Política

Itamaraty foi atropelado por filhos de Bolsonaro e ala radical na ONU





O grupo do Itamaraty que tentou emplacar um tom moderado no discurso do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na ONU foi atropelado por aliados mais próximos do Palácio do Planalto, pelos filhos do presidente e pela ala mais radical.

O brasileiro abriu a Assembleia-Geral das Nações Unidas e, para a surpresa de delegações estrangeiras e mesmo para atores dentro do país, o discurso mostrou um presidente radical em seu posicionamento sobre temas como a pandemia, além da recuperação de uma clara linha ideológica e ultraconservadora.

Diplomatas envolvidos no processo de elaboração do discurso apontaram que, nas primeiras versões do texto desenhado pelo Itamaraty, o tom era diferente. A ênfase estava no multilateralismo, gestos de solidariedade, doação de vacinas e até recuperação de alianças.

Sem a presença do aliado Donald Trump, com a Europa resistente a uma aproximação com Bolsonaro, com denúncias sistemáticas feitas por relatores da ONU contra o Brasil, o Itamaraty buscava reduzir a pressão internacional.

Há duas semanas, os diplomatas tinham conseguido emplacar uma mudança de atitude de Bolsonaro na reunião dos Brics, com o presidente distribuindo afagos até mesmo para o presidente da China, Xi Jinping, um dos alvos de suas críticas nos últimos meses. Mas os elogios aos chineses não foram recebidos de forma positiva pela ala mais radical, ávida para que seus princípios fossem refletidos na política externa.

Durante a gestão de Ernesto Araújo no Itamaraty, essa linha ideológica estava garantida. Mas sua queda levou à interpretação de que a ala bolsonarista dentro da chancelaria teria perdido força. Em seu lugar, o embaixador Carlos França adotou uma postura mais próxima das linhas tradicionais do Itamaraty.

Mas o novo chanceler não foi suficiente para frear a pressão da ala mais radical. Apesar de um texto inicial mais moderado, mudanças acabaram ocorrendo nas últimas 24 horas para incluir elementos que repetem a postura do Brasil sob Araújo.

Assim, quando o presidente subiu ao púlpito mais importante da diplomacia internacional, o texto continha referências à família tradicional, combate ao socialismo e defesa do cristianismo. Ou seja, a constatação de que a política externa continua a manter uma clara linha ideológica.

Para 2022, o apoio evangélico é considerado como fundamental para que o presidente mantenha alguma esperança nas eleições. Usar termos e referências que façam acenos aos grupos era considerado estratégico.

Uma delas foi as referências ao cristianismo, causando apreensão entre entidades de direitos humanos. "O Brasil tem um presidente que acredita em Deus", disse Bolsonaro, que emendou em outro trecho indicando que defende a liberdade de culto.

Bolsonaro também anunciou que a decisão do Brasil de dar vistos humanitários para afegãos beneficiaria cristãos.

Há duas semanas, a coluna revelou com exclusividade que o governo pensava na possibilidade de estabelecer tais vistos como forma de ajudar a população local diante da chegada do Talibã. Dias depois, a decisão foi confirmada. Mas, nesta terça-feira, pela primeira vez, Bolsonaro explicou a quem tais vistos seriam destinados.

"O futuro do Afeganistão também nos causa profunda apreensão. Concederemos visto humanitário para cristãos, mulheres, crianças e juízes afegãos", afirmou.

Procuradas, altas fontes do Itamaraty explicaram que não haverá o critério com base na religião e que a referência, uma vez mais, é um aceno à base mais dura do bolsonarismo.

Poucos na ONU, inclusive, se atrevem a calcular quantos cristãos ainda existem no Afeganistão. Grupos de ajuda humanitária indicariam que eles não passariam de 10 mil pessoas, uma fração dos mais de 2,6 milhões de refugiados afegãos, 3,5 milhões de deslocados internos no país e 18 milhões de vítimas da crise humanitária.

Mas a referência explícita aos cristãos despertou a preocupação de ativistas. "Ao falar de refugiados afegãos, fez questão de destacar que acolherá cristãos, reforçando o caráter discriminatório contra as demais religiões e que em nada combina com acolhimento humanitário", diz Camila Asano, diretora de programas da Conectas.

No último dia 6 de setembro, o Itamaraty se reuniu com a Associação Nacional dos Juristas Evangélicos, entidade ligada à ministra e pastora Damares Alves.

No encontro, a presidente interina da Anajure, Edna Zilli, esteve com o Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), e o Itamaraty para "dar detalhes de solicitações de assistência em andamento no ANAJURE Refugees, além de tratar sobre demandas específicas de violações aos direitos humanos no Afeganistão".

"Nesse sentido, a Anajure já vinha se mobilizando no Brasil e no exterior, desde a tomada de poder pelo Talibã em agosto, no intuito de colaborar com várias entidades internacionais para que pessoas em situação de risco pudessem ser ajudadas", explicou a entidade num comunicado.

Essa não é a primeira vez que a ajuda a cristãos aparece na agenda do Itamaraty. Ainda sobre a gestão de Ernesto Araújo, o governo iniciou conversas com as autoridades da Hungria para ajudar em projetos que também tinham como objetivo ajudar as famílias cristãs no Oriente Médio.

Comandada por ultraconservadores, Budapeste explicou que chegou a entregar um dossiê ao Brasil sobre os projetos de cunho religioso que poderiam ser apoiados por Bolsonaro.

Família tradicional

Outro trecho que revelou a sobrevivência de uma ideologia na política foi quando Bolsonaro afirmou que a "família tradicional é o fundamento da civilização".

Nos últimos dois anos, tanto Damares como o Itamaraty traçaram alianças com governos ultraconservadores para promover nos organismos internacionais a ideia da família, um conceito manipulado para minar o movimento LGBT.

Para a Human Rights Watch, o discurso "defendeu uma ideia de família que exclui milhões de brasileiros". "Bolsonaro diminui o papel do Brasil no mundo, o colocando como defensor de ideias retrógradas que violam os direitos humanos", concluiu.

- Anvisa recomenda isolamento para integrantes da comitiva presidencial

Recomendação acontece após o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, testar positivo para Covid-19; comitiva deverá se isolar por 14 dias

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recomendou nesta quarta-feira (22) o isolamento da comitiva brasileira que acompanhou o presidente Jair Bolsonaro em viagem à Assembleia-Geral da ONU. Eles retornam ao Brasil nesta quarta. A recomendação acontece após o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, testar positivo para Covid-19.

Um ofício foi encaminhado à Casa Civil da Presidência da República. O documento pede que os integrantes da comitiva presidencial que estiveram na cidade de Nova York e mantiveram contato com Queiroga realizem isolamento de 14 dias.

A recomendação da Anvisa segue os termos do Guia de Vigilância Epidemiológica para Covid-19 do Ministério da Saúde. Queiroga, que cumprirá quarentena em Nova York, não foi o primeiro membro da comitiva a testar positivo para Covid-19.

Conforme informou a CNNum diplomata enviado para preparar a viagem de Bolsonaro à ONU também testou positivo na segunda-feira (20).

“A agência submeteu à Casa Civil considerações relativas aos regramentos vigentes e antecipou recomendação sanitária alinhadas às regras brasileiras que visam à proteção dos viajantes e da população brasileira”, diz a Anvisa em nota.

O órgão ainda estabelece uma série de regras que devem ser seguidas pela comitiva brasileira que esteve na ONU.

Veja abaixo as recomendações da Anvisa para a comitiva:

  • Desembarquem no Brasil de forma a expor o mínimo possível ambientes e pessoas;
  • Cumpram o período de isolamento de 14 dias após o último dia de contato com o caso confirmado de Covid-19, conforme o Guia de Vigilância Epidemiológica para Covid-19
  • Cumpram isolamento na cidade de desembarque no Brasil, evitando novos deslocamentos até que tenham ultrapassado o período de transmissibilidade do vírus;
  • Sejam novamente testados em solo brasileiro.

Adicionalmente, após do desembarque da comitiva brasileira, a Anvisa propõe que seja realizada a limpeza e desinfecção da aeronave conforme os protocolos de higienização.

- Eduardo Bolsonaro chama prefeito de Nova York de “marxista” em TV nos EUA

O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) afirmou que o prefeito de Nova York, Bill de Blasio, é “marxista” e criticou a política do norte-americano de exigência da vacina contra covid-19. De Blasio criticou publicamente a ida do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) à cidade.

“Mostra muito sobre como as pessoas de esquerda são. Querem controlar tudo. Sei que De Blasio é marxista e ele segue muito o que diz Antonio Gramsci”, afirmou Eduardo em entrevista à FoxNews na 3ª feira (21.set.2021). “Para eles, tudo gira em torno de política e ideologia. Não me importo muito com o que ele pensa, não perco meu tempo ouvindo-o”.

Antonio Gramsci foi um filósofo e político marxista italiano. Ele foi membro-fundador do Partido Comunista da Itália e combateu o fascismo italiano no regime de Benito Mussolini.

O ataque de Eduardo Bolsonaro contra De Blasio foi depois da fala do prefeito no dia seguinte à chegada da comitiva brasileira, da qual o deputado faz parte, Nova York para a Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas).

“Precisamos enviar uma mensagem a todos os líderes mundiais, principalmente Bolsonaro, do Brasil, que se você pretende vir aqui, você precisa estar vacinado. Se você não quer se vacinar, nem precisa vir” disse o prefeito na 2ª feira (20.set).

As regras sanitárias de Nova York exigem o comprovante de vacinação. Mas a sede da ONU é considerada um território internacional. Tecnicamente, não precisa respeitar as normas de Nova York. A organização afirmou que não poderia exigir a imunização.

O presidente Bolsonaro discursou da Assembleia Geral na 3ª feira (22.set.2021). Ele defendeu o “tratamento precoce” contra a covid-19, mesmo sem evidências científicas, e os atos pró-governo do 7 de Setembro.

Único líder do G20 não vacinado, Bolsonaro não pode entrar em bares e restaurantes de Nova York. Comeu pizza em pé, na rua, no domingo (19.set). Depois, almoçou em um puxadinho do restaurante Fogo de Chão na calçada.

À FoxNews, Eduardo Bolsonaro criticou o que chamou de “controle sobre a vida de todos”. Para ele, políticos dos Estados Unidos esqueceram a 1ª Emenda à Constituição norte-americana, que fala sobre o direito à vida, liberdade e busca da felicidade.

“Eles querem controlar a vida de todos — e no ponto em que até mesmo o Talibã pode falar coisas verdadeiras sobre liberdade de expressão para as big techs”, disse o deputado brasileiro. “Estamos com medo do que está acontecendo nos Estados Unidos”.

Eduardo comparou ainda os Estados Unidos com a Venezuela. Segundo ele, nos anos 1990 ninguém levaria a sério se as pessoas falassem que o país poderia se tornar uma ditadura, que foi como o deputado classificou o país sul-americano. “Tenho um conselho para o povo norte-americano. Não pense que a Venezuela está longe de você”.

Fonte: UOL - Poder360 - CNN Brasil