Economia

BC sobe juros a 12,75% ao ano, maior nível desde fevereiro de 2017





O Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central) decidiu por unanimidade, subir a taxa básica de juros da economia (Selic) em 1 ponto percentual. Com isso, o índice foi de 11,75% para 12,75% ao ano — o maior patamar desde fevereiro de 2017, quando a taxa estava em 13%.

O movimento já era esperado por economistas. Essa é a décima alta consecutiva aplicada pelo BC à taxa Selic desde o início do aumento da inflação, em março de 2021. A taxa chegou a ter o menor valor histórico de 2% em agosto de 2020 para impulsionar a economia, debilitada pela pandemia.

O choque de juros deste ciclo já é o maior desde 1999, quando em meio à crise cambial, o BC aumentou a Selic em 20 pontos porcentuais de uma vez só.

O Copom justificou a nova alta se baseando no "ambiente externo que seguiu se deteriorando" e com pressões da inflação decorrentes da pandemia do coronavírus, que "se intensificaram com problemas de oferta advindos da nova onda de covid-19 na China e da guerra na Ucrânia".

Em relação à atividade econômica brasileira, o conjunto dos indicadores divulgado desde a última reunião do Copom indica um crescimento em linha com o que era esperado pelo Comitê [...] As expectativas de inflação para 2022 e 2023 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 7,9% e 4,1%, respectivamente.Pronunciamento do Copom

Para a próxima reunião, o Comitê prevê mais um ajuste na taxa, mas de menor magnitude. O documento afirma que ainda há incerteza em relação ao futuro e aos impactos dos juros, o que demanda cautela, e que os próximos passos serão na tentativa de conter a inflação.

Inflação surpreendeu negativamente

Mesmo vislumbrando o fim do ciclo de ajuste monetário, as autoridades do BC destacaram em seu comunicado que a inflação "continuou surpreendendo negativamente" — o mesmo foi dito em março e não houve mudanças significativas desde então.

O Comitê hoje ressaltou que "permanecem fatores de risco em ambas as direções" para a inflação, com destaque para as pressões inflacionárias no exterior e "uma desaceleração da atividade econômica mais acentuada do que a projetada".

A taxa de inflação em 12 meses até março subiu para 11,30%, a maior desde outubro de 2003. Os preços tiveram uma nova alta após a invasão da Ucrânia pela Rússia em 24 de fevereiro, atingindo diretamente o valor do combustível e dos alimentos.

Na última semana, o mercado elevou a expectativa de alta dos preços ao consumidor até o final deste ano para 7,89%, contra 6,97% um mês atrás, cada vez mais distante do teto da meta de 5% do BC.

Selic nas últimas dez reuniões

  • 04 de maio de 2022: 12,75% ao ano
  • 16 de março de 2022: 11,75% ao ano
  • 02 de fevereiro de 2022: 10,75% ao ano
  • 08 de dezembro de 2021: 9,25% ao ano
  • 27 de outubro de 2021: 7,75% ao ano
  • 22 de setembro de 2021: 6,25% ao ano
  • 4 de agosto de 2021: 5,25% ao ano
  • 16 de junho de 2021: 4,25% ao ano
  • 5 de maio de 2021: 3,5% ao ano
  • 17 de março de 2021: 2,75% ao ano

 

- Entidades se manifestam após anúncio de aumento da Selic

Setores produtivos temem que aumento restrinja atividade econômica

Entidades e federações se manifestaram sobre a decisão do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) de ajustar a taxa básica de juros (Selic) em um ponto percentual, de 11,75% para 12,75% ao ano.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) considerou “equivocada” a decisão. Para a confederação, a taxa anterior já era suficiente para garantir uma trajetória de queda da inflação nos próximos meses, argumentando que a alta leva tempo para restringir a atividade e, consequentemente, segurar a alta dos preços.

“Este novo aumento da taxa de juros deve comprometer ainda mais a atividade econômica, que já dá claros sinais de fraqueza. Para a indústria, a intensificação do ritmo de aperto da política monetária piora as expectativas para o crescimento econômico em 2022, com efeitos adversos sobre a produção, o consumo e o emprego”, disse o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, em nota divulgada pela entidade. 

Ainda segundo avaliação da CNI, a expectativa de inflação cadente e a trajetória incerta de recuperação da atividade econômica demandam uma política monetária mais moderada e atenta aos desafios de crescimento do Brasil no curto prazo.

Já a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) considera que, apesar de esperado, o décimo aumento consecutivo da Selic é “ineficiente e pouco efetivo no controle do nível de preços neste momento”.

De acordo com a entidade, a atividade econômica já tem sentido os efeitos do início do ciclo de alta da taxa de juros, contudo a inflação não tem dado sinais de abrandamento. “A desorganização das cadeias de produção, provocada pela pandemia de covid-19, e os impactos derivados da guerra na Ucrânia reforçam que a inflação advém de choques externos e temporários de oferta, e não de demanda. A nova alta de juros penaliza ainda mais o nível de atividade e reforça a perspectiva de desaceleração econômica em 2022”, avaliou a Firjan.
 
A federação disse ainda que “nesse contexto, vale ressaltar que os gargalos da cadeia de insumos mostraram a necessidade de diversificar fornecedores e fortalecer indústrias estratégicas, trazendo a urgência de políticas de longo prazo para a indústria. Além disso, as incertezas relacionadas ao arcabouço fiscal mantêm elevada a percepção de risco nas contas públicas, que continuam sendo fator de risco para a economia brasileira”.

Ainda em nota, a Firjan voltou a afirmar a necessidade de reformas que sinalizem equilíbrio nas contas públicas, e classificou a medida como “impreterível” para a retomada do crescimento sustentável.

Fonte: UOL - Agência Brasil com AFP e Estadão Conteúdo