Esporte

Por que Anderson Silva encerra carreira como o maior da história do UFC





O mundo do MMA vai ficar menos brilhante depois deste sábado. E não é todo dia que um nome histórico faz sua última luta (pelo menos, supostamente). O ex-campeão dos médios do UFC Anderson Silva faz hoje, contra Urijah Hall, aquele de deve ser o combate final de uma das carreiras mais brilhantes de um esportista nas últimas duas décadas.

Se o MMA se tornou o segundo esporte na atenção e na audiência dos brasileiros nos últimos anos, superando a Fórmula 1, muito se deve ao Spider. Não é pouca coisa isso e demonstra o tamanho e a importância dele dentro das artes marciais mistas e, principalmente, dentro do UFC. Vou explicar abaixo por que ele fecha a carreira como o maior nome que já passou pelo Ultimate.

(Calma que sei que nem tudo são flores na vida e na carreira do lutador. Chegarei lá.)

O próprio Anderson, como disse em entrevista coletiva na última semana, não gosta muito do rótulo de Goat (sigla para Greatest of all Times, em português, "o maior de todos os tempos"). E ele tem razão. Muitos já foram considerados Goat no UFC, mas depende muito de momento. Hoje é o recém-aposentado campeão dos leves Khabib Nurmagumedov, já foi Jon Jones, já foi Georges St-Pierre e, por muito tempo, foi ele próprio. Agora, com o fim próximo de sua carreira, esse debate volta à tona.

Acho muito raso esse debate sobre Goat, até pela volatilidade que já citei, mas por diversos fatores, podemos dizer que Anderson Silva é o maior nome que já passou pelo octógono mais famoso do mundo. É uma soma de pontos em que ele pode não ter sido o maior de todos em cada um deles, mas no total, ninguém teve um conjunto tão completo.

Anderson não foi tão tático quanto GSP, não foi tão midiático quanto Conor McGregor, não teve tantas defesas de cinturão quanto Jon Jones ou Demetrious Johnson, não foi campeão de mais de uma categoria como Henry Cejudo e nem ficou invicto como Khabib. Mas ele passou muito bem por todas essas áreas, o que nenhum outro fez.

Ele foi o primeiro a mostrar que poderia aliar técnica de luta com show dentro e fora do octógono, juntando vitórias com provocações (como depois fez Conor McGregor); foi o primeiro a bater de frente publicamente com Dana White, conseguindo salários milionários e contratos muito longos ("de nada, Jon Jones"); lutou de maneira eficiente em duas categorias; ficou invicto por 13 anos (somando 17 lutas); defendeu o cinturão dos médios do UFC por dez vezes seguidas (recorde por muito tempo, até Demetrious Johnson quebrar a marca com 11 defesas).

Mas mais que todas essas marcas, ele foi a primeira grande estrela da companhia que ultrapassou as barreiras do octógono. Claro que caras como Chuck Liddell ou Randy Couture fizeram algum sucesso antes do brasileiro, mas o Spider transpôs barreiras midiáticas, que apenas depois, com Ronda Rousey e Conor McGregor, o UFC conseguiu.

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Com isso, ele conseguiu levar o MMA —mas principalmente o UFC— para o mainstream do esporte no Brasil. O torcedor do país não resiste a um campeão incontestável. Não é exagero falar que o chute frontal que nocauteou Vitor Belfort em 2011 abriu todas as portas que a modalidade precisava. Por anos, depois daquele golpe, ele foi a cara do Ultimate e do MMA, era onipresente em propagandas e programas da Globo (que, diga-se de passagem, sempre foi muito resistente à modalidade e só se abriu muito por conta do Spider).

E ainda vamos ouvir falar por muito tempo da rivalidade dele com Chael Sonnen.

Mas a queda veio e não foi pequena

Como quase todo grande nome do esporte que esteve no panteão dos maiores de todos os tempos de suas modalidades, Anderson Silva também não soube a hora de parar. E não faltaram momentos oportunos. Mais que isso, a reta final de sua carreira lhe trouxe algumas manchas que dificilmente vão ser apagadas.

A principal delas será o caso de doping em sua luta contra Nick Diaz, quando voltava da grave fratura na perna, venceu o norte-americano por pontos, mas acabou sendo flagrado em três testes antidopings na semana da luta por uso de anabolizantes —resultados que só vieram à tona depois do combate e fizeram com que a luta ficasse sem vencedor (no-contest). Mas pior que o doping em si foi a explicação muito mal dada sobre suposta contaminação de um remédio para potencial sexual (?!?).

Até nesse caso de doping o brasileiro acabou sendo um exemplo. Depois desse flagrante, o UFC passou a levar muito mais a sério a testagem de seus atletas, adotando os protocolos da Usada (Agência Norte-Americana Antidoping), e as punições ficaram muito severas para quem fosse flagrado com substâncias proibidas.

Além do doping, a reta final do seu cartel tem muito mais altos que baixos. O maior campeão dos médios tem sua última grande atuação datada de outubro de 2012. Desde o nocaute sobre Stephan Bonnar no Rio de Janeiro, ele vem com seis derrotas, um cinturão perdido, uma perna quebrada, um caso de doping e uma vitória muito contestável.

UFC: SILVA X HALL
Las Vegas, EUA
31/10/2020

CARD PRINCIPAL (20h, de Brasília)

Peso-médio: Uriah Hall x Anderson Silva
Peso-pena: Bryce Mitchell x Andre Fili
Peso-pesado: Maurice Greene x Greg Hardy
Peso-médio: Kevin Holland x Charlie Ontiveros
Peso-leve: Bobby Green x Thiago Moises

CARD PRELIMINAR (17h, de Brasília)

Peso-leve: Chris Gruetzemacher x Alexander Hernandez
Peso-galo: Adrian Yanez x Victor Rodriguez
Peso-médio: Sean Strickland x Jack Marshman**
Peso-meio-médio: Cole Williams* x Jason Witt
Peso-meio-pesado: Dustin Jacoby x Justin Ledet
Peso-galo: Miles Johns x Kevin Natividad

*Cole Williams irá ceder 40% da bolsa ao seu oponente
**Jack Marshman irá ceder 20% da bolsa ao seu oponente

*Jorge Corrêa cobriu MMA para o UOL Esporte, dentro e fora do blog Na Grade do MMA, por quase oito anos e pôde acompanhar in loco a fase de ouro de Anderson Silva no UFC.

Fonte: UOL Esporte