Cultura

'Covid não é obra de um Deus implacável', diz Papa em mensagem lida em celebrações





Apesar de não presidir as celebrações "Primi Vespri" e não recitar o hino de ação de graças Te Deum nesta quinta-feira (31), por conta de uma crise de dor no nervo ciático, o papa Francisco enviou uma mensagem para ser lida no altar da Cátedra da Basílica Vaticana.

No texto, recitado pelo cardeal Giovanni Battista Re, decano do Colégio de Cardeais, durante a homilia da cerimônia, o Pontífice afirma que a pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2) "não é obra de um Deus cínico e implacável" e agradece pelo ano de 2020, apesar de "parecer forçado".

"Às vezes alguém pergunta: 'qual é o significado de um drama como este?' Mas não devemos ter pressa em responder", diz Francisco. "Aos nossos mais angustiantes 'porquês', nem mesmo Deus responde recorrendo a razões superiores".

Segundo o líder da Igreja Católica, "um Deus que sacrificou seres humanos por um grande plano, mesmo o melhor possível, certamente não é o Deus que nos revelou Jesus Cristo".

"Deus é pai, pai eterno, e se seu filho tornou-se homem, é por imensa compaixão do coração do pai. Deus é pastor e qual pastor daria pelo menos uma ovelha, pensando que, entretanto, lhe restam muitas outras?", questionou. "Não, este Deus cínico e implacável não existe. Este não é o Deus que louvamos e proclamamos Senhor", respondeu o argentino.

A pandemia do novo coronavírus dizimou milhares de vidas em todo o mundo durante o ano de 2020. No dia 27 de março, inclusive, o Papa deu sua bênção extraordinária "Urbi et Orbi" e concedeu indulgência plenária - ou seja, o perdão dos pecados - para os católicos e para toda a humanidade.

"Talvez possamos encontrar um 'sentido' deste drama que é a pandemia, bem como de outros flagelos que atingem a humanidade: o de despertar em nós compaixão e provocar atitudes e gestos de proximidade, cuidado, solidariedade, diálogo", enfatizou o Santo Padre na mensagem.

Francisco ainda fez uma oração de agradecimento pelo ano que está chegando ao fim e "pelas coisas boas que aconteceram durante o lockdown, especialmente em Roma, e em geral, na época da pandemia, que infelizmente ainda não acabou".

De acordo com Jorge Bergoglio, "há muitas pessoas que, sem fazer barulho, tentaram tornar mais suportável o peso do julgamento".

"Com o seu empenho cotidiano, animados pelo amor ao próximo, concretizaram aquelas palavras do hino Te Deum: 'Todos os dias te bendizemos, louvamos o teu nome para sempre'. Porque a bênção e louvor a esse Deus é amor fraternal".

Por fim, o Pontífice fez um novo agradecimento aos profissionais de saúde - médicos, enfermeiros, voluntários -, que estão na linha de frente na luta contra a covid-19, assim como os padres e religiosos que se empenharam com generosidade e dedicação neste período.

"Esta noite o nosso agradecimento estende-se a quantos se esforçaram todos os dias para dar conta de suas famílias da melhor maneira possível e a quantos se empenham no seu serviço ao bem comum", ressaltou.

O Papa citou ainda os gestores públicos que sabem valorizar todos os bons recursos presentes na cidade e no território, que estão desvinculados dos interesses privados e também do seu partido, porque procuram verdadeiramente o bem de todos, o bem comum, a começar pelos mais desfavorecidos.

Apesar da ausência do religioso, a celebração desta quinta-feira (31) contou com a presença da prefeita de Roma, Virginia Raggi, e dos ministros dos Assuntos Regionais, Francesco Boccia, e do Esporte, Vincenzo Spadafora.

Fonte: UOL