Política

Renan diz que vazamento de relatório da CPI 'foi bom', pois 'debate deve ser público'





Senador afirma que foi contra a publicidade antecipada do texto, mas que ela teve a utilidade de dar transparência às discussões

O senador Renan Calheiros (MDB-AL) diz que é "contra o vazamento das minutas do relatório da CPI da Covid", mas afirma que ele serviu para dar transparência aos trabalhos na reta final da comissão.

O parlamentar, que é o relator da CPI, afirma que não divulgou as informações, publicadas em diversos veículos.

"Fui contra. Mas, já que vazou, acabou sendo bom. O debate tem que ser público. Cada um [senador] deve dizer o que defende", afirma.

Senadores ficaram contrariados com a publicidade do relatório, que ainda não foi aprovado na comissão. Alguns deles acreditam que o vazamento foi proposital e que constrangeu parlamentares a apoiarem medidas que Renan Calheiros quer tomar contra o presidente Jair Bolsonaro.

O relator já afirmou que deve sugerir o indiciamento do mandatário por pelo menos 11 crimes.

Em agosto, a coluna revelou que a CPI sugeriria o enquadramento de Bolsonaro nos crimes de charlatanismo, curandeirismo, de epidemia e de publicidade enganosa.

Revelou também que a possibilidade de enquadramento de Bolsonaro no crime de genocídio contra a população indígena dividia a CPI.

Outros temas que não têm consenso são a sugestão de indiciamento dos filhos do presidente por disseminação de fake news, e a citação do general Braga Netto, ministro da Defesa, no relatório.

Nesta segunda (18), o senador Omar Aziz, que preside a comissão, afirmou que Renan Calheiros não é "o dono da verdade".

Renan diz que, de fato, "a verdade estará sempre com a maioria da CPI" e que o relatório não expressará suas convicções pessoais.

"O meu papel é fazer a fusão de tudo o que os senadores pensam", afirma.

Ele diz que até agora não foi comunicado por Omar Aziz sobre quais são as divergências do presidente da CPI com suas ideias, mas que está aberto para debater com todos os que participam da comissão.

- DIVIDIDOS, SENADORES BUSCAM ACORDO PARA APROVAR RELATÓRIO DE RENAN

Os senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e Humberto Costa (PT-PE)consideram que as divergências com o relator da CPI da CovidRenan Calheiros (MDB-AL), não justificam um rompimento entre os membros do G7, grupo de senadores de oposição a Jair Bolsonaro na comissão. Para os dois, a urgência em garantir os resultados esperados pela CPI torna necessária a preservação da união entre seus membros.

Divergências sobre os tipos penais presentes no relatório ou sobre as pessoas indiciadas já eram esperadas, conta Randolfe Rodrigues. “O relatório, salvo menor juízo, possui cerca de 1,2 mil páginas. Sobre essas 1,2 mil páginas, um colega ou outro apresentou divergências sobre tipos penais ou sobre indiciamentos. São motivos que nós vamos pacificar”, explica.

A ideia de rompimento no G7 não é aceitável na visão do senador. “Não pode haver. [Sobre] Algo que foi construído sobre o cimento da memória de mais de 600mil compatriotas que perderam a vida, (…) algo que foi construído sobre essa enorme tragédia que assolou os brasileiros. Nós não temos esse direito. Incômodos, chateações, não há problema. Incômodo sobre não ter acesso é legítimo. Mas se dividir na votação final, dar a esse momento a chancela a aqueles que vão ser indiciados, é inaceitável”.

Humberto Costa, um dos senadores incomodados com o vazamento de partes do relatório de Renan Calheiros, concorda com a necessidade de manter a união na reta final dos trabalhos. “Tudo que o Brasil não deseja, não espera e não aceita é que essa CPI, depois de ter dado uma construção histórica, fundamental para o país, termine em uma disputa de vaidades. (…) Por isso, suponho que teremos a maturidade necessária para encontrar um texto que represente o pensamento da maioria da CPI”.

As divergências entre o relator e o G7 começaram após o vazamento de parte do relatório de Calheiros. Para os senadores, isso representou indisposição do relator em dialogar com os demais membros da CPI sobre aspectos ainda que causam divergência, como número de indiciados e os tipos penais citados. Uma reunião está prevista para acontecer nesta segunda-feira (18) a fim de pacificar a questão.

Fonte: Folha - Congresso em Foco