Moraes.
Segundo o diretor-geral da corporação, esse não foi um fato isolado e se conecta com outras investigações da PF, como o inquérito sobre os atos golpistas do 8 de Janeiro.
“[O caso] Mostra a vinculação desses grupos radicais que culminam nessa barbaridade que acontece ontem, na tentativa de matar ministros da Suprema Corte, e também que culminou nesse lamentável episódio do suicídio dessa pessoa”, disse Andrei Rodrigues, ao citar uma mensagem deixada para uma bolsonarista presa pelos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023, no espelho da casa que o homem-bomba alugava em Brasília.
Andrei Rodrigues confirmou que o alvo principal do atentado era o ministro da Suprema Corte Alexandre de Moraes. “Parece que essa pessoa queria entrar no prédio do Supremo, não conseguiu e, por isso, resolveu fazer o que fez”, afirmou.
O diretor-geral citou um áudio, atribuído à ex-esposa de Francisco Wanderley, que corroboraria a hipótese de Moraes ser, de fato, o alvo do homem-bomba. “O próprio áudio [da esposa] e outras mensagens enviadas nas redes sociais ameaçando a Corte, especificamente nesse caso da senhora, diziam que o alvo dessa pessoa era, sim, o ministro Alexandre de Moraes”, destacou o chefe da Polícia Federal.
Na coletiva, o diretor-geral da PF ressaltou que grupos extremistas estão ativos no país. “Esse episódio de ontem não é um fato isolado. A PF tem investigado num período recente”, declarou Andrei Rodrigues, no início da coletiva. “Houve tentativa de matar ministros da Suprema Corte”, disse.
De acordo com o diretor-geral da PF, os “explosivos eram artesanais, mas com grau grande de danos, parecido com granada,” e os atos teriam sido planejados com antecedência. “Há indícios de planejamento em longo prazo. Esteve em Brasília no início de 2023. Uma investigação apura se ele estava no 8/1.”
Não foi possível confirmar se o homem participou dos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023. “Ainda é cedo para dizer se houve participação nos atos de 8 de janeiro.”
- PF apura se homem teve apoio para cometer ato terrorista em Brasília
As autoridades policiais vão investigar como o homem que morreu ao detonar uma carga explosiva em frente ao prédio do Supremo Tribunal Federal (STF), na noite desta quarta-feira (13), obtinha o dinheiro necessário para se manter na capital federal. Saber essa informação pode ajudar a Polícia Federal (PF) e a Polícia Civil do Distrito Federal a esclarecer se o chaveiro Francisco Wanderley Luiz, 59 anos, agiu sozinho ou recebeu algum tipo de apoio para cometer um ato terrorista com o propósito de abolir o Estado de Direito por meio da ação violenta.
O chaveiro passou os últimos quatro meses vivendo em uma casa alugada em Ceilândia, região administrativa do Distrito Federal, a cerca de 30 quilômetros da Praça dos Três Poderes, na área central de Brasília.
Além da casa, onde preparou ao menos parte dos artefatos explosivos, Luiz, também conhecido como Tiü França, alugou um trailer que estava estacionado próximo à Praça dos Três Poderes, junto a outros veículos adaptados para permitir a venda de alimentos.
“Este trailer alugado há alguns meses estava em um ponto estratégico, nas proximidades do STF, o que nos aponta para um planejamento de longo ou médio prazo e que sinaliza para a gravidade de tudo isso”, disse o diretor-geral da Polícia Federal PF, Andrei Rodrigues, durante entrevista coletiva, nesta quinta-feira (14).
De acordo com o diretor-geral, parentes de Luiz já comentaram que ele é dono de alguns imóveis alugados em Rio do Sul, cidade catarinense do Alto Vale do Itajaí onde ele morava e onde chegou a disputar as eleições municipais de 2020, concorrendo ao cargo de vereador pelo PL.
Ao realizar buscas na casa e no trailer que o chaveiro alugou no Distrito Federal, os policiais encontraram material explosivo. No imóvel, houve ao menos uma explosão quando um robô do esquadrão antibombas abriu uma gaveta.
“Houve uma explosão gravíssima. Ou seja, o uso do robô antibombas salvou a vida de alguns policiais que, certamente, não sobreviveriam caso tivessem ingressado na residência”, contou Rodrigues, revelando que os agentes apreenderam, na casa e no trailer, objetos e documentos que contribuirão para as investigações, inclusive um telefone celular.
“Também já conversamos com a proprietária do imóvel alugado [em Ceilândia], mas ela estava ainda muito impactada pelo episódio e vamos ter que ter uma segunda oportunidade para conversarmos com ela”, acrescentou Rodrigues.
Segundo ele, há indícios de um planejamento a longo prazo. “Esse homem já esteve em Brasília em outras ocasiões. Inclusive no começo de 2023, conforme relatos de familiares. Embora ainda seja cedo para dizermos se ele participou diretamente dos atos de 8 de Janeiro”, concluiu o diretor-geral.
Fonte: Metropoles - Agência Brasil