Economia

Dólar, risco-país e juros futuros sobem após Bolsonaro falar sobre prorrogação do auxílio





Presidente disse nesta segunda (8) que benefício deve ser retomado

No domingo (7), a Folha revelou que o Ministério da Economia prepara uma proposta que libera três parcelas de R$ 200, com foco nos trabalhadores informais não atendidos pelo Bolsa Família.

Nesta terça, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que há muito pouco ou nenhum espaço para o auxílio sem algum tipo de contrapartida por causa da deterioração do quadro fiscal do país.

"Dólar e taxas longas de juros ficam pressionados por conta do temor advindo do debate sobre o retorno do auxílio. As contrapartidas desse novo auxílio ainda não foram apresentadas", diz Simone Passianotto, economista-chefe da Reag Investimentos.

O dólar chegou a subir para R$ 5,4470, mas reduziu ganhos após leilão de 20 mil contratos de swap cambial (US$ 1 bilhão) feito pelo Banco Central.

Esta foi a maior oferta de liquidez feita pelo BC em nove meses, feita em dois leilões. No primeiro, anunciado 14h11, foram vendidos 14.300 contratos de uma oferta de até 20 mil contratos.

O BC, então, anunciou às 14h57 a segunda operação do dia, disponibilizando os demais 5.700 contratos, que posteriormente foram colocados integralmente no mercado.

Uma oferta líquida de swaps cambiais tradicionais não era feita desde 11 de janeiro, quando o BC leiloou 10 mil contratos (US$ 500 milhões).

O primeiro leilão de swap desta terça, com lote de 20 mil papéis, foi o maior desde 14 de maio do ano passado, quando o BC disponibilizou a mesma quantia de contratos, num período em que o mercado ainda tentava se estabilizar após o choque em março decorrente da pandemia.

Após os leilões, a moeda americana fechou em leve alta de 0,18%, a R$ 5,3820. O turismo está a R$ 5,54.

“Temos uma preocupação muito grande com o teto de gastos e isso pesa no dólar”, diz Gustavo Bertotti, economista da Messem Investimentos.

O IPCA de janeiro, que veio menor que o esperado, também ajudou a estimular compras de dólar, uma vez que contribuía para apostas de que o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) possa não subir os juros no curto prazo.

Dentre emergentes, o real é a segunda moeda que mais se desvaloriza na sessão, atrás apenas do peso colombiano.

Por volta das 17h50, próximo ao fim do pregão, o Ibovespa recua 0,18%, a 119.477 pontos.

O risco-país medido pelo CDS de cinco anos sobe 4% a 156 pontos, após acumular queda de 14% na semana passada.

O CDS funciona como um termômetro informal da confiança dos investidores em relação a economias, especialmente as emergentes. Se o indicador sobe, é um sinal de que os investidores temem o futuro financeiro do país, se ele cai, o recado é o inverso: sinaliza aumento da confiança em relação à capacidade de o país saldar suas dívidas.

Os juros futuros de longo prazo também operam em alta. Juros futuros são taxas de juros esperadas pelo mercado nos próximos meses e anos. São a principal referência para o custo de empréstimos que são liberados atualmente, mas cuja quitação ocorrerá no futuro.

O juro para janeiro de 2028 vai de 7,265% na véspera para 7,350% no momento. A taxa para de janeiro de 2030 vai de 7,65% para 7,77%.

"O maior impacto hoje no mercado diz respeito ao temor fiscal", diz Simone.

"A entrevista do Bolsonaro ontem [segunda], dizendo que vai ter auxilio emergencial em 2021, mesmo ressaltando a preocupação com o fiscal, foi uma mudança na retórica", diz Rodrigo Marcatti, presidente da Veedha Investimentos.

Para Marcatti, a queda na aprovação do presidente, observada em uma pesquisa da XP em parceria com o Ipespe, pode ajudar a uma volta mais rápida do auxílio.

Segundo o levantamento feito com 1.000 pessoas, o grupo de respondentes que consideram o governo Bolsonaro ruim ou péssimo passou de 40% em janeiro para 42% em fevereiro. A margem de erro é de 3,2 pontos percentuais.

Os que veem o governo como bom ou ótimo foram de 32% para 30% . Esse é o quarto levantamento consecutivo em que há aumento na avaliação negativa, que cresce desde outubro, quando atingia 31%.

A alta na reprovação é impulsionada principalmente pelo grupo dos mais pobres (entre os que ganham até dois salários mínimos ela saltou de 39% para 45%) e pelas regiões Norte-Centro-Oeste (32% para 40%) e Nordeste (43% para 48%).

(Com Reuters)

Fonte: Folha de São Paulo