Política

Ford: Bolsonaro diz que montadora não falou a 'verdade' sobre saída





O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou hoje, em conversa com apoiadores, que a Ford não 'falou a verdade' sobre a decisão de fechar as fábricas no Brasil. Na avaliação do presidente, a empresa queria subsídios para continuar produzindo veículos no país.

Segundo a Ford, a decisão faz parte da reestruturação global e também no mercado sul-americano. Além disso, a montadora alegou que a pandemia de covid-19 "ampliou a persistente capacidade ociosa da indústria e a redução das vendas, resultando em anos de perdas significativas".

Bolsonaro, no entanto, disse que a Ford queria subsídios para continuar fabricando carros no país. Ele citou um valor de R$ 20 bilhões que teria sido concedido à empresa nos últimos anos, mas não foi específico sobre o período ao qual esse subsídio corresponderia. 

Mas o que a Ford quer? Faltou a Ford dizer a verdade, né? Querem subsídios. Vocês querem que eu continue dando R$ 20 bilhões para eles como fizemos nos últimos anos? Dinheiro de vocês, impostos de vocês, para fabricar carro aqui? Não. Perdeu a concorrência. Lamento
Presidente Jair Bolsonaro (sem partido)

Bolsonaro ainda disse que encara a decisão da Ford como consequência da concorrência de outras montadoras. Ele disse lamentar a estimativa de ao menos 5 mil demissões de funcionários

"Há três anos, a Ford anunciou que não ia mais produzir carro de passeio nos Estados Unidos. A falta de ambiente de negócios, na verdade, eles tiveram subsídios nossos ao longo dos últimos anos de R$ 20 bilhões. Queriam renovar subsídio para fazer carro para vender. Agora, tem a concorrência também... Chinesa, entre outras. Saiu porque, em um ambiente de negócio, quando você não tem lucro, você fecha", disse o presidente.

Ontem, em entrevista à CNN Brasil, o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) afirmou que se surpreendeu com a decisão. "Não é uma notícia boa. Acho que a Ford ganhou bastante dinheiro aqui, no Brasil, né? Me surpreende essa decisão [de deixar o Brasil] que foi tomada pela empresa, que está há mais de 100 anos no Brasil, desde 1921. Eu acho que a empresa poderia ter retardado isso mais, e aguardado, até porque o nosso mercado consumidor é muito maior do que outros por aí."

Procurada pelo UOL Carros, a Ford afirmou que não se manifestará sobre as declarações do presidente.

Ataque a Rui Costa

Na conversa, Bolsonaro também rebateu o governador da Bahia, Rui Costa (PT), dizendo que faltou "capacidade de se antecipar aos problemas". Uma das três fábricas que foram fechadas fica em Camaçari (BA).

Ontem, o petista disse que a decisão era reflexo de 'um país que não cuida da sua economia, não garante segurança institucional a seus investidores e não faz as reformas necessárias".

"E deixar bem claro. A Ford ficou, por exemplo, na Bahia, que o governador está me criticando lá... Ficou por uma decisão do então senador Antônio Carlos Magalhães, o tal do ACM, que podia ter todos os defeitos do mundo, mas era uma pessoa amada na Bahia. E ele lutou, a Ford ficou lá. Agora, o governador, que tem senadores com ele, não teve a capacidade de se antecipar ao problema e buscar possíveis soluções", disse Bolsonaro.

Além de Camaçari, a Ford anunciou ontem o fechamento das fábricas de Horizonte (CE) e Taubaté (SP), além do fim da produção de veículos no país.

A marca, que já foi uma das quatro maiores do país em volume de vendas, já tinha fechado a unidade de São Bernardo do Campo (SP) em meados de 2019, onde produzia sua linha de caminhões e o Fiesta, já descontinuados.

Custo Brasil

A decisão da Ford teve forte repercussão no meio político e empresarial. A Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), por exemplo, disse que o fechamento de fábricas e fim da produção de veículos da montadora no Brasil apenas confirma alertas feitos pela entidade a respeito do setor automotivo e dos custos para a produção no país.

O custo Brasil, citado pela entidade, corresponde a uma medida do quanto é mais caro produzir aqui do que em outros países em função de ineficiências e outros custos da economia brasileira.

No ano passado, um estudo estimou que as empresas instaladas no Brasil têm um custo R$ 1,5 trilhão superior a uma média de países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Esse levantamento comparou os custos brasileiros aos do exterior em 12 dimensões, como infraestrutura, tributos, integração com cadeias produtivas globais, capital humano, entre outros.

Em novembro passado, o governo federal divulgou que esperava zerar o custo Brasil num prazo de cinco anos.

Fonte: UOL