Cultura

Papa: é preciso oração e consolação nos Santuários, nenhum obstáculo ao perdão





Francisco encontrou-se com os reitores e os colaboradores dos Santuários, reunidos no Vaticano para o 2º Encontro Internacional, e recomendou que esses "lugares especiais" sejam, antes de tudo, lugares de oração, com atenção aos sacramentos e à acolhida dos peregrinos. O Pontífice pediu que se ofereça consolo àqueles que chegam aos santuários com fardos e problemas por meio de uma "proximidade compassiva". E recordou que 2024 será um ano inteiramente dedicado à oração, em vista do Jubileu.

As pessoas vão aos Santuários para rezar, para ganhar confiança no futuro e, acima de tudo, para serem consoladas dos fardos, dores e preocupações que muitas vezes pesam sobre o corpo e o espírito. Portanto, esses lugares sagrados transbordam de consolo e misericórdia. O que, na prática, também significa discernir a escolha dos sacerdotes para as confissões, de modo que não aconteça que aqueles que chegam ao confessionário "encontrem obstáculos para experimentar a reconciliação plena".

O Sacramento da Reconciliação é perdoar, sempre. Perdoar... Perdoar sempre como o Pai perdoa. Perdoar.

Recomendações claras e concretas do Papa aos reitores e aos trabalhadores dos santuários, reunidos desde quinta-feira, 9 de novembro, no Vaticano, para seu 2º Encontro Internacional. Uma iniciativa, desejada e dirigida por Dom Rino Fisichella e organizada pelo Dicastério para a Evangelização, que é uma oportunidade para o Pontífice implorar, mais uma vez, "a intercessão da Mãe de Deus para que, neste tempo atormentado, tantos de nossos irmãos e irmãs que sofrem possam encontrar paz e esperança".

Bom discernimento na escolha de padres confessores

Uma oração que o bispo de Roma recomenda pode surgir de todos os santuários do mundo. Esses "lugares especiais", que atraem milhares ou até milhões de pessoas todos os anos, são de fato "lugares de oração verdadeiramente privilegiados". A primeira preocupação, recomenda o Pontífice aos reitores e operadores, é que não sejam desvirtuados a esse respeito, cuidando da celebração da Eucaristia e do Sacramento da Reconciliação.

Nesse sentido, o Papa Francisco pede um "bom discernimento" na escolha dos confessores:

Que não aconteça que aqueles que chegam ao confessionário atraídos pela misericórdia do Pai encontrem obstáculos para experimentar a verdadeira e plena reconciliação. Isso não pode acontecer, especialmente em santuários, porque neles a misericórdia de Deus se expressa de modo superabundante, por sua própria natureza.

Recuperar o aspecto da adoração

Também é importante, enfatizou o Papa, que seja dada atenção especial à adoração nos santuários, considerando que "o ambiente e a atmosfera de nossas igrejas nem sempre nos convidam a nos reunir e adorar". "Perdemos um pouco o aspecto da adoração. Precisamos recuperá-lo", disse Francisco, ao pedir para "promover nos peregrinos a experiência do silêncio contemplativo e - não é fácil - do silêncio da adoração". Isso "significa ajudá-los a fixar o olhar no essencial da fé".

A adoração não é um afastamento da vida; ao contrário, é o espaço para dar sentido a tudo, para receber o dom do amor de Deus e ser capaz de testemunhá-lo na caridade fraterna.

Consolar

Outro dom é o da consolação, "o mistério da consolação": "Também se vai aos santuários para ser consolado", observa o Papa. "Quantas pessoas vão até lá porque carregam no espírito e no corpo um fardo, uma dor, uma preocupação!"

A doença de um ente querido, a perda de um membro da família, tantas situações na vida são frequentemente causas de solidão e tristeza, que são colocadas no altar e aguardam uma resposta. O consolo não é uma ideia abstrata e não é feito principalmente de palavras, mas de uma proximidade compassiva e terna que compreende a dor e o sofrimento. 

Consolar é, portanto, "tornar tangível a misericórdia de Deus". É por isso que "o serviço de consolação" não pode faltar nos Santuários.  

Acolher bem os peregrinos

"Que a consolação e a misericórdia sejam abundantes em nossos santuários!", exclama Jorge Mario Bergoglio. Por fim, ele fala de esperança, a esperança de que todo peregrino precisa, pois "vamos ao Santuário para olhar para o futuro com mais confiança".

O próprio gesto da peregrinação demonstra isso: aqueles que partem estão procurando "um destino seguro para chegar", "pedem esperança com sua oração", porque "sabem que somente uma fé simples e humilde pode obter a graça de que necessitam". Por isso, é importante que, ao voltar para casa, "ele se sinta realizado e cheio de serenidade", recomenda o Pontífice.

Em nossos santuários, dá-se muita atenção ao acolhimento, e com razão. Por favor, não se esqueçam disso: recebam bem os peregrinos. Ao mesmo tempo, deve-se dar o mesmo cuidado pastoral ao momento em que os peregrinos deixam o santuário para retornar à sua vida normal: que eles recebam palavras e sinais de esperança, para que a peregrinação que fizeram alcance seu pleno significado.

2024, um ano dedicado à oração em vista do Jubileu

Ao concluir seu discurso, o Papa lembrou que o próximo ano, em preparação para o Jubileu de 2025, será inteiramente dedicado à oração. Ele anunciou que em breve serão publicados materiais informativos que "podem ajudar a redescobrir a centralidade da oração". " Será uma boa leitura, que estimulará a pessoa a orar com simplicidade". E por fim, um ultimo convite:

Arregacemos as mangas e renovemos todos os dias a alegria e o compromisso de sermos homens e mulheres de oração. Oração do coração, não como papagaios. Não. Do coração. 

 

- Papa: educar as crianças com liberdade; não aceitar programas contrários aos próprios valores

 

Francisco recebeu em audiência no Vaticano, os participantes na Assembleia Geral da Conferência da Associação Europeia de Pais. Em seu discurso aos presentes, exortou-os a “cuidar dos seus filhos e, ao mesmo tempo, encorajá-los a amadurecer e se tornar autônomos, sem impor expectativas”. A seguir, convidou-os “a transmitir uma formação positiva da afetividade e sexualidade, a fim de defender seus filhos das ameaças, como o bullying, bebidas alcoólicas, pornografia, vídeo games violentos, drogas”

 

Na audiência aos participantes na Assembleia Geral da EPA, Associação Europeia de Pais, o Papa aprofundou a função dos pais na formação de seus filhos: “Ser pais é uma das maiores alegrias da vida, porque desperta novas energias, entusiasmo e impulso”. Mas, acrescentou: “Educar um filho é uma verdadeira obra social: significa treiná-lo ao relacionamento, ao respeito dos outros, à cooperação, em vista de um objetivo comum; significa ainda treiná-lo à responsabilidade, ao senso de dever, ao valor do sacrifício pelo bem comum”.

 

Porém, Francisco ponderou: “Ao invés, se os filhos crescerem como ilhas serão incapazes de ter uma visão comum, pois estão acostumados a considerar seus desejos como valores absolutos. Esses filhos, que fazem caprichos, criam uma sociedade desmantelada, empobrecida, que se torna cada vez mais frágil e desumana”.

 

Por este motivo, é preciso tutelar o direito dos pais de criar e educar seus filhos com liberdade, sem ser forçados, de forma alguma, sobretudo, em âmbito escolar, tendo que aceitar programas educativos, que estejam em conflito com as suas crenças e valores. Este é um grande desafio, neste momento”.

 

A alegria de ser pais, diz Francisco, os coloca diante de tarefas educativas, para as quais, muitas vezes, estão despreparados:

 

Por exemplo, cuidar dos seus filhos com amor, encorajando-os, ao mesmo tempo, ao amadurecimento, até se tornar autônomos; ajudá-los a adquirir costumes saudáveis ​​e bons estilos de vida, no respeito da sua personalidade e dos seus dons, sem impor as nossas expectativas; ajudá-los a enfrentar, com serenidade, o seu percurso escolar; ou ainda, proporcionar-lhes uma formação positiva à afetividade e sexualidade; defendê-los das ameaças como bullying, bebidas alcoólicas, fumo, pornografia, vídeo games violentos, jogos de azar, drogas etc”.

 

Valores transmitidos com o testemunho

 

Depois, o Santo Padre explicou que “essas tarefas educativas estão inseridas em um contexto cultural, pelo menos na Europa, marcado pelo subjetivismo ético e o materialismo prático”:

 

“A dignidade da pessoa humana é comprovada, mas nem sempre respeitada na prática. Os pais percebem logo quando seus filhos estiverem imersos nesta atmosfera cultural. O que ‘respiram’ ou o que ‘absorvem’ pelos meios de comunicação contrasta, muitas vezes, com o que, até a algumas décadas, era considerado ‘normal’, mas, agora, parece não ser mais assim. Por este motivo, os pais se sentem obrigados a mostrar, todos os dias, aos seus filhos a bondade e a razoabilidade de escolhas e valores, que não podem ser mais vistos como descontados, como o valor do casamento e da família; a escolha de aceitar os filhos como dom de Deus. Mas, isso não é fácil, porque estas realidades só podem ser transmitidas com o testemunho de vida”!

 

Educar é humanizar

 

Diante de tais dificuldades, que poderiam “desanimar”, afirmou o Papa, os pais devem ajudar-se mutuamente e reacender a sua paixão pela educação, porque “educar é humanizar; é tornar o homem plenamente humano”:

 

É verdade, a cultura mudou, mas as exigências do coração humano mantêm um núcleo imutável, que, mais cedo ou mais tarde, se revela também nos filhos. É preciso partir sempre deste princípio. O próprio Deus imprimiu na nossa natureza humana as exigências irreprimíveis de amor, verdade, beleza, relacionamento, doação e abertura ao outro e ao transcendente. Essas necessidades do coração são aliadas poderosas de todo educador. Fazendo-as emergir e aprendendo a ouvi-las, os nossos filhos também serão propensos a ver o bem e o valor das propostas educativas dos pais”.

 

Ajudar os filhos a descobrir os pontos positivos da existência

 

Mas, quando se poderá dizer que a tarefa educativa dos pais teve sucesso? Este discurso do Papa aos participantes da Assembleia da EPA também se orienta nesta questão, que encontra a resposta correta eu suas palavras:

 

Quando os filhos descobrirem a positividade fundamental da sua existência e do seu modo de viver no mundo... e quando, estiverem conscientes disso, então poderão enfrentar a aventura da vida, com confiança e coragem, cientes que eles também têm uma missão a cumprir: uma missão na qual encontrarão sua realização”.

 

Cada um deve ser um dom para o mundo

 

A realização da tarefa educativa dos pais pressupõe, portanto, uma descoberta fundamental: o “grande amor de Deus por nós”, como disse o Papa Francisco: “Quem descobrir que na raiz do seu ser se encontra o amor incondicional de Deus Pai, então poderá reconhecer que a vida é boa, que nascer e amar também são coisas boas:

 

Deus fez de mim um maravilhoso dom; logo, eu também sou um dom para os meus entes queridos e para o mundo. Todos estão cientes disso. Esta certeza me ajuda a não viver apenas impelido por uma tendência humilhante de “me poupar”, ou pela reocupação constante de me preservar, de não me comprometer demais, de não sujar as mãos. Essas são verdadeiras armadilhas…”.

 

Entregar-se aos outros

 

Pelo contrário, observou o Papa, “a vida desabrocha, com toda a sua formosura, quando nos dedicamos e nos entregamos aos outros”:

 

A vida desabrocha, com toda a sua riqueza, quando nos doamos e nos entregamos. Eis a grande tarefa educativa dos pais: formar pessoas livres e generosas, que conheçam o amor de Deus e dão, com generosidade, o que receberam como dom. Esta é, em certo sentido, a transmissão da gratuidade, que não é fácil praticar...”.

 

O Papa Francisco concluiu seu discurso, recordando o horizonte do “Pacto educativo global”, ou seja, “consolidar o compromisso comum com todas as instituições, que trabalham com os jovens”. Mas, recordou também o “Pacto Familiar”, que pretende colocar ao centro de tudo uma realidade fundamental: “a família e as suas relações”.

 

A EPA

 

A Associação Europeia de Pais (EPA) é uma reunião de associações de pais, que conta mais de 150 milhões de pessoas. Esta Associação foi criada para dar aos pais mais força, a fim de influenciar o desenvolvimento de políticas e decisões educativas em nível europeu. A EPA promove ainda, no campo da educação, uma participação ativa dos pais e o reconhecimento de sua tarefa central de principais responsáveis na educação de seus filhos.

 

A Assembleia geral da Associação Europeia de Pais, que se realizou em Roma, de 10 a 11 do corrente, deu grande destaque, entre outras coisas, aos vários métodos educativos e às boas práticas contra o cyberbullying.

 

 
- Francisco aos Sikh dos Emirados Árabes: o serviço abnegado aos pobres aproxima de Deus

O Papa recebeu uma delegação reunida em Roma por iniciativa do Guru Nanak Darbar de Dubai e agradeceu-lhes pelo serviço prestado em vários países que, "embora distantes de suas pátrias, se tornaram seus lares": "Ao servir os necessitados e sofredores, suas próprias vidas foram abençoadas e enriquecidas".

O Papa Francisco recebeu com palavras de gratidão uma delegação da Comunidade Sikh de diferentes países, reunidos em Roma por iniciativa do Guru Nanak Darbar de Dubai. Gratidão pelo serviço "inspirado pela fé" prestado em países que - disse o Pontífice em seu breve discurso - "embora distantes de suas pátrias, se tornaram seus lares".

Vidas enriquecidas

"Esse esforço atesta o vosso compromisso de viver na fé e de contribuir para o bem da sociedade, procurando integrar-vos e, ao mesmo tempo, permanecer fiéis à vossa identidade específica", disse o Papa.

Ao construir pontes entre as pessoas e, especialmente, ao servir os pobres, os necessitados e os que sofrem, vocês reconhecem as várias maneiras pelas quais suas próprias vidas foram abençoadas e enriquecidas.

Fraternidade, justiça e paz

"Fé e serviço" estão "intimamente unidos", enfatiza Francisco. O Papa cita a Sagrada Escritura do Sikh Guru Granth Sahib para lembrar que "o caminho autêntico para Deus é o serviço aos nossos irmãos e irmãs.  

O serviço altruísta, prestado especialmente àqueles entre nós que são os menores e estão nas periferias da sociedade, não apenas nos torna conscientes de nossa pequenez e insuficiência, mas também nos aproxima de Deus.

O Pontífice concluiu com o voto de que "sejam uma bênção para todos aqueles a quem servem, promovendo um espírito de fraternidade e igualdade, justiça e paz".

 

A graça do batismo, a tradição e os costumes clericais

Uma reflexão sobre as respostas do Dicastério para a Doutrina da Fé com relação à celebração do batismo e às pessoas transexuais e homossexuais

São Cipriano, bispo de Cartago, que foi martirizado em 258, participando de um sínodo de bispos africanos, observou: “A nenhum homem que venha a existir pode ser negada a misericórdia e a graça de Deus”. E Santo Agostinho escreveu: «As crianças são apresentadas para receber a graça espiritual, não tanto por aqueles que as carregam nos braços (embora também por eles, se forem bons fiéis), mas pela sociedade universal dos santos e dos fiéis... É toda a Igreja Mãe dos santos que age, pois ela como um todo gera cada um deles».

Essas são duas declarações dos Padres da Igreja que atestam a absoluta gratuidade do batismo, de alguma forma também relativizando o papel dos pais e padrinhos ("se forem bons fiéis") que pedem o sacramento e apresentam a criança. Essas são palavras que melhor do que outras iluminam a recente resposta do Dicastério para a Doutrina da Fé às perguntas de um bispo brasileiro sobre o batismo. A nota assinada pelo cardeal Victor Manuel Fernandéz e aprovada pelo Papa Francisco mostra uma clara harmonia com o recente magistério papal. De fato, Francisco tem insistido repetidamente que a porta dos sacramentos, e em particular a do batismo, não deve permanecer fechada, e que a Igreja nunca deve se transformar em uma alfândega, mas sim acolher e acompanhar todos em seus acidentados caminhos na vida.

As respostas do dicastério doutrinário, no contexto altamente polarizado que caracteriza a Igreja hoje, provocaram reações opostas, incluindo aquelas que temem que, ao admitir ao sacramento do batismo os filhos de casais homossexuais (adotados ou filhos de um dos dois parceiros, talvez gerados por gestação artificial), tanto o chamado "casamento gay" quanto a prática do chamado "útero de aluguel" se tornem moralmente lícitos. Também pode ser lida nesse sentido, novamente pelos críticos, a flexibilização da proibição de padrinhos e madrinhas de batismo, que o Dicastério apresenta de forma problemática. 

Em primeiro lugar, é interessante notar uma passagem da nota, onde se recorda que as respostas publicadas nestes dias "repropõem, em boa substância, os conteúdos fundamentais do que já foi afirmado no passado sobre este assunto por este Dicastério". A menção se refere a pronunciamentos anteriores que permaneceram em segredo (um dos quais também é citado na nota de rodapé) que remontam a este pontificado e aos de seus antecessores. Além disso, as citações iniciais dos dois Padres da Igreja propostas no início deste artigo estão contidas, juntamente com muitas outras, em um documento público da então Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, chefiada pelo cardeal croata Franjo Šeper e pelo arcebispo dominicano Jérôme Hamer. Essa foi uma instrução aprovada em outubro de 1980 por São João Paulo II, na qual ele respondeu a uma série de objeções contra a celebração do batismo infantil, reafirmando a importância de uma "prática imemorial" de origem apostólica que não deveria ser abandonada.

Para aqueles que hoje negariam o batismo aos filhos de casais homossexuais porque, ao batizá-los, a Igreja tornaria moralmente lícitas as uniões homossexuais ou a prática da barriga de aluguel, o documento de 1980 já havia, de fato, respondido indiretamente, afirmando que "a prática do batismo infantil é autenticamente evangélica, pois tem valor de testemunho; manifesta a iniciativa de Deus em relação a nós e a gratuidade de seu amor que envolve toda a nossa vida: 'Não fomos nós que amamos a Deus, mas foi Ele que nos amou... Nós o amamos, porque ele nos amou primeiro' (1 João 4: 10. 19.)". E também "no caso dos adultos, as exigências de receber o batismo não devem nos fazer esquecer que Deus 'não nos salvou por causa de obras de justiça que tivéssemos praticado, mas unicamente em virtude de sua misericórdia, median­te o batismo da regeneração e renovação, pelo Espírito Santo,' (Tito 3, 5.)".

A instrução aprovada pelo Papa Wojtyla há quarenta e três anos obviamente levou em conta a mudança do contexto social e a secularização: "Pode acontecer que pais incrédulos e que praticam apenas ocasionalmente, ou mesmo não cristãos, que por razões dignas de consideração pedem o batismo para seus filhos, solicitem aos párocos". Como se deve agir nesses casos? Permanecendo válido o critério - de ontem e de hoje - de que o batismo de crianças é celebrado se houver o compromisso de educá-las de maneira cristã, o documento de 1980 especificou a esse respeito: "Quanto às promessas, qualquer compromisso que ofereça uma esperança bem fundamentada para a educação cristã das crianças deve ser considerado suficiente". A prática atual nas paróquias atesta o fato de que, seguindo o exemplo do Nazareno, incansável em sua busca por cada ovelha perdida, é suficiente que um parente se comprometa perante a Igreja a não fechar a porta. 

Não seria necessário, hoje, acreditar mais na ação da graça que atua por meio dos sacramentos, que não são um prêmio para os perfeitos, mas um remédio para os pecadores? Não deveríamos olhar mais para as páginas do Evangelho, de onde emerge Jesus, que ama primeiro, perdoa primeiro, abraça primeiro com misericórdia, e é nesse abraço que o coração das pessoas é movido para a conversão?

E, novamente, que culpa têm as crianças? Seja como for que tenham vindo ao mundo, elas são sempre criaturas amadas e queridas de Deus. Não valeria a pena, então, concentrar-se mais no lado positivo, ou seja, no fato de que as pessoas pedem o batismo em um contexto pós-cristão, onde é cada vez mais raro que isso aconteça por mero costume?

É confortante reler as palavras que um grande bispo do século XX proferiu em uma entrevista em julho de 1978 sobre Luise Brown, a primeira criança nascida em um tubo de ensaio. Ele denunciou o risco de surgirem "fábricas de crianças" separadas do contexto familiar e explicou que compartilhava "apenas em parte" o entusiasmo pelo experimento. Mas, no final, ele ofereceu seus "mais calorosos votos à criança" e um pensamento afetuoso aos pais, dizendo: "Não tenho o direito de condená-los: subjetivamente, se eles agiram com intenção correta e de boa fé, podem até ter grande mérito diante de Deus pelo que decidiram e pediram aos médicos para realizar". Esse bispo se chamava Albino Luciani, era o Patriarca de Veneza, um mês depois se tornaria João Paulo I e hoje é beato.

Fonte: Vatican News