Saúde

Pandemia provoca ‘depressão Covid-19’, segundo psiquiatra





Médico argentino avalia o impacto emocional gerado pela crise sanitária nos laços sociais e familiares

O argentino Juan David Nasio é considerado um dos maiores especialistas em psicanálise lacaniana. Ainda muito jovem, teve a oportunidade de trabalhar com o próprio Jacques Lacan em Paris. Como resultado de suas observações e do estudo de vários pacientes, ele percebeu que a pandemia de coronavírus trouxe consigo uma nova forma de depressão, chamada de “depressão Covid-19”.

Em entrevista a Marcelo Longobardi, apresentador da CNN Argentina, ele definiu as características da depressão e analisou o impacto emocional gerado pela crise sanitária nos laços sociais e familiares e na percepção de futuro. “A tristeza de Covid-19 não é uma tristeza comum”, diz Nasio.

Em sua perspectiva, esse transtorno derivado da pandemia é caracterizado por três fatores: tristeza ansiosa, muita raiva e cansaço. Ele também explica que as pessoas com essa condição demonstram medo do contágio e desesperança sobre o que virá depois. Um estado que os leva ao extremo desespero.

 Longobardi perguntou-lhe se esse sentimento poderia se refletir nos laços sociais. Para Nasio, esse estado repercute em figuras de autoridade. Ele considera que “todos nós precisamos de um patrão, de alguém que nos guie” diante de uma situação catastrófica e o prolongamento da pandemia pode gerar desconfiança.

O peso da pandemia na família

Embora nem todas as pessoas desenvolvam algum tipo de transtorno mental decorrente da pandemia, Nasio afirma que seu impacto emocional é inevitável e produz efeitos na família e, principalmente, nos laços de um casal.

O proeminente psiquiatra argentino explica que o confinamento “tem produzido muitas dificuldades em alguns casais, porque as pessoas se irritam com o par”. Ele acrescenta que “os casais não suportam a situação, porque não estão habituados a viver 24 horas juntos e a trabalhar no mesmo espaço”.

Nasio também identifica consequências na atitude dos jovens em relação ao futuro. Ele acredita que a confusão afeta principalmente os estudantes, embora “crianças e adolescentes tenham uma capacidade melhor de se adaptar às adversidades do que os adultos”.

Trabalho com Lacan

Nasio estudou em sua terra natal, mas ainda jovem partiu para Paris para enriquecer sua formação em psicologia. Graças a uma bolsa de estudos, teve a oportunidade de se estabelecer na França e lá conheceu o teórico Jacques Lacan.

Ele contou a Longobardi que conseguiu aprender francês em tempo recorde e trabalhou ao lado de Lacan por vários anos, tornando-se chefe de um de seus famosos seminários. Ainda na França, Nasio atuou por uma década como professor na Universidade da Sorbonne.

Fonte: CNN Brasil