Política

Parlamento da Finlândia aprova pedido de adesão à Otan; Suécia assina carta





Após dois dias de debates, o Parlamento da Finlândia aprovou hoje a proposta do governo para que o país se candidate a entrar na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). O governo formalizou a intenção de entrar na aliança militar no domingo (15), mas precisava da aprovação do legislativo finlandês.

Também nesta terça, a ministra sueca das Relações Exteriores, Ann Linde, assinou a carta em que o país irá solicitar para a adesão à Otan. O pedido, porém, deverá ser encaminhado à aliança militar junto com a Finlândia, país vizinho.

Para ingressar na organização, os dois países precisam da aprovação unânime dos Estados-membros, e o único a se opor publicamente é a Turquia, que acusa ambos de dar abrigo a supostos "terroristas" curdos. No entanto, os outros integrantes da aliança já se mostraram confiantes de que podem convencer o governo turco a não vetar Finlândia e Suécia.

O movimento é decorrente da guerra russa no território ucraniano, que hoje entrou em seu 83º dia. A Ucrânia sofreu ataques em uma cidade a 75 quilômetros de Kiev, capital do país, e na região de Lviv, ao oeste, já perto da fronteira com a Polônia.

E, no momento em que Finlândia e Suécia dão andamento ao processo para ingresso na Otan, a Rússia decidiu sair do Conselho dos Estados do Mar Báltico. Do grupo, com 11 Estados-membro, apenas Finlândia, Suécia e Rússia não integram a Otan, quadro que agora deve mudar.

Segundo o ministro russo das Relações Exteriores, Sergey Lavrov, a organização se tornou um "instrumento de políticas" contra Moscou e de "russofobia". "Nossa presença no CBSS é contraproducente", acrescentou.

Finlândia aprova

O Parlamento finlandês autorizou o pedido do governo para que o país entre na Otan após a Comissão de Assuntos Externos ter indicado hoje que aprova a entrada na aliança militar, ao dizer que "a situação [na Ucrânia] exige medidas para reforçar a segurança da Finlândia".

"A política externa de longa data da Rússia, baseada na força militar, e o objetivo declarado de uma estrutura de segurança baseada na divisão de interesses na Europa, ganhou uma nova dimensão com o lançamento da guerra de agressão contra a Ucrânia", destacou a comissão.

Foram 188 votos a favor da aprovação do relatório da comissão, com oito votos contrários. "O Parlamento também exige que receba informações atualizadas sobre o andamento do pedido de adesão", disse a área de comunicação do legislativo finlandês, citando uma demanda que estava no relatório do comissão.

O texto da comissão indicou que, na Otan, "o efeito preventivo da defesa da Finlândia seria consideravelmente maior do que atualmente, pois seria respaldado pelas atuações de toda a aliança".

"No contexto de uma significativa deterioração da segurança, considerada de longa duração, a Comissão considera importante para este efeito a confirmação da adesão à Otan. Das opções que aumentam a segurança, a adesão à Otan oferece uma forte proteção adicional para a segurança da Finlândia devido ao seu efeito de dissuasão militar", disse o relatório. "É uma solução que reforça a defesa da Finlândia e a defesa coletiva da Otan."

O relatório também rejeita a possibilidade de presença de bases da aliança militar ou de armas nucleares na Finlândia, umas das preocupações da Rússia. "A comissão afirma que é extremamente improvável que a Otan sequer proponha ou considere investir em armas nucleares na Finlândia", disse o texto, indicando que a aliança militar "visa um mundo livre de armas nucleares".

Carta "histórica" na Suécia

"Acabei de assinar uma histórica carta de indicação do governo sueco para o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg. Nossa candidatura à Otan está agora oficialmente assinada", disse a ministra das Relações Exteriores do país, Ann Linde.

Segundo a chanceler, a candidatura sueca deve ser enviada junto com a da Finlândia nos próximos dias. "Não sabemos quanto vai durar [o processo de adesão], mas calculamos que pode levar até um ano", acrescentou a ministra.

A Suécia quer entrar na aliança militar para "garantir a segurança do povo sueco", como disse a primeira-ministra, Magdalena Andersson.

Suécia e Finlândia são integrantes da União Europeia, mas historicamente se mantiveram neutros entre o Ocidente e a Rússia. No entanto, a invasão à Ucrânia os fez repensar seu status de neutralidade, principalmente a Finlândia, que compartilha 1,3 mil quilômetros de fronteira com o território russo. A Suécia vinha se mostrando mais reticente, porém a adesão finlandesa a tornaria o único país do Mar Báltico fora da Otan.

Ataques

Yavoriv, a cerca de 25 quilômetros do território polonês, teve um ataque contra a infraestrutura ferroviária, disse o chefe da administração militar de Lviv, Maksym Kozytsky. Não há relato de feridos. O Ministério da Defesa da Rússia confirmou o ataque, feito com mísseis Kalibr.

Segundo a Rússia, no ataque, foram atingidos "carregamentos de armas estrangeiras e equipamentos militares dos Estados Unidos e países europeus, preparado para embarque para Donbass", área separatista no leste, principal foco da guerra russa neste momento.

Kozytsky disse ainda que um segundo ataque foi impedido, com três mísseis foram abatidos. Segundo ele, os disparos contra a área viriam do Mar Negro.

Já na região de Chernihiv, norte do país, a cidade de Desna, que fica a 75 quilômetros de Kiev, foi atingida por mísseis. As autoridades regionais citaram mortos e feridos em decorrência do ataque, mas não informaram os números. A Rússia confirmou o ataque.

"Isso prova mais uma vez que eu digo constantemente: a guerra não acabou, a guerra não saiu da região de Chernihiv, a guerra não saiu das nossas cidades", disse o governador da região de Chernihiv, Vyacheslav Chaus.

Outra fronteira

O Ministério da Defesa da Ucrânia, em seu relatório de hoje, disse que as forças russas também fizeram um ataque na fronteira na região de Sumy, nordeste do país, já perto da Rússia. Os militares russos confirmaram o ataque.

Já em Kharkiv, região em que está a segunda maior cidade do país, a Defesa ucraniana apontou que "os principais esforços do inimigo se concentram em manter suas posições e impedir o avanço de nossas tropas".

Azovstal

O Ministério da Defesa da Rússia disse que 265 combatentes ucranianos já deixaram o complexo Azovstal, que era o último ponto de resistência em Mariupol, cidade portuária no sudeste da Ucrânia. Entre eles, 51 estavam "gravemente feridos".

Segundo a Rússia, eles foram encaminhados para Novoazovsk, também na região de Donetsk, a cerca de 45 quilômetros de Mariupol. Novoazovsk fica em área de separatistas pró-Rússia.

O governo ucraniano disse hoje que, após os feridos terminarem a recuperação, espera fazer uma troca de prisioneiros russos por eles.

Acredita-se que cerca de 600 soldados ainda estejam em Azovstal. O complexo tornou-se um símbolo de resistência, com centenas de combatentes entrincheirados em túneis subterrâneos e bunkers travando uma batalha de resistência para impedir que as tropas russas assumissem o controle total da cidade portuária, sitiada desde o início da guerra.

O Exército ucraniano disse que a defesa de Azovstal atrasou a transferência de 20 mil soldados russos para outras partes da Ucrânia e impediu Moscou de capturar a cidade de Zaporizhzhia.

"A guarnição 'Mariupol' cumpriu sua missão de combate", disse o Estado-Maior das Forças Armadas da Ucrânia em comunicado, acrescentando que os comandantes do unidades em Azovstal receberam ordens para salvar a vida dos soldados restantes. "Os defensores de Mariupol são os heróis do nosso tempo", acrescentou.

Guerra e paz

O porta-voz do governo russo, Dmitry Peskov, disse hoje que "qualquer guerra termina em paz", segundo citação agência russa RIA Novosti. "Estou convencido de que qualquer guerra termina em paz, e este mundo será um mundo onde nossa voz será ouvida, onde estaremos confortáveis, onde estaremos seguros e onde estaremos confiantes sobre nossos próprios pés."

A declaração feita durante um evento nesta terça, no qual Peskov disse que os países ocidentais tentam isolar a Rússia do mundo. "Esta é uma guerra econômica". Ele também falou que avalia que o Ocidente estaria pronto para impedir a Rússia de viver da maneira que deseja.

"Às vezes, parece que a própria existência da Rússia é um irritante significativo para o Ocidente, e eles estão prontos para fazer qualquer coisa para nos impedir de desenvolver o que queremos e viver do jeito que queremos", disse, segundo a agência russa Tass. Para o porta-voz, "tudo vai ficar bem". "E estamos confiantes de que vamos vencer, vamos atingir todos os objetivos."

Negociações

O vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Andrey Rudenko, afirmou que a Ucrânia "se retirou" das negociações com Moscou. Citado pela agência russa "Interfax", Rudenko declarou que, desta maneira, as negociações entre os dois países não vão acontecer." A Ucrânia praticamente se retirou do processo de negociação. As negociações não vão prosseguir", disse.

 

- Chanceler russo diz que adesão de Suécia e Finlândia à Otan “não faz grande diferença”

Sergei Lavrov disse que os dois países já participam há muito tempo de exercícios militares da aliança

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, disse nesta terça-feira (17) que a adesão de Finlândia e Suécia à Otan provavelmente “não fará muita diferença”, já que os dois países participam há muito tempo dos exercícios militares da aliança.

“Finlândia e Suécia, assim como outros países neutros, participam de exercícios militares da Otan há muitos anos”, disse Lavrov.

“A Otan leva em consideração seu território ao planejar avanços militares para o leste. Então, nesse sentido, provavelmente não há muita diferença. Vamos ver como seu território é usado na prática na aliança do Atlântico Norte.”

Os governos dos dois países nórdicos deram passos oficiais em direção à aliança militar liderada pelos Estados Unidos nos últimos dias. O parlamentofinlandês deve votar pelo pedido ou não de entrada na Otan nesta terça-feira (17).

A Suécia assinou também nesta terça o pedido formal de adesão ao bloco. A primeira-ministra da Suécia, Magdalena Andersson, disse na segunda-feira (16) que o país deveria se unir à Otan junto com a vizinha Finlândia para “garantir a segurança do povo sueco.”

Mas o caminho pode não ser tão fácil para os dois países, já que o presidente turco, Tayyip Erdogan, manifestou-se contra a entrada de Suécia e Finlândia na aliança de qual faz parte e promete barrar a indicação. Segundo Erdogan, ambos abrigam organizações terroristas.

O presidente Vladimir Putin alertou que seu país responderá caso a Otan reforce militarmente os dois países. Para o russo, a ampliação da aliança está sendo usada pelos Estados Unidos de maneira “agressiva” para agravar uma situação de segurança global.

Durante uma reunião da Organização do Tratado de Segurança Coletiva (CSTO), o presidente de Belarus pediu que os países que compõem o bloco se unam contra o Ocidente e sua “pressão no espaço pós-soviético”.

 

Ucrânia diz que combate na usina siderúrgica de Mariupol acabou

Forças da Ucrânia afirmaram hoje (17) ter encerrado uma operação de combate visando defender uma usina siderúrgica localizada na estratégica cidade portuária de Mariupol.

Tropas da Rússia exortaram repetidamente as forças da Ucrânia para que se rendessem e deixassem o sitiado complexo de Azovstal, em meio à intensificação dos combates pelo controle do leste ucraniano. Contudo, as forças da Ucrânia continuaram defendendo seu último reduto na cidade.

O Estado-Maior das Forças Armadas da Ucrânia emitiu uma declaração. O documento diz: “a guarnição de Mariupol cumpriu sua missão de combate”. A afirmação se referia às tropas posicionadas na usina siderúrgica. Disse ainda que o comando supremo havia ordenado que as unidades salvassem a vida dos soldados.

Feridos graves

O presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy divulgou uma mensagem em vídeo. Segundo ele, teve início uma operação para salvar os defensores. “Há feridos graves entre os soldados. A Ucrânia precisa de heróis ucranianos vivos”, declarou.

Já a vice-ministra da Defesa Anna Malyar declarou que 53 soldados gravemente feridos foram levados da usina siderúrgica até um hospital situado em uma cidade controlada pelos russos na região de Donetsk. Ela disse que outros 211 soldados foram evacuados até uma cidade diferente, também sob controle dos russos, através de um corredor humanitário.

Malyar acrescentou que os evacuados podem fazer parte de um futuro acordo de troca de prisioneiros com a Rússia.

 

- Zelenski discursa no Festival de Cannes, pede glória à Ucrânia e é ovacionado

 

Direto de Kiev, presidente do país relembrou origem antifascista do evento e citou 'O Grande Ditador', de Charlie Chaplin

 

Numa aparição-surpresa, o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski falou ao vivo de Kiev na abertura do Festival de Cannes, na noite de terça-feira. O vídeo foi transmitido antes da estreia mundial de "Coupez!", de Michel Hazanavicius, numa sessão de gala que contou com a presença de celebridades como os atores Édgar Ramírez, Julianne Moore, Rossy de Palma, Nicolaj Coster Waldau e Valeria Golino.

 

"No dia 24 de fevereiro a Rússia começou uma guerra de grandes proporções contra a Ucrânia", disse Zelenski. "O cinema não deve se calar. Todos os dias, nós encontramos valas comuns. Eles só matam, matam, matam. Vocês viram Butcha, vocês viram Mariupol. O inferno não é o inferno, a guerra é pior. A responsabilidade é de uma só pessoa", disse, sem citar Vladimir Putin. "Glória à Ucrânia", pediu ele.

 

Lembrando "O Grande Ditador", clássico feito no calor da Segunda Guerra e que desanca a figura de Hitler, Zelenski afirmou que "precisamos de um novo Chaplin, que mostre que o cinema não está mudo".

 

A fala-surpresa do líder ucraniano coroou aquilo que deve dar o mote da 75ª edição da mais importante mostra de cinema do mundo e um dos principais eventos de cultura da Europa –a sombra da invasão russa no país vizinho, que mergulhou o continente num conflito de escalas que por aqui não eram vistas desde a Segunda Guerra Mundial.

 

Não por acaso, o próprio festival nasceu em 1946, numa Europa arrasada pelos escombros, como fruto de uma ideia que havia germinado anos antes, a de ser uma resposta, no campo da cultura, à influência das ditaduras nazifascistas de Hitler e Mussolini.

 

"Poderíamos pensar que o mundo inteiro havia compreendido que é possível conquistar as pessoas pela beleza diante de uma tela, não pelos ataques aéreos", acrescentou Zelenski, rememorando essa origem de Cannes nos anos 1940. "Mas, de novo, como naquela época, há um ditador. Novamente há uma guerra pela liberdade. Nós vamos continuar lutando, não temos escolha. Eu estou convencido de que o ditador vai perder."

 

"Não se desesperem, o ódio vai desaparecer e os ditadores morrerão", concluiu. "Nós precisamos do cinema, que vai assegurar esse fim, porque, toda vez, ele está do lado da liberdade."

 

Fonte: Agência Brasil - CNN Brasil - UOL - DW - Ansa - AFP - Reuters - Folha