Pela primeira vez em 20 anos, a taxa de câmbio entre o euro e o dólar americano é quase a mesma — as duas moedas estão a menos de um centavo da paridade.
O euro oscilou em torno de US$ 1,007 na manhã de segunda-feira (11), uma queda de quase 15% desde o início do ano. Os temores de recessão no continente são abundantes, alimentados pela alta inflação e pela incerteza no fornecimento de energia causada pela invasão da Ucrânia pela Rússia.
A União Europeia, que antes da guerra recebia cerca de 40% de seu gás por gasodutos russos, está tentando reduzir sua dependência do petróleo e do gás russos.
Ao mesmo tempo, a Rússia reduziu o fornecimento de gás para alguns países da UE e recentemente cortou o fluxo no gasoduto Nord Stream para a Alemanha em 60%.
Agora, essa peça crítica de infraestrutura de importação de gás na Europa foi fechada para manutenção programada nos últimos 10 dias. Autoridades alemãs temem que ele não possa ser ligado novamente.
A crise de energia vem acompanhada de uma desaceleração econômica, que colocou dúvidas sobre se o Banco Central Europeu pode apertar adequadamente a política para reduzir a inflação.
O BCE anunciou que aumentará as taxas de juros este mês pela primeira vez desde 2011, já que a taxa de inflação da zona do euro está em 8,6%.
Mas alguns dizem que o BCE está muito atrás da curva, e que um pouso forçado é quase inevitável. A Alemanha registrou seu primeiro déficit comercial em bens desde 1991 na semana passada, com os preços dos combustíveis e o caos geral da cadeia de suprimentos aumentando significativamente o preço das importações.
“Dada a natureza das exportações da Alemanha, que são sensíveis ao preço das commodities, continua difícil imaginar que a balança comercial possa melhorar significativamente a partir daqui nos próximos meses, dada a desaceleração esperada na economia da zona do euro”, escreveram estrategistas de câmbio do Saxo Bank em uma nota recente.
Uma série de aumentos agressivos nas taxas de juros por parte dos bancos centrais, incluindo o Fed, juntamente com a desaceleração do crescimento econômico, manterão a pressão sobre o euro, enquanto direcionam os investidores para o dólar americano como um porto seguro, dizem analistas.
O Federal Reserve dos EUA está bem à frente da Europa no aperto, tendo aumentado as taxas de juros em 75 pontos base, indicando que mais aumentos de taxas virão este mês.
Esse refúgio seguro para o dólar americano pode se tornar ainda mais extremo se a Europa e os EUA entrarem em recessão, alertou o chefe global de pesquisa FX da Deutsche, George Saravelos, em nota na semana passada.
Uma situação em que o euro está sendo negociado abaixo do dólar americano na faixa de US$ 0,95 a US$ 0,97 poderia ser “bem alcançada”, escreveu Saravelos, “se tanto a Europa quanto os EUA se encontrarem escorregando para uma recessão (mais profunda) no terceiro trimestre, enquanto o Fed ainda está subindo as taxas.”
Essa é uma boa notícia para os americanos com planos de visitar a Europa neste verão, mas pode significar más notícias para a estabilidade econômica global.
A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, pressiona a China e outras economias do G20 a acelerar o alívio da dívida para um número crescente de países altamente endividados, alertando que o fracasso em fazê-lo pode desencadear uma "espiral descendente" prejudicial.
Georgieva disse à Reuters que é crucial impulsionar o Marco Comum para negociação de dívidas, programa amplamente paralisado que foi adotado pelo G20 e pelo Clube de Paris de credores oficiais em outubro de 2020, mas não conseguiu entregar um único resultado até agora.
"Este é um tópico sobre o qual não podemos ter complacência", disse ela. "Se a confiança for corroída a ponto de haver uma espiral descendente, não se sabe onde isso terminará", disse a chefe do FMI em entrevista, antes de reunião desta semana de autoridades financeiras na Indonésia.
Georgieva disse que quase um terço dos países de mercados emergentes e duas vezes essa proporção de países de baixa renda estão com dificuldades envolvendo a dívida, com a situação piorando à medida que as economias avançadas aumentaram suas taxas de juros.
Ela fez um apelo à China para que coordene melhor seus múltiplos credores, alertando que o país seria o "primeiro a perder dramaticamente" se os atuais problemas de dívida se transformarem numa crise total.
Fonte: Agência Brasil - CNN Brasil