O Ibovespa fechou em queda de 1,68%, aos 110.430,64 pontos, nesta terça-feira (30), puxado pelo recuo dos papéis da Petrobras e da Vale, que seguem as quedas do petróleo e do minério de ferro. A petroleira caiu mais de 5% e a mineradora cerca de 3%.
Esse foi o pior desempenho da bolsa desde 19 de agosto, quando caiu 2,04%, e a pontuação mais baixa desde 11 de agosto, quando bateu 109.717 pontos.
Já o dólar encerrou em alta de 1,57%, cotado a R$ 5,112. A moeda ganhou espaço para valorização devido à aversão a riscos no exterior, com preocupações sobre a situação da economia internacional, além de um ajuste após um forte fluxo de entrada de investimentos no Brasil que beneficiou o real.
Esse foi o melhor desempenho do dólar desde 2 de agosto, quando subiu 1,93%. À época, a moeda foi favorecida por uma aversão global a riscos devido à piora nas tensões entre Estados Unidos e China, enquanto o mercado repercutia a visita da presidente da Câmara norte-americana, Nancy Pelosi, a Taiwan.
O Banco Central realizou neste pregão leilão de até 15 mil contratos de swap cambial tradicional para fins de rolagem do vencimento de 3 de outubro de 2022. A operação do BC ajuda a dar liquidez na moeda, mas especialistas consultados pelo CNN Brasil Business apontam que o órgão poderia atuar mais para conter a volatilidade do câmbio.
Na segunda-feira (30), o dólar teve queda de 0,91%, a R$ 5,033. Já o Ibovespa avançou 0,02%, aos 112.323,12 pontos.
O mercado repercutiu também mudanças de apostas dos investidores em relação aos juros dos Estados Unidos após o discurso do presidente do Federal Reserve Jerome Powell no simpósio de Jackson Hole.
Os comentários de Powell foram considerados duros em relação à inflação, reforçando apostas em uma elevação de juros de 0,75 ponto percentual em setembro, que seria a terceira consecutiva nessa magnitude. O cenário é benéfico para o dólar, mas ruim para as bolsas em todo o mundo.
Para alguns, o banco central será menos agressivo, com alta de 0,5 ponto percentual, para impactar menos a economia do país. Outros apontam que a economia ainda está aquecida, em especial o mercado de trabalho, permitindo uma elevação mais agressiva, de 0,75 p.p.
Os contratos futuros de petróleo fecharam em baixa forte, nesta terça-feira. Houve realização de lucros, após o WTI bater máxima em cerca de um mês, e também com várias notícias do setor sendo monitoradas, algumas delas apontando para a possibilidade de maior oferta.
Além disso, continuam as preocupações com a perda de fôlego na economia global, com consequente impacto negativo para a demanda pelo óleo.
O petróleo WTI para outubro fechou em baixa de 5,54% (-US$ 5,37), a US$ 91,64 o barril, na New York Mercantile Exchange (Nymex), e o Brent para novembro caiu 4,95% (-US$ 5,09), a US$ 97,84 o barril, na Intercontinental Exchange (ICE).
Segundo a agência russa Tass, uma fonte da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) negou que esteja em discussão um corte na produção do grupo para o encontro marcado para a próxima segunda-feira. A notícia surge após algumas nações, entre elas a Arábia Saudita, levantarem essa possibilidade nos últimos dias.
Foi ainda noticiado que o Iraque se mostra disposto a ampliar exportações de petróleo para a Europa, se necessário, no momento em que o continente enfrenta dificuldades na oferta de gás da Rússia.
Os contratos futuros de minério de ferro e Singapura foram reduzidos nas bolsas.
O contrato de extração de ferro mais negociado em Dalian Commodity Exchange para janeiro recuou 9% e atingiu a mínima de uma semana de US$680,50 no início da sessão.
Na Bolsa de Singapura, o contrato de outubro mais ativo do ingrediente siderúrgico caiu 4,5%, a US$ 97,25 a tonelada.
O minério de ferro de Dalian recuou mais de 20% em relação ao pico de este ano, de 890 iuanes por tonelada em junho.
A aversão global a riscos dos investidores, desencadeada por temores sobre uma possível desaceleração econômica generalizada devido a uma série de altas de juros pelo mundo para conter níveis recordes de inflação, tem variado de intensidade dependendo das expectativas sobre o ciclo de alta de juros nos Estados Unidos.
O processo de elevação da taxa norte-americana continuou em julho com uma nova alta de 0,75 ponto percentual. Entretanto, o Federal Reserve sinalizou que poderia realizar altas menores conforme a economia do país já dá sinais de desaceleração, buscando evitar uma recessão.
Os juros maiores nos Estados Unidos atraem investimentos para a renda fixa do país devido a sua alta segurança e favorecem o dólar, mas prejudicam os mercados e as bolsas ao redor do mundo, inclusive as norte-americanas.
Os investidores monitoram ainda a situação da economia da China, que também dá sinais de desaceleração ligados a uma série de lockdowns em cidades relevantes. A expectativa é que o governo chinês intensifique um esforço para estimular a economia, enquanto enfrenta dificuldades para reverter um quadro de baixo consumo pela população, que impacta a demanda do país por commodities.
Mesmo assim, o Ibovespa e o real encontraram espaço para recuperação com uma melhora de humor do mercado, apoiada nas perspectivas positivas para as commodities, um cenário econômico doméstico mais forte e uma redução da percepção de riscos em relação às eleições.
Veja os principais destaques do pregão desta terça-feira (30):
Maiores altas
Maiores baixas
- Confiança do Comércio sobe 4,3 pontos em agosto ante julho, para 99,4, diz FGV
O Índice de Confiança do Comércio (Icom) cresceu 4,3 pontos na passagem de julho para agosto, para 99,4 pontos, informou nesta terça-feira, 30, a Fundação Getulio Vargas (FGV). Em médias móveis trimestrais, o indicador subiu 2,0 pontos.
“A confiança do comércio voltou a subir em agosto. Ao contrário do que vinha ocorrendo em meses anteriores, a alta desse mês foi toda influenciada pela melhora das expectativas”, avaliou Rodolpho Tobler, coordenador da Sondagem do Comércio no Instituto Brasileiro de Economia da FGV (Ibre/FGV), em nota oficial.
“A desaceleração da inflação, medidas de estímulo do governo e melhora da confiança do consumidor contribuem no ânimo dos empresários do setor com os próximos meses. Contudo, embora mais otimistas, isso não tem se refletido nas avaliações sobre o presente, já que pelo segundo mês consecutivo os indicadores que medem a demanda seguem em queda”, diz.
Para os próximos meses, segundo o economista, “ainda é possível imaginar resultados positivos, mas é necessária cautela considerando o ambiente macroeconômico ainda frágil e com alguma oscilação devido à proximidade das eleições”,
Em agosto, houve melhora na confiança em cinco dos seis principais segmentos do comércio. O Índice de Situação Atual (ISA-COM) recuou 1,4 ponto, para 104,2 pontos, enquanto o Índice de Expectativas (IE-COM) aumentou 9,7 pontos, para 84,8 pontos.
Com a piora no ISA e melhora no IE em agosto, a distância entre o nível de ambos os componentes se reduziu, mas o patamar da avaliação atual ainda é superior ao das expectativas, além de estar acima do nível neutro.
“O maior desafio agora é a manutenção do resultado positivo das expectativas e que isso acabe se confirmando em melhora na percepção da demanda dos empresários nos próximos meses”, completou Tobler. A Sondagem do Comércio de agosto coletou informações de 780 empresas entre os dias 1º e 26 do mês.
Também calculado pelo FGV Ibre, o Índice de Confiança da Indústria (ICI) publicado na véspera registrou alta de 0,8 ponto percentual em agosto, para 100,3 pontos, divulgou o Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre) nesta segunda-feira (29).
O resultado fica acima do nível de neutralidade do setor, considerado pela instituição em 100 pontos, após ficar em 99,5 em julho.
A alta indica que o setor mantém um bom nível de atividade no terceiro trimestre, disse a instituição em nota. Na métrica de médias móveis trimestrais, o índice também avança, em 0,2 ponto.
“A melhora do ambiente de negócios no mês foi possivelmente influenciada pela descompressão de custos com a queda de preços de combustíveis e energia”, diz.
A instituição reforça que, apesar do “cenário ainda problemático” quanto ao suprimento de alguns tipos de insumos, os níveis de demanda ainda estão positivos e os estoques se mantêm equilibrados.
O Ibre também divulgou nesta terça-feira o Índice de Confiança de Serviços (ICS), que caiu 0,2 ponto na passagem de julho para agosto, na série com ajuste sazonal, para 100,7 pontos. Em médias móveis trimestrais, o índice avançou 0,8 ponto.
“Depois de cinco altas consecutivas, a confiança de serviços se acomodou em agosto. Nesse mês, apesar de uma avaliação favorável sobre a situação atual dos negócios, há uma percepção de desaceleração na demanda atual. Apesar disso, ainda é cedo para afirmar que haverá uma reversão da tendência positiva que vinha ocorrendo pois existem perspectivas otimistas em relação à demanda nos próximos meses, principalmente no que diz respeito a serviços prestados às famílias. Apesar de um ambiente macroeconômico desafiador e com sinais de desaceleração, a redução da inflação e as medidas de estímulo feitas pelo governo parecem sustentar os resultados favoráveis até o momento”, avaliou Tobler em nota oficial.
Em agosto, o Índice de Situação Atual (ISA-S) recuou 0,7 ponto, para 100,1 pontos. O Índice de Expectativas (IE-S) avançou 0,4 ponto, para 101,3 pontos.
Segundo a FGV, a confiança de serviços vinha apresentando resultados favoráveis desde março, com trajetória positiva disseminada entre os segmentos pesquisados, com destaque para os serviços prestados às famílias, que continuaram subindo em agosto.
A confiança do subsetor de serviços prestados às famílias vinha sendo influenciada pela melhora das avaliações sobre a situação atual, mas em agosto passou a ser puxada pelas expectativas. “A desaceleração da inflação e o aumento dos recursos das famílias com aumento dos programas do governo podem estar influenciando essa melhora nas expectativas do segmento”, completou Tobler.
A coleta de dados para a edição de agosto da Sondagem de Serviços foi realizada com 1.548 empresas entre os dias 1º e 26 do mês.
- Governo Central tem superávit primário recorde para meses de julho
O aumento da arrecadação, o pagamento de dividendos recordes da Petrobras e o adiamento de precatórios ajudaram as contas públicas em julho. No mês passado, o Governo Central – Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central – registrou superávit primário de R$ 19,308 bilhões, divulgou hoje (30) o Tesouro Nacional. Este é o maior superávit para o mês desde o início da série histórica.
O resultado veio melhor que o esperado pelas instituições financeiras. Segundo a pesquisa Prisma Fiscal, divulgada todos os meses pelo Ministério da Economia, os analistas de mercado esperavam resultado positivo de apenas R$ 474 milhões em julho.
Esta foi a quarta vez no ano em que o Governo Central registrou superávit primário. Os outros meses foram janeiro, abril e junho. Com o resultado de julho, o Governo Central fechou os sete primeiros meses do ano com resultado positivo de R$ 73,088 bilhões. Esse também é o melhor resultado para o período desde o início da série histórica.
O resultado primário representa a diferença entre as receitas e os gastos, desconsiderando o pagamento dos juros da dívida pública. Apesar do superávit acumulado no ano, a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) estipula meta de déficit primário de R$ 170,5 bilhões para este ano.
No fim de julho, o Relatório Bimestral de Receitas e Despesas reduziu a estimativa de déficit para R$ 59,354 bilhões. No entanto, o valor levado em conta para o cumprimento das metas fiscais é o da LDO. A redução da previsão de déficit ocorreu mesmo com a emenda constitucional que aumentará gastos sociais em R$ 41,25 bilhões no segundo semestre.
O superávit de julho ocorreu porque as receitas cresceram, enquanto as despesas caíram. No mês passado, as receitas líquidas cresceram 17% em relação a julho do ano passado em valores nominais. Descontada a inflação pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o crescimento atingiu 6,3%. No mesmo período, as despesas totais caíram 9,6% em valores nominais e 17,9% após descontar a inflação.
Em relação ao pagamento de impostos, houve crescimento de R$ 7,8 bilhões acima da inflação no Imposto de Renda, motivado principalmente pelo aumento do lucro das empresas. Em grande parte, essa alta reflete o aumento do lucro das empresas e energia e de petróleo no início do ano, o que ajuda a compensar parcialmente as desonerações para a indústria e para os combustíveis.
A alta na receita líquida também pode ser explicada pelo recebimento de R$ 6,9 bilhões da Petrobras. Os dividendos são a parcela do lucro que uma empresa distribui aos acionistas. No caso das estatais, como o maior acionista é a União, o governo fica com a maior parte dos dividendos.
A alta do petróleo no mercado internacional fez as receitas com royalties crescerem R$ 2,509 bilhões (+14,4%) acima da inflação no mês passado na comparação com julho de 2021. Atualmente, a cotação do barril internacional está em torno de US$ 100 por causa da guerra entre Rússia e Ucrânia.
Do lado das despesas, o principal fator que contribuiu para a diminuição dos gastos foi a antecipação da primeira parcela do décimo terceiro de aposentados e pensionistas, que reduziu os gastos da Previdência Social em cerca de R$ 20 bilhões na comparação entre julho deste ano e do ano passado. Em 2022, o pagamento da ocorreu de abril a junho. No ano passado, o desembolso foi realizado de maio e julho.
Em contrapartida, aumentaram os gastos com despesas obrigatórias com controle de fluxo, que subiram R$ 6,309 bilhões (+53,6%) acima da inflação em julho na comparação com o mesmo mês de 2021. No acumulado do ano, o aumento chega a R$ 37,597 bilhões (+42,1%) acima do IPCA. A alta foi impulsionada pelo pagamento do benefício mínimo de R$ 400 do Auxílio Brasil, cujo valor passou para R$ 600 de agosto a dezembro.
Em contrapartida, os gastos com o funcionalismo federal caíram 11,8% no acumulado do ano descontada a inflação. A queda reflete o congelamento de salários dos servidores públicos que vigorou entre julho de 2020 e dezembro de 2021 e a falta de reajustes em 2022, apesar de diversas categorias estarem em greve. O adiamento dos precatórios também contribuiu para a queda.
Em relação aos investimentos (obras públicas e compra de equipamentos), o governo federal investiu R$ 23,92 bilhões nos sete primeiros meses do ano. O valor representa queda de 10,5% descontado o IPCA em relação ao mesmo período de 2021.
No resultado acumulado do ano, o adiamento de precatórios (dívidas do governo com sentença judicial definitiva) também contribuiu para a melhoria do superávit primário. De janeiro a julho, a União desembolsou cerca de R$ 25 bilhões a menos em precatórios que no mesmo período do ano passado.
Segundo o secretário do Tesouro Nacional, Paulo Valle, a diferença não ocorreu por causa da emenda constitucional que parcelou o pagamento de precatórios de grande valor. De acordo com ele, neste ano, o Conselho Nacional da Justiça pediu o adiamento do desembolso de precatórios de julho para agosto.
Fonte: CNN Brasil - Agência Brasil