Fonte: Jane Nogara - Vatican News
Na manhã desta terça-feira (30) foi realizada uma coletiva de imprensa para a apresentação do livro “Orientações Pastorais sobre as Pessoas Deslocadas pela Crise Climática” organizada pela Seção Migrantes e Refugiados do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral. A obra tem o prefácio do Papa Francisco. A coletiva contou com a presença do cardeal Michael Czerny S.I, Subsecretário da Seção Migrantes e Refugiados, e do padre Fabio Baggio, C.S. também Subsecretário da mesma seção.
O prefácio do livro escrito pelo Papa Francisco, apresenta a obra como “um guia repleto de fatos, interpretações políticas e propostas relevantes …mas, - continua o Papa - desde logo, sugiro que adaptemos o famoso “ser ou não ser” de Hamlet e afirmemos: ‘Ver ou não ver, eis a questão!’ Tudo começa com a capacidade de ver de cada um, sim, a minha e a vossa”. Francisco destaca a nossa indiferença: “Somos submersos por notícias e imagens de povos inteiros desenraizados devido a cataclismos climáticos e forçados a migrar. Mas o efeito que estas histórias produzem em nós e a nossa resposta (...) dependem da nossa capacidade de ver o sofrimento contido em cada história.
“O fato de as pessoas se deslocarem porque o seu habitat local se tornou inabitável, pode parecer um processo natural, algo inevitável. No entanto, a deterioração climática resulta muito frequentemente de escolhas erradas e atividade destrutiva, egoísmo e negligência que colocam a humanidade em conflito com a criação, a nossa casa comum”. O Pontífice pondera que a pandemia, “nos atingiu sem aviso” enquanto que a crise climática “manifesta-se desde a Revolução Industrial” e não atinge de modo uniforme mas o maior efeito é sentido pelos que menos contribuíram para elas”.
O Papa alerta ainda que “números impressionantes e crescentes de deslocados pela crise climática estão rapidamente a tornar-se uma emergência grave do nosso tempo”. “Forçadas a abandonar campos e zonas costeiras, casas e aldeias, as pessoas fogem às pressas, levando consigo apenas algumas lembranças e tesouros, fragmentos da sua cultura e patrimônio. Partem com a esperança de recomeçar as suas vidas num local seguro. Mas na maioria dos casos acabam em favelas perigosamente sobrepovoadas ou em alojamentos precários, à mercê do destino”.
“As pessoas expulsas dos seus lares pela crise climática necessitam ser acolhidas, protegidas, promovidas e integradas. Elas querem recomeçar. Para criar um novo futuro para os seus filhos, precisam ter condições e ser ajudadas. Acolher, proteger, promover e integrar são verbos que implicam uma ação útil. Retiremos, uma a uma, as barreiras que bloqueiam o caminho dos deslocados, o que os reprime e marginaliza, os impede de trabalhar e ir à escola, tudo o que os torna invisíveis e nega a sua dignidade”.
Francisco recorda que as “Orientações Pastorais sobre as Pessoas Deslocadas pela Crise Climática exigem um novo olhar sobre este drama do nosso tempo”. ‘Não podemos regressar e não podemos começar de novo’. Convidam-nos a tomar consciência da indiferença das sociedades e governos para com esta tragédia. Pedem-nos para ver e cuidar. Convidam a Igreja e outros participantes a agir em conjunto e especificam o modo de o fazer”.
Por fim o Pontífice afirma que “Não vamos superar crises como as alterações climáticas ou a COVID-19 refugiando-nos no individualismo, mas apenas com o esforço de “muitos em conjunto”, através do encontro, do diálogo e da cooperação”. Enche-me assim de grande alegria o fato de estas Orientações Pastorais sobre as Pessoas Deslocadas pela Crise Climática terem sido elaboradas sob a égide do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, juntamente pela Seção Migrantes e Refugiados e pelo Setor de Ecologia Integral. Esta colaboração é, em si mesma, um sinal do caminho a seguir. Ver ou não ver é a questão que nos conduz à resposta numa ação conjunta. Estas páginas mostram-nos o que é preciso e, com a ajuda de Deus, o que fazer”.