Maria nos ensina isso com simplicidade e coragem. Conhecia “as promessas”, sabia que Deus não podia falhar com seu povo escolhido. Todos e todas aguardavam o “Cristo”, o escolhido, o enviado. No entanto, ela não podia saber como tudo isso iria acontecer. Só podemos imaginar, nas palavras da Anunciação, a surpresa daquela jovem mulher, prometida em casamento a José, e chamada, naquele momento, a ser a mãe do Salvador, por ação, humanamente inexplicável, do Divino Espírito Santo. Na sua humildade, ela se sente indigna. Nem sabe nada, ainda, das alegrias e das provações que virão, mas não desiste, não volta atrás, enfrenta o desconhecido porque confia naquele que a chamou. Para que seu Filho fosse verdadeiramente humano – e não só divino – o Pai precisou de uma mãe escolhida, a “bendita entre as mulheres”. Maria aceitou o desafio e, nunca mais haverá algo semelhante. Por isso, Nossa Senhora canta a sua alegria, dela e de todo pobre e excluído que, apesar de tudo, acredita que é amado por Aquele que está acima de tudo e de todos, Aquele que poderá não só reverter a seu favor situações injustas, mas, muito mais, com a sua presença fiel, o fará colaborador de um mundo novo, sem opressores e oprimidos, sem tronos a serem derrubados porque tudo será comunhão de paz e fraternidade. Quando? Como?
O caminho é longo, passa pela cruz do próprio Jesus, por todas as vidas doadas pela causa do Reino, mas os sinais da vitória já são visíveis e possíveis a serem realizados. A alegria do cristão nasce da certeza de que a “esperança” não pode ser um aguardar paciente, mas é sempre participação na construção de algo novo e melhor, mais humano e solidário. Por isso podemos chamar Maria, também mãe da Esperança, mãe da Vida Nova que o Cristo iniciou com a sua ressurreição. É esta a Vida prometida, a Vida que não morre mais para aqueles que acreditarem e seguirem a Jesus.
Com Papa Francisco, chamamos Maria “mãe de todas as criaturas” (Querida Amazônia 111) porque estamos vendo a Vida do nosso planeta, a nossa Casa Comum, sendo ameaçada. Junto com a floresta queimada, desaparecem plantas e animais, biomas inteiros destruídos pelo fogo, pela poluição, pela ganância de poucos. Os gritos de desespero e de alerta dos nossos irmãos, dos povos nativos da Amazônia, não são ouvidos. Se acreditamos na Vida, se acreditamos que toda a Criação é uma dádiva de Deus a toda a humanidade, não podemos ficar indiferentes, pensar só em interesses e resultados imediatos. Não somos os donos da Vida, somo administradores e disso teremos que prestar conta, um dia. Ou, talvez, esta conta já chegou e logo pagaremos as consequências. Tudo isso nos deixa tristes, mas Maria é também a Mãe da Alegria, que brota do coração sincero de quem confia mais em Deus do que nas suas próprias forças. Nele está a fonte inesgotável da nossa fé, da esperança, do amor e de toda a alegria.
No dia do Círio lembraremos, com um momento de silêncio, os irmãos e irmãs falecidos, vítimas da Covid 19 e de toda violência, mas também quero convidar a uma simples “explosão de alegria”. Gostaria que os “fogos” que soltaremos, após a bênção com a imagem de N.Sa. de Nazaré, fossem um sinal da nossa vontade de sermos todos mais felizes na busca da paz e da justiça. Não vamos guardar esta alegria somente para nós. Queremos que tantos desanimados, insensíveis e indiferentes sejam acordados pelo “barulho” da nossa fé. Gostaria que até os distraídos perguntassem: “O que é isso?”. E nós, pudéssemos responder com a alegria e a esperança nos olhos, atrás das máscaras: – É o Círio de Nossa Senhora de Nazaré! “Caminhemos” juntos com Maria, Mãe de Jesus, Mãe da Vida, Mãe de todas as criaturas, Mãe da Esperança e Mãe da Alegria. Nossa Mãe querida, sempre.
Fonte: Diocese de Macapá - http://www.diocesedemacapa.com.br/2020/10/10/artigo-de-dom-pedro-cirio-2020-com-maria-mae-da-vida-uma-explosao-de-fe-e-alegria/