Cultura

Papa: pedir a graça da esperança para superar os desertos do mundo





Cerca de dois mil fiéis participaram da primeira e única missa que Francisco preside em sua visita à Grécia. "Ter autoridade, ser cultos e famosos não constituem garantias para agradar a Deus. Ao invés, João prega no deserto, o que constitui para nós uma mensagem encorajadora."

Bianca Fraccalvieri – Vatican News

Os fiéis de Atenas se uniram a seu pastor na celebração eucarística esta tarde no “Megaron Concert Hall” – a única missa pública presidida pelo Papa na Grécia. Na homilia, Francisco comentou o Evangelho deste II Domingo do Advento, que apresenta a figura de São João Batista.

Desertos existenciais

O Pontífice ressaltou dois aspectos desta mensagem: deserto e conversão. O evangelista Lucas fala de circunstâncias solenes e de grandes personagens da época e se esperava que a Palavra de Deus se dirigisse a um deles, mas não. Passa-se inesperadamente para o deserto, para um homem desconhecido e solitário. De fato, acrescentou o Papa, ter autoridade, ser cultos e famosos não constituem garantias para agradar a Deus. Ao invés, João prega no deserto, o que constitui para nós uma mensagem encorajadora:

“Agora como então, Deus volta o seu olhar para onde dominam tristeza e solidão. Podemos experimentá-lo na vida: com frequência Ele não consegue tocar-nos enquanto estamos no meio dos aplausos e só pensamos em nós mesmos; alcança-nos sobretudo nas horas da provação.”

É nos nossos desertos existenciais que Ele nos visita, quando as situações parecem irresgatáveis, sem saída. “Assim, não há lugar que Deus não queira visitar.”

“Portanto, caríssimos, não temais a pequenez, porque a questão não é ser pequenos e poucos, mas abrir-se a Deus e aos outros.”

Ir além, porque Deus é maior

O segundo aspecto é a conversão. Falar de conversão, disse Francisco, pode parecer difícil e gerar tristeza, como se fosse fruto somente do nosso empenho. Pode-se sentir frustrado em querer mudar, mas não conseguir. Mas em grego, o verbo converter tem outro significado, que é precisamente “pensar além”.

Isto é, ir além do nosso eu e da nossa pretensão de autossuficiência. “Deus é maior”, recordou o Papa:

“Então converter-se significa não dar ouvidos ao que enterra a esperança, a quem repete que nada mudará jamais na vida; é recusar-se a acreditar que estamos destinados a afundar nas areias movediças da mediocridade.”

Pelo contrário, é preciso confiar Nele, porque é Deus o nosso além, a nossa força. Tudo muda se deixarmos a Ele o primeiro lugar.

“Eis a conversão: ao Senhor, basta a nossa porta aberta para entrar e fazer maravilhas, assim como Lhe bastaram um deserto e as palavras de João para vir ao mundo.”

O Pontífice conclui convidando os fiéis a pedirem a graça da esperança, a graça de acreditar que, com Deus, as coisas mudam.

“Peçamos a graça da esperança, porque é a esperança que reanima a fé e reacende a caridade; porque é de esperança que hoje estão sequiosos os desertos do mundo.”

Deixo a Grécia, mas não os gregos!

No final da celebração, o Papa quis manifestar sua gratidão a todos os que prepararam a visita, pois na segunda-feira, o Pontífice volta ao Vaticano.

"Amanhã deixarei a Grécia", disse o Papa, mas não os gregos. "Levar-vos-ei comigo na memória e na oração." 

 

- O Papa a Ieronymos: continuemos juntos neste caminho de fraternidade e paz

Visita de cortesia do arcebispo ortodoxo de Atenas a Francisco na Nunciatura Apostólica. Ao final do encontro, com os respectivos séquitos presentes, os dois escreveram breves frases no Livro de Honra. Ieronymos II chamou o Papa de "Santíssimo Irmão de Roma" e o Pontífice agradeceu a ele pela "bondade fraterna, mansidão e paciência".

Alessandro Di Bussolo - Cidade do Vaticano

Meia hora de encontro na Nunciatura Apostólica de Atenas, a casa do Papa Francisco nos seus dias na Grécia, com os respectivos séquitos na sala. A visita de cortesia do arcebispo ortodoxo de Atenas, Sua Beatitude Ieronymos II, a Francisco, começa às 18h50, hora local, 10 minutos antes do previsto, informa a Sala de Imprensa da Santa Sé em nota e termina às 19h20. Durante o encontro, o Papa e o arcebispo assinam o Livro de Honra, escrevendo frases curtas que testemunham a cordialidade e a proximidade fraterna entre eles.

Ieronymos: obrigado "Santíssimo Irmão de Roma" 

Em primeiro lugar escreve Ieronymos, chamando o Pontífice de "Santíssimo Irmão de Roma": "Esta noite, 5 de dezembro de 2021, festa de San Saba, a minha comitiva e eu viemos agradecer ao Pontífice e Santíssimo Irmão de Roma, Francisco, pela sua visita na Grécia. Saudamo-lo e desejamos-lhe uma boa viagem. O Santo Deus nos abençoe."

O Papa: "O Senhor abençoe nossas duas Igrejas irmãs"

Depois é a vez do Papa Francisco, que agradece a “o amado irmão” pela bondade fraterna, mansidão, paciência. Este é o texto: “Com alegria e paz encontro meu querido irmão Ieronymous II. Agradeço-lhe a sua bondade fraterna, a sua mansidão, a sua paciência. Que o Senhor nos dê a graça de continuarmos juntos neste caminho de fraternidade e paz. Agradeço a Sua Beatitude Ieronymous II por sua generosidade em nos ajudar a caminhar juntos. O Senhor abençoe nossas duas Igrejas irmãs e a Santa Mãe de Deus nos ajude.”

A troca de presentes

Por fim, o Papa e seu convidado trocaram presentes. O arcebispo de Atenas deu a Francisco dois volumes, um sobre a dolorosa história dos gregos da Ásia Menor no início do século XX e outro sobre os mortos da revolução grega. Além disso, a pedido de um sacerdote, levou ao Papa uma imagem de Nossa Senhora com o Menino Jesus.

O Pontífice, por sua vez, ofereceu a Ieronymos a medalha de viagem e o livro sobre a Statio Orbis de 27 de março de 2020, a histórica oração na Praça de São Pedro no momento mais dramático da pandemia, elaborado pela Livraria Editora Vaticana.

Fonte: Vatican News