Política

Bolsonaro perdeu a chance de ser herói na pandemia, diz Temer





O ex-presidente Michel Temer (MDB) afirmou  que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) perdeu a chance de ser um “herói” no enfrentamento à pandemia de covid-19 no Brasil.

Para o emedebista, Bolsonaro deveria ter centralizado o poder e reunido governadores e autoridades dos Três Poderes para uma “união” nacional, podendo ser exemplo nacional e internacionalmente.

“Se ao começo da pandemia, ele [Bolsonaro] tivesse assumido, e até mesmo centralizado o controle –reunindo os 27 governadores, os presidentes dos Poderes e até a oposição, comprando vacinas– hoje ele seria um verdadeiro herói”, afirmou Temer em entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura.

Mesmo com as críticas ao combate à pandemia, Temer avalia não haver motivos que justifiquem um possível impeachment de Bolsonaro. Diz que “todos deveriam trabalhar pela paz”.

“Se me perguntasse um ano atrás talvez eu dissesse: ‘Olha, talvez fosse o caso de começar um impedimento’. Mas, neste momento, eu acho um pouco inconveniente”, disse. Para Temer, processos de deposição de presidentes “viraram moda no Brasil”. 

DECLARAÇÃO À NAÇÃO DE BOLSONARO

O ex-presidente disse ter auxiliado Bolsonaro a escrever a carta com aceno ao Congresso e ao STF depois dos protestos do 7 de Setembro por avaliar o momento como “delicado” –com iminência de uma possível greve dos caminhoneiros.

Segundo o emedebista, o chefe do Executivo reconheceu ter se “excedido” nos ataques e disse querer trilhar um “caminho de tranquilidade”. Temer, então, ligou para o ministro Alexandre de Moraes, um dos principais alvos de Bolsonaro no discurso do Dia da Independência. O magistrado, segundo Temer, afirmou “não ter nada contra” Bolsonaro. “Eu decido juridicamente”, teria dito.

Por fim, Temer avalia que o saldo com a divulgação da carta foi positivo. “Espero que perdure. Se perdurar, não me arrependo”.

O ex-presidente Michel Temer participa nesta 2ª feira (27.set) do programa Roda Viva, da TV Cultura Reprodução/TV Cultura – 27.set.2021

GOVERNO BOLSONARO

Temer afirmou ter “sido levado” a votar no atual chefe do Executivo e disse que Bolsonaro “deu sequência” a seu governo.

“Tomo muito cuidado em falar mal do governo. Posso ter objeção desta ou daquela natureza. Mas nunca com o sentimento oposicionista, de quem quer criar problemas. Não faz parte do meu temperamento”, disse.

PRISÃO EM 2019

O ex-presidente disse ter sido “sequestrado pelo poder público” quando, em março e maio de 2019, foi preso preventivamente pela força-tarefa da operação Lava Jato. Definiu as medidas como uma “indignidade jurídica absoluta”.

Segundo Temer, a percepção da população foi de “indignação“. O emedebista afirma ser “cumprimentado“, “fotografado” e “aplaudido” em restaurantes e supermercados.

A prisão foi decretada em investigação da operação Descontaminação, desdobramento da operação Radioatividade, que investiga desvios nas obras da Usina Nuclear de Angra 3.

O caso tem como base a colaboração premiada do empresário José Antunes Sobrinho, dono da empreiteira Engevix. No depoimento, Sobrinho mencionou pagamentos indevidos de R$ 1 milhão em 2014.

- Temer rebate Bolsonaro e diz que foi presidente quem ligou após atos do 7/9

O ex-presidente Michel Temer (MDB) desmentiu uma declaração que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) deu em entrevista à revista "Veja", sobre quem ligou para quem no início de setembro — o encontro entre eles resultou em carta aberta na qual o atual chefe do Executivo declara o seu respeito às instituições brasileiras, dois dias após um discurso golpista no 7 de Setembro.

À publicação, Bolsonaro disse que a iniciativa do telefonema partiu "do Temer". A versão, porém, não foi confirmada pelo emedebista.

"Eu li a entrevista [dada pelo presidente a] 'Veja' e, em dado momento, ele diz que 'houve o telefonema do Temer' (...) Quando chegou na quarta-feira, dia 8, eu fixei bem o horário, o presidente me ligou. Eu não falava com ele há uns 8 ou 9 meses. E ele me disse: 'e aí presidente, o que achou do movimento de ontem [7 de setembro]?", relatou Temer, durante entrevista ao programa "Roda Viva", da TV Cultura.

"[Eu acho que o saldo do encontro] foi positivo, porque, nos dias seguintes, em uma reunião que ele fez, em uma solenidade, ele produziu uma frase muito significativa: 'Legislativo, Executivo e Judiciário formam um corpo só, governam juntos'. Então foi um passo estupendo. Mesmo na entrevista à 'Veja', ele amenizou muito a situação", completou.

O passo atrás dado por Bolsonaro aconteceu após o envolvimento direto do ex-presidente Michel Temer, acionado pelo Planalto numa tentativa de debelar a crise institucional com o STF (Supremo Tribunal Federal) e o Congresso Nacional. Antes da divulgação de nota, Bolsonaro conversou por telefone com o ministro do Supremo Alexandre de Moraes — a ligação também foi mediada pelo ex-presidente.

A conversa entre Bolsonaro e Moraes, que foi chamado de canalha pelo presidente na manifestação de terça, foi "rápida, institucional, simplesmente educada". Não houve pedido de desculpas, segundo UOL apurou. Moraes foi indicado por Temer ao STF em 2018, após ter comandado o Ministério da Justiça no governo do emedebista, de quem é amigo há duas décadas.

Intitulada "Declaração à Nação", a nota oficial do governo Bolsonaro foi divulgada após o encontro de Bolsonaro com Temer em Brasília — segundo a assessoria do ex-presidente, ele ajudou a redigir o documento e foi para Brasília em um avião da FAB enviado a São Paulo para buscá-lo.

'Não pensei em salvar Bolsonaro de impeachment'

Durante a entrevista ao "Roda Viva", Temer disse ainda que sentiu um clima muito negativo na semana do 7 de Setembro, mas ressaltou que nem pensou na história do impeachment ao combinar encontro com presidente.

"Senti um clima muito negativo no país. Evidentemente, em face a provocação do presidente, eu não poderia me omitir. Vi, naquele momento, uma oportunidade de 'distensionar' as questões todas", disse Temer. "Eu não me arrependo minimamente do que fiz. Nem estava no meu projeto. Não pensei [em 'salvar' Bolsonaro de impeachment]. Eu pensei em distensionar o país".

Fonte: Poder360 - UOL